Por muito tempo, livros e cursos de economia ensinaram que o dinheiro surgiu para resolver as ineficiências da troca direta de bens, o chamado escambo. Mas o estudo conduzido pelo antropólogo Robert M. Rosenswig, da Universidade de Albany, revela outra realidade.
“O registro histórico mostra que o escambo não precede a criação do dinheiro. As varetas de contagem nos lembram que o dinheiro não é uma mercadoria escassa, mas sim um sistema de contabilidade enraizado na autoridade política“, disse o estudioso.
A pesquisa analisou varetas de contagem usadas em diferentes civilizações que não tinham contato entre si. Na Inglaterra medieval, elas serviam para registrar impostos e chegaram a circular como instrumentos de dívida. Na China, bambus talhados registravam grãos, seda e moedas desde o século III a.C. Já entre os maias, peças de osso do período 600–900 d.C. eram associadas a tributos em milho, tecidos ou trabalho.
“Esses exemplos são poderosos porque vêm de sociedades sem ligação entre si, mas todas desenvolveram ferramentas semelhantes para mobilizar recursos por meio da autoridade estatal“, destacou o pesquisador.
O estudo reforça a chamada teoria chartalista, segundo a qual o dinheiro tem origem política e nasce como unidade de conta para viabilizar impostos e obrigações. Essa visão contrasta com a abordagem ortodoxa da economia, que trata o dinheiro apenas como um meio neutro de troca.
“Governos fiscalmente soberanos gastam primeiro e depois taxam para regular a inflação e a demanda”, afirmou Rosenswig, criticando a ideia de que o Estado deva se limitar a “viver dentro de seus meios”, como uma família.
Na prática, a pesquisa sugere que os governos têm mais liberdade para investir em programas sociais e infraestrutura do que supõe a lógica de austeridade.
“Uma vez que deixamos de lado a noção ortodoxa de que o dinheiro é apenas meio de troca, os governos ficam livres para apoiar trabalhadores e famílias durante crises de nossa economia capitalista moderna”, acrescentou.
Para Rosenswig, a lição principal é que compreender o passado pode transformar debates atuais. Ele acha que estudar o passado nos lembra que o dinheiro não é atemporal ou universal em sua forma, sendo uma ferramenta política, e como escolhemos usá-lo hoje é uma questão de política, não de lei natural.
Fonte: sputniknewsbrasil