Teste: Chevrolet Spark é 1° SUV elétrico acessível de uma marca gigante


Seria o Chevrolet Spark EUV a centelha — com o perdão do trocadilho — que uma grande fabricante precisa para enfim ter um carro elétrico de sucesso no Brasil? Ao observarmos o ranking de vendas do segmento, há amplo domínio de marcas chinesas como BYD e GWM. Então, o novo SUV compacto da GM chegou às lojas em versão única por R$ 159.990 para mudar essa história.

Num primeiro momento, o Spark será importado da China — onde é produzido pela Wuling, uma joint-venture da GM com a Saic, e se chama Baojun Yep. Até o fim deste ano, a Comexport vai iniciar a montagem do SUV compacto em Horizonte (CE), no antigo complexo que pertencia à Ford. Portanto, existe a chance de o primeiro carro elétrico feito no Brasil ser um Chevrolet chinês. Se não pode vencê-los, junte-se a eles!

Contra o BYD Dolphin, seu rival declarado, o Spark aposta no design de “jipinho” e nas proporções de SUV compacto. Num segmento dominado por hatches, o carismático Chevrolet chinês quer entregar algo próximo de um carro maior, por mais que suas proporções sejam recatadas.

Teste: BYD Dolphin Mini, o que é ótimo e o que poderia ser melhor

Assim, o Spark tem 4 metros cravados de comprimento, 1,76 m de largura, 1,73 m de altura e 2,56 m de entre-eixos, sendo 16 cm mais curto que o Onix Hatch (4,16 m), mas tendo um entre-eixos próximo do Tracker (2,57 m). Isso permitiu um dos melhores aproveitamentos de espaço na cabine de um carro lançado este ano.

A sensação de amplitude do Spark não passa somente pela distância entre os eixos, que proporciona espaço adequado até para passageiros com pernas compridas. Sua altura também é generosa — e até ocupantes com mais de 1,85 m viajarão com folga. Mas há uma falha grave, que pode até dificultar as vendas do Spark decolarem no Brasil: ele é feito para quatro pessoas. Ou seja: motorista e três passageiros.

O banco traseiro não tem assento, cinto de segurança e apoio de cabeça na região central. Quem for flagrado com um quinto ocupante no Spark estará cometendo infração gravíssima, resultando em sete pontos na CNH e multa de R$ 293,47. A GM prometeu atualizá-lo para que passe a transportar cinco pessoas, mas não há uma data para que isso ocorra.

Outra característica que desagrada é a abertura do porta-malas. Apesar dos honestos 355 litros de capacidade (e dos diversos porta-objetos disponíveis no compartimento, incluindo um “alçapão” para carregador e kit de reparo dos pneus), a tampa tem dobradiças laterais e abre para a direita. Isso acaba dificultando embarque e desembarque de cargas sempre que o carro estiver estacionado do lado direito da via, além de exigir um espaço maior atrás do veículo na hora de estacionar.

Todavia, há de ser dito que as proporções compactas devem ajudar o Spark neste sentido, pois o SUVzinho cabe com folga em diversas vagas e sobra espaço para a abertura quase completa lá atrás. De qualquer forma, se tornará uma inconveniência para o dono eventualmente.

Por R$ 159.990, você não encontrará um carro com o acabamento tão bom quanto o Spark. Ele tem revestimento emborrachado até nas portas traseiras, combinando couro sintético e plástico. Toda a parte superior do painel traz este mesmo revestimento soft-touch, além de variações nos materiais que lhe conferem um estilo bem incrementado. O console central tem uma parte “flutuante” com apoio de braço e porta-copos.

Vale dizer que a impressão é muito diferente daquela que tivemos há um ano, quando conhecemos a versão da Wuling no Salão de Guangzhou (China).

O desenho do painel, com linhas horizontalizadas e displays digitais, não deixa mentir sua origem chinesa. A central multimídia tem 10,1’’, e, claro, não traz o conhecido sistema MyLink disponível em toda a linha “ocidental” da GM.

A conectividade Android Auto e Apple CarPlay é feita somente por cabo (um deslize difícil de entender em 2025) e câmera 360°. Na tela, é possível configurar diversas funções do carro, como frenagem regenerativa, babás eletrônicas, iluminação, alertas sonoros e outras.

Comandos digitais do ar-condicionado estão sempre à mostra na região inferior da tela, mas a GM (quer dizer, a Wuling) inseriu botões físicos logo abaixo para facilitar o uso. É a união do minimalismo com a praticidade — inclusive, há um inusitado “modo fumante” que puxa mais ar externo e abre levemente os dois vidros dianteiros para dar maior vazão à fumaça.

Completam este pacote o volante multifuncional de três raios e o painel de instrumentos digital de 8,8’’ que traz informações importantes sobre o carro, como o consumo em kW a cada 100 km percorridos e informações do sistema Adas. O Spark é o único carro da Chevrolet no Brasil sem conectividade OnStar, o que também será incorporado nos próximos anos, talvez na linha 2027.

O novo elétrico da Chevrolet é equipado com motor dianteiro síncrono que entrega até 101 cv de potência e 18,4 kgfm de torque. Já a bateria de 42 kWh é do tipo LFP (Lítio Ferro-Fosfato), proporcionando autonomia de 258 km pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). No Dolphin são 291 km.

Nossa primeira experiência ao volante do Spark foi em Brasília, escolhida a dedo por suas estradas bem asfaltadas e, principalmente, planas. Deixei o ponto de partida com o computador de bordo marcando 99% de carga e 256 km de autonomia — resultado próximo aos dados oficiais. Mas antes de elaborar sobre o gerenciamento de carga, vale abordar as outras questões técnicas sobre o pequeno SUV chinês.

Logo nos primeiros metros decidi comprovar algumas características sobre a versão brasileira da Spark. A GM diz que mexeu no sistema de direção para deixá-lo mais sensível e menos anestésico. São características positivas de outros carros da marca, como Onix e Tracker, mas como se sai num veículo chinês?

+ Quer receber as principais notícias do setor automotivo pelo seu WhatsApp? Clique aqui e participe do Canal da Autoesporte.

De fato, o Spark EUV reage bem aos comandos imediatos no volante, como em manobras evasivas. O problema é que, por conta de seu formato encurtado e alto — bem como o vão livre do solo de apenas 14 cm — o SUV tem centro de gravidade elevado, o que faz a carroceria chacoalhar bastante, principalmente no eixo traseiro, que continua “rebolando” após alguns segundos.

A GM ainda adaptou a suspensão, que é do tipo McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, para ficar mais rígida que a do Baojun Yep. Mesmo assim, o Spark transmite as sensações de impacto e das pequenas imperfeições do solo brasiliense à cabine. A rolagem dos pneus nas medidas 205/60 R16 é outro fator a ser revisto, pois é preciso elevar a voz para conversar em velocidades acima de 80 km/h.

Sua entrega de potência e torque é suave e progressiva. Imagine o mesmo comportamento de um carro 1.0 turbo com câmbio CVT. Ao pisar subitamente no pedal do acelerador, o Spark tem o hábito de destracionar os pneus dianteiros antes de arrancar. Segundo a GM, vai de zero a 100 km/h em 11 segundos.

Em retomadas de 80 a 100 km/h, este fôlego imediato surpreendentemente dá o ar da graça. Imaginava que, por conta da baixa autonomia, o SUV tivesse um gerenciamento que “cortasse” o seu desempenho em velocidades mais elevadas para economizar eletricidade — não é o caso. Ele pode acelerar até 150 km/h, informa a fabricante.

Diversos aspectos técnicos do Spark são configuráveis pela central multimídia. É o caso da frenagem regenerativa (que pode ser alta, média ou baixa), dos modos de condução (normal, sport e eco) e das babás eletrônicas. O Spark oferece controle de cruzeiro adaptativo, frenagem de emergência e sistema de correção de permanência em faixa, mas ficou devendo sensores de ponto cego nos retrovisores externos.

Quanto ao gerenciamento de autonomia, após percorrer em torno de 50 km enquanto transitava entre os pontos turísticos de Brasília em vias expressas (situação inapropriada para carros elétricos), o computador de bordo baixou o nível da bateria para 76%. Fazendo a regra de três, a conclusão é de que o número do Inmetro está correto no uso do dia a dia, mesmo em velocidades mais elevadas.

O Spark é compatível com estações de recarga de 6,6 kW em corrente alternada (AC) e até 50 kW em corrente contínua (DC) — e segundo a GM, neste último caso, a recarga de 30% a 80% acontece em apenas 35 minutos. Por mais que seja possível fazer um bate-volta de São Paulo a Campinas, a marca orienta que os proprietários façam uso mais urbano do Spark.

O apelo visual do Spark é indiscutível. Tem o estilo carismático que o público dos carros elétricos curte e, somado a isso, proporções coerentes que combinam praticidade e amplo espaço interno. Quem quiser incrementá-lo ainda mais poderá recorrer a três pacotes de customização, todos disponíveis por R$ 4.990. Eis o que cada um oferece:

A Chevrolet escolheu seis cores para o lançamento do Spark no país, todas repletas de brasilidade (por mais que a concepção seja chinesa): Azul Atlântico, Branco Cupiaçu, Amarelo Canário, Cinza Redentor, Preto Rio Negro e Azul Anil — a primeira é a minha favorita.

Mesmo com suas várias falhas, sendo a mais grave delas o fato de levar somente quatro ocupantes, o Spark tem o que precisa para acender uma fagulha de interesse (ops, outro trocadilho) no público brasileiro. Carismático, prático e bem equipado, traz características de SUV num segmento dominado por hatches.

Não será uma surpresa se o Spark se tornar figura frequente nas ruas brasileiras. A GM tem a intenção de vender 100 unidades por semana, exatamente a mesma capacidade produtiva da linha de montagem em Horizonte (CE). Há potencial para emplacar mais do que isso. Chegou a hora de colocá-lo frente a frente como BYD Dolphin para saber qual modelo elétrico merece uma vaga na sua garagem.

O jogo dos carros elétricos de entrada está para mudar…

Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.

Fonte: direitonews

Anteriores Após demora excessiva, INSS deve revisar tempo de contribuição em 30 dias
Próxima Saiba por que Kim Jong-un levou seu banheiro privativo para usar na China