Criminosos brasileiros com expertise ‘made in’ Ucrânia? ‘Situação temerária’ para segurança nacional


Esse tipo de atividade tem gerado um novo fenômeno e um problema grave de longo prazo para as segurança pública desses países. Trata-se da capacitação de integrantes do crime organizado da América Latina.
Uma matéria divulgada recentemente pelo jornal mexicano Milenio revela que líderes de carteis estão se reunindo com mercenários ucranianos para aprender técnicas militares avançadas e manejo de drones explosivos.
No caso brasileiro, a presença de integrantes de milícias e do narcotráfico também foi identificada por autoridades. O juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira revelou na Conferência Internacional contra o Crime Organizado, realizada no Rio de Janeiro em maio deste ano, que facções brasileiras, como o Comando Vermelho (CV), têm integrantes participando do conflito, com o intuito de obter técnicas de combate.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o analista geopolítico e de conflitos militares Rodolfo Laterza, coautor do livro “Guerra na Ucrânia: análises e perspectivas”, avaliou que o contexto é extremamente ameaçador à segurança nacional no Brasil e exige uma ação institucional séria, algo que está sendo negligenciado pelas autoridades:

“Há bastante negligência dos poderes constituídos em monitorar, rastrear diagnosticar e detectar o processo ilegal de recrutamento de brasileiros para a Ucrânia dentre as quais isso é feito de forma clandestina, subterrânea fora dos canais oficiais diplomáticos no Brasil”, alertou.

Ele destacou que os criminosos adquirem experiências em armamentos avançados, como os drones First Person View (FPV, ou visão em primeira pessoa em tradução livre), equipamento que tem modulado o teatro de operações com modificações doutrinárias, inclusive no uso de blindados e de infantaria.
“Aquisição desse tipo de conhecimento técnico e doutrinário por parte das facções criminosas latino-americanas, dentre as quais as brasileiras, cria um grave risco à segurança nacional a qual os poderes constituídos no Brasil ainda estão negligenciando”.
O analista defendeu ser urgente que os órgãos de inteligência iniciem uma investigação rigorosa de canais de recrutamento ilegal de brasileiros para a Ucrânia e de saída de para aderirem a conflitos armados em terceiros países, seja por meio de informações estatais, paramilitares ou de grupos insurgentes.

“Embora não haja um crime específico de mercenarismo no ordenamento jurídico brasileiro é importante destacar que temos o princípio da extraterritorialidade da lei penal do Brasil, ou seja, um brasileiro que venha a cometer crimes no estrangeiro, pode ter pelo princípio da justiça universal a aplicação inclusive da lei brasileira para esse tipo de crimes.”

Outro ponto, destacou, é o delito de associação criminosa. “Subsiste o crime um eventual crime de associação criminosa a ser investigado e até mesmo por crimes previstos na lei 12.850 de 2013 que é a lei que dispõe sobre a organização criminosa no Brasil”.

Fim do conflito

Outro problema que Laterza apontou é o tráfico de armas de alta letalidade e complexidade que ocorrerá cedo ou tarde com um eventual fim do confronto na Ucrânia através do mercado negro.
“Já temos inúmeros canais clandestinos de tráfico de armas através do fornecimento maciço de sistema de armas equipamentos táticos operacionais diversas tecnologias bélicas para a Ucrânia”, comentou.
Sem campo de batalha, o barateamento das armas pode ter impactos preocupantes na América Latina, com a entrada de lançadores de granada propulsada por foguetes (RPG, na sigla em inglês), sistemas portáteis de defesa aérea (MANPADS), metralhadoras pesadas e fuzis de assalto.
Já há vestígios dessa realidade no Brasil, mesmo sem previsão de término do conflito. A Polícia Militar do Rio de Janeiro apreendeu no mês de junho um equipamento para bloquear os sinais de drones com logotipo das Forças Armadas da Ucrânia na comunidade de Acari, Zona Norte da cidade.

“Onde há o domínio de armas, domínio territorial de organizações criminosas ligadas ao narcotráfico que praticam verdadeiras ações de narcoterrorismo, a situação é temerária. Pode haver grave instabilidade institucional com o emprego de tecnologias bélicas as quais as forças de segurança no Brasil não conhecem ou não estão preparadas para conter […] portanto, exige um esforço institucional muito sério de várias forças de segurança e de inteligência do Brasil para controlar e mitigar essa situação extremamente perigosa”, concluiu o estudioso.

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Fonte: sputniknewsbrasil

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