Teste: GWM Haval H9 é jipão mais barato que os rivais e esbanja tecnologia


“Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha”. A frase do pensador Confúcio deve estar escrita nas paredes da GWM no Brasil. Os passos da marca chinesa podem não ser os mais rápidos, mas demonstram uma solidez na operação raramente vista em marcas novatas.

Desde que foi lançada por aqui há mais de dois anos, a linha Haval tinha apenas um modelo: o H6. E nem mesmo o sucesso do SUV médio híbrido apressou os planos dos chineses. Eis que, agora, um novo passo está sendo dado nessa história. Após o lançamento de sua primeira picape média no Brasil, a Poer P30, um novo Haval chega ao mercado. O nome dele? H9, um modelo grande de sete lugares que já está sendo feito na fábrica de Iracemápolis (SP).

A ambição nas vendas será menor em relação ao H6, mas, nem por isso, o fardo do H9 é mais leve. Afinal, o maior concorrente do jipão com carroceria sobre chassi é o lendário Toyota SW4, que domina o segmento. Para tal missão, a GWM apostou em um preço (muito) competitivo. Disponível em versão única, o Haval H9 está em pré-venda a partir de R$ 309 mil. Mas, a partir do dia 20 de setembro, passa a custar R$ 319 mil.

Para efeito de comparação, o rival da Toyota, por exemplo, é vendido em três versões com preço inicial de R$ 412.190 – na versão com sete lugares. Já o Mitsubishi Pajero Sport tem pedida inicial de R$ 355.990, enquanto o Chevrolet Traiblazer custa R$ 411.690. Portanto, o H9 chega com uma forte ofensiva no mercado. Fora os 10 anos de garantia, mesmo tempo oferecido pela rival japonesa.

No Brasil, o Haval H9 divide o conjunto mecânico com a Poer P30. Ou seja, o motor 2.4 turbodiesel de 184 cv de potência e 48,9 kgfm de torque, aliado ao câmbio automático de 9 marchas e tração 4×4 com bloqueio dos diferenciais central e traseiro. Ou seja, é menos potente que os principais oponentes. Até então, o modelo com a menor cavalaria era o Pajero Sport com 190 cv.

Mesmo assim, a decisão parece acertada, principalmente em um segmento mais conservador que o do híbrido H6. Não é apenas na mecânica e na plataforma que os dois SUVs são distintos. O visual da dupla é tão parecido quanto um pastel se assemelha a um bolinho de chuva. Não é exagero dizer que o Tank 300 guarda mais semelhanças com o H9 do que o H6. Isso se deve às linhas mais quadradas, bem típicas de jipões clássicos.

Os faróis arredondados também estão ali, envoltos por uma moldura quadrada e separados por uma gigantesca grade cromada. O capô elevado tem vincos bem demarcados. Na lateral e na traseira, a inspiração parece ter sido o novo Defender, principalmente nas lanternas divididas em dois retângulos. Algo interessante é o estribo retrátil, que auxilia no acesso da cabine.

Na cabine, as similaridades com o Tank 300 continuam, com um estilo que, curiosamente, mescla o rústico com a modernidade. Por um lado, o H9 traz duas grandes telas para quadro de instrumentos (10 polegadas) e central multimídia (14,6 polegadas) com conexões sem fio para Android Auto e Apple CarPlay. Por outro, para os fãs de botões, como eu, há vários, para comandar ventilação e modos de condução.

Chega a ser curioso o nível de tecnologia em um carro com proposta voltada para o desempenho fora de estrada. Mesmo se o condutor quiser dirigir o H9 na lama, vai desfrutar de itens de conforto como carregador de celular por indução, teto solar panorâmico, ajustes elétricos nos bancos do motorista e passageiro, além de um ar-condicionado de três zonas.

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O acabamento não é primoroso, com plástico duro nas portas e em parte do painel, com pontos específicos de tecido sensível ao toque. No entanto, os bancos, dotados de aquecimento, são bastante confortáveis, deixando a desejar apenas nos apoios laterais menos proeminentes, o que faz com que as costas fiquem soltas.

Não por menos, o SUV grande da Haval também vem equipado com o pacote Adas nível 2 com sistemas de assistência ao motorista. A lista inclui frenagem autônoma de emergência, monitoramento de ponto cego e controle de velocidade adaptativo. Além disso, são seis airbags de série, incluindo os de cortina.

Em relação ao tamanho, o Haval H9 de sete lugares tem 4,95 metros de comprimento, 1,98 m de largura, 1,93 m de altura e 2,85 m de entre-eixos. Tamanho que proporciona um espaço generoso na cabine. Para se ter uma ideia, o SUV é 16 centímetros mais comprido que o SW4, além de ter um entre-eixos 11 cm maior.

Os bancos da segunda fileira, importante dizer, são corrediços. O mecanismo facilita o acesso à terceira fila de assentos, bem como ajuda a ter uma comodidade maior para as pernas. Portanto, mesmo pessoas mais altas — com mais de 1,80 m — vão conseguir sentar de forma confortável. Quem vai atrás, inclusive, aproveita itens de conforto como o ar-condicionado com ajuste de temperatura, porta-objetos e portas USB do tipo A e C.

Também observei que o espaço da terceira fileira é, surpreendentemente, agradável. Isso, claro, pensando que por si só já será um pouco mais apertado na disposição. Com os meus (modestos) 1,60 m de altura, consegui me acomodar no último assento, mas achei que o encosto mais reto deixa a posição da coluna ruim, muito esticada.

Importante dizer que esses dois últimos bancos são posicionados sobre o eixo traseiro, o que faz o assoalho ser mais elevado. Portanto, os joelhos não ficam em uma posição tão confortável. Mas, ainda sim, adultos conseguem se acomodar, mesmo sendo mais ideal para crianças. Ponto positivo é que quem viaja lá no fundo não sofre com calor, já que tem saídas de ar.

Espaço, inclusive, é o que não falta no SUV. Achei a disposição dos porta-objetos generosas, com bastante possibilidade de levar as “tralhas” do dia a dia. Na traseira, o compartimento que parece acomodar um pneu é, na verdade, um espaço para carregar objetos com capacidade para até 10 kg. Mas, calma! Existe sim um estepe acoplado na parte de baixo do veículo.

E por falar em bagagens e espaço, de acordo com a marca, sem a última fileira de bancos, o Haval H9 oferece 791 litros no porta-malas, sendo 88 l com os sete assentos montados. Importante dizer que a GWM não divulgou a litragem no padrão VDA, que é o mais tradicional, portanto, os números não são exatos. Para efeito de comparação, no Toyota SW4, são 500 litros e 180 litros, respectivamente, no VDA.

Autoesporte teve a oportunidade de testar o GWM Haval H9 em duas ocasiões. A primeira foi durante uma visita a Xangai (China), dirigindo o modelo em um estacionamento. A segunda foi mais recente, no evento de lançamento do SUV grande em São Francisco de Paula (RS), e com condições levemente melhores. O trajeto foi curto, de cerca de 7 km ao redor do Hotel Divisa Resort a uma velocidade média de 50 km/h. Portanto, as impressões são bastante iniciais.

Durante a condução em uma estrada de terra, notei que é possível sentir o peso de 2.525 kg do SUV na direção. Esse também é um dos motivos para o leve atraso que senti na arrancada, apesar de não haver “sobra” do motor. Mas, até aí, não é nada muito diferente do que acontece com SW4, Trailblazer e Pajero Sport, por exemplo.

Uma questão curiosa é de que o 0 a 100 km/h do H9 é mais lento que o da Poer P30. Enquanto o SUV leva 13 segundos para fazer o trajeto, a picape média faz em 11,2 s. Em contrapartida, o “delay” é compensado pela força, já que 50% do torque é entregue a 1.000 rpm.

Na prática, significa que o H9 não passa sufoco na hora de enfrentar obstáculos, mesmo com o carro carregado. Essa vocação se prova ainda mais com o sistema 4×4 ligado e com o modo de condução “lama” ativado — ao todo são três para o off-road, contando também areia e neve. E foi exatamente essa a sensação durante o trajeto cheio de pedras, buracos e lama. O ângulo de ataque, é de 31° (no SW4 são 29°), fazendo com que o carro supere barreiras mais verticais. Fora isso, tem capacidade para imersão até 800 mm.

De fato, gostaria de uma direção mais firme. No entanto, o que realmente incomodou foi o sistema de freio que, apesar de ser a disco nas quatro rodas, sofre do mesmo “mal” do H6: pedal borrachudo e com impressão de que o motorista precisa de mais força para conseguir parar o mamute de mais de duas toneladas e meia.

Quando o assunto é suspensão, mesmo sendo um grandalhão, o H9 mostrou estabilidade e conforto. O conjunto com braços sobrepostos na dianteira e Multilink na traseira amortece bem os impactos, que não foram poucos. Já a câmera 360° ajudou bastante com a função de ver o solo abaixo da carroceria, o que me permitiu ver as condições por onde o carro passava.

Em relação ao consumo, segundo a GWM, o Haval H9 faz médias de 9,1 km/l na cidade e 10,4 km/l na estrada. Dessa forma, fica na média dos principais rivais. O próprio SW4, nos dados do Inmetro, tem registrado 9,3 km/l e 10,5 km/l, respectivamente. Ainda sim, será necessário testar melhor o SUV grande para dar visões mais completas sobre câmbio e entender como ele trabalha na vida real.

Apesar de muitos brasileiros ainda torcerem o nariz para carros chineses, o GWM Haval H9 veio bem ajustado para um segmento “conservador”, sendo maior que seus concorrentes e bem equipado para uma etiqueta ameaçadora de R$ 319 mil. A questão são seus rivais, que já têm trajetórias firmadas no mercado e entregam melhor desempenho.

Fato é que, aos poucos, a marca chinesa vai construindo pedra por pedra da sua história no Brasil, ainda mais em sua fábrica de Iracemápolis (SP), onde o H9 já está sendo produzido ao lado do H6 e da picape Poer P30. Agora, é esperar para ver a aceitação do consumidor exigente. Para a GWM, o lema é devagar e sempre.

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Fonte: direitonews

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