Teste: GWM Poer P30 tem o que precisa para brigar com a líder Toyota Hilux?


No Brasil, a categoria de picapes médias é praticamente “sagrada”. Isso no sentido de que o consumidor desse tipo de veículo opta, quase sempre, pela tradição. O fim das caminhonetes deste porte com motor flex é prova disso. A escolha da marca também costuma ser pautada pelos costumes. Não por menos, as principais peças do jogo são Toyota Hilux, Ford Ranger e Chevrolet S10, que ocupam o topo das vendas com muita história para contar. Mas, agora, a GWM lança um peão para chamar de seu no segmento: a Poer P30.

E ela não veio à toa. Inicialmente, a caminhonete seria vendida por aqui com um sistema híbrido plug-in, que chegamos a conhecer e testar na China. No entanto, observando o mercado, a GWM resolveu mudar de estratégia e trouxe a configuração turbodiesel, com o objetivo único de agradar aos brasileiros. Ou seja, foi na contramão da BYD Shark, lançada eletrificada em outubro do ano passado e que enfrenta dificuldades até hoje para subir nos emplacamentos.

O lançamento da picape média chinesa no Brasil passou por diversos atrasos. A demora, contudo, não impediu a Poer P30 de estrear com preços competitivos. Disponível em duas configurações, a picape parte de um valor arrebatador de R$ 220 mil na pré-venda. Mas, a partir do dia 20 de setembro, cada configuração terá um aumento de R$ 20 mil. Confira a tabela:

É uma cifra competitiva, com certeza, já que a coloca em uma faixa parecida com a da Fiat Toro Ranch, uma picape intermediária que custa R$ 230.890. Como consequência, também se torna a picape média automática mais barata entre as rivais em suas versões equivalentes.

Considerando as opções com cabine dupla e câmbio automático, Hilux (R$ 288.990), Ranger (R$ 281.900) e S10 (R$ 282.790) não chegam nem perto do valor pedido pela GWM. Essas, porém, tem opções com câmbio manual e cabine simples no portfólio, barateando os custos. A marca chinesa, em resposta, diz que vai lançar uma opção mais básica e voltada para frotas, mas só em 2026.

Com essa tabela de preços, a Poer P30 pode despertar olhares, ainda mais se considerarmos a garantia de 10 anos – nesse ponto, a única que briga de forma direta é a Toyota. Mas, para entender o que a caminhonete oferece, fomos até São Francisco de Paula, no interior do Rio Grande do Sul, para conhecê-la em detalhes.

Junto com outro lançamento da GWM, o SUV de 7 lugares Haval H9, a Poer P30 é o primeiro modelo da marca sem qualquer tipo de eletrificação no Brasil. A picape, inclusive, segue receita típica do segmento das médias e adota plataforma com carroceria sobre chassi de longarina. Portanto, o sistema de tração 4×4 é convencional, com direito a eixo cardã e diferencial traseiro blocante.

O conjunto híbrido plug-in de 408 cv de potência, como falamos, saiu de cena para a adoção do 2.4 turbodiesel de 184 cv de potência e 48,9 kgfm de torque, aliado ao câmbio automático de nove marchas da ZF. E é aqui que o comprador pode torcer um pouco o nariz, afinal, a Poer P30 é menos potente que as principais oponentes, todas com mais de 200 cv. A com menor cavalaria até então era da líder de vendas Hilux, com 204 cv. Mas, vamos falar de desempenho mais à frente.

Em relação ao consumo, a Poer P30 faz 9,5 km/l na cidade e 10,6 km/l na estrada, de acordo com os dados do Inmetro. Dessa forma, fica na média das rivais.

Antes do desempenho, é importante entendermos como é a picape chinesa que está tendo a audácia de encarar um segmento tão tradicional. Isso porque, para vir ao Brasil, a Poer P30 passou por mudanças em relação ao modelo vendido na China. A grade é um pouco menor e tem detalhes que mudam de acordo com a versão, sendo que na topo de linha, Exclusive, prevalece o acabamento cromado.

No logo central, há uma câmera que faz parte do sistema de câmeras 360° da caminhonete, um item que falta na maior parte de suas rivais, sendo oferecido apenas na Fiat Titano a partir da linha 2026. Além disso, é equipada com faróis e lanternas de LED, bem como rodas de 19 polegadas (na versão básica são de 18”) e estribo para ajudar no acesso da cabine.

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No tamanho, a GWM Poer P30 tem 5,41 metros de comprimento, 1,95 m de altura, 1,88 m de largura e 3,23 m de entre-eixos. Como comparação, a Hilux, que é líder do segmento, é 9 cm menos comprida e tem entre-eixos 15 cm menor. Portanto, a chinesa chega como uma boa opção para quem busca por espaço.

Durante minha curta experiência com a caminhonete no evento, notei que os passageiros da segunda fileira vão conseguir se acomodar bem. Sei que meus 1,60 m de altura não são o padrão, mas mesmo pessoas mais altas (de 1,80 m para mais) vão viajar bem posicionadas. Claro que estamos falando de uma picape média, então o espaço para pernas e cabeça vai ser mais curto em relação aos carros de passeio, mas ainda sim é um destaque frente às rivais.

De todo modo, a Poer P30 também oferece portas USB do tipo A (aquelas mais tradicionais) para quem viaja atrás e as tão aclamadas saídas de ar. Porém, o que realmente me chamou atenção foram os assentos basculantes, que permitem carregar mais objetos e bagagens na cabine.

E por falar em espaço e bagagem, você deve estar curioso para saber sobre a caçamba da picape média, que vem para o jogo com bons números. A Poer P30 tem uma capacidade de carga de 1.010 kg, segundo a marca. Ou seja, supera por pouco a Hilux com seus 1.000 kg e fica atrás de S10 (1.044 kg) e Ranger (1.023 kg).

De acordo com a marca, a própria tampa da caçamba, que tem amortecedor e facilita na hora de abrir e fechar, aguenta 150 kg. Já em relação ao volume, são 1.248 litros, ficando atrás apenas da Ranger com 1.250 litros. No entanto, não vem de série com capota marítima, apenas com uma preparação, além do revestimento de plástico e ganchos para ajudar na hora da amarração. De todo modo, itens off-road, como o rack de teto, fazem parte da lista de equipamentos.

Porém, é na cabine que a GWM Poer P30 dá as cartas. A caminhonete é muito bem equipada para o segmento, com uma central multimídia flutuante de 14,6” e conexão para Android Auto e Apple CarPlay sem fio, além do painel de instrumentos digital. Um detalhe que me agradou foi a marca ter optado por deixar os comandos físicos do ar-condicionado de duas zonas, portanto, é muito fácil o acesso do condutor.

A picape também oferece carregador de celular por indução, portas USB do tipo A e C e freio de estacionamento eletrônico, item que só a Ranger oferece no segmento. No painel, ao redor da manopla de câmbio, há botões de ajuste de tração – sendo 4×2, 4×4 ou 4×4 com reduzida – além do seletor para bloquear o diferencial traseiro.

Na versão topo de linha, Exclusive, a GWM Poer P30 oferece pacote ADAS nível 2. Portanto, traz recursos de assistência ao motorista como frenagem automática de emergência, controle de velocidade adaptativo, assistente de permanência em faixa, entre outros. Então, a lista de equipamentos é o grande trunfo da picape no mercado.

Porém, nem tudo são flores. Uma grande penalidade da Poer P30 é que a versão de entrada, chamada Trail, oferece apenas quatro airbags, uma quantidade inferior em relação às concorrentes, que tem de seis para cima. Seis, inclusive, é o número de bolsas de ar presentes na versão mais cara do modelo chinês e, por questões de segurança, deveria também servir para a configuração mais básica.

Quando o assunto é acabamento, confesso que a presença de plástico rígido incomoda. Mas, há também tecidos sensíveis ao toque nas portas e painel com um tom de marrom elegante, bem como uma espécie de aço escovado que dá um toque especial. Os bancos, tanto do motorista quanto do passageiro, tem ajustes elétricos, sendo que o do condutor tem até memória. Contudo, apesar de serem confortáveis, achei que falta apoio lateral.

Importante dizer que a picape oferece ajuste de altura e profundidade do volante, tendo como ponto positivo o fato da coluna de direção não despencar no ato da operação. Por conta desse recurso, a ergonomia é um ponto positivo, mas senti falta de um ajuste de altura no cinto de segurança. Parece simples, mas é algo que ajuda bastante na hora de se ajeitar para dirigir.

Chegou o momento de contar minhas primeiras impressões. Devo dizer que dirigi a caminhonete por um curto trajeto de terra, de mais ou menos 5 km ao redor do Hotel Divisa Resort a uma velocidade média de 50 km/h. Nesse percurso, os 20 cv a menos não causaram incomodo ou uma sensação de falta de desempenho. No entanto, provavelmente farão diferença com a caçamba de 1.248 litros carregada.

Com ela vazia, a aceleração de 0 a 100 km/h é cumprida em 11,2 segundos, nos dados da marca. A marca é quase dois segundos mais lenta que a rival, Chevrolet S10 (0 a 100 km/h em 9,4 s). Mesmo assim, o câmbio parece compensar a potência mais baixa com trocas ágeis. Mas, é com o 4×4 acionado que realmente se sente a força da picape, que não teve dificuldade de subir as estradas de terra no meio do caminho.

A bordo da Poer P30, tive a impressão de que ela vai cumprir bem sua proposta para o trabalho. Ainda mais porque, assim como na motorização, o tópico suspensão também foi ajustado para o Brasil. Os planos iniciais eram de oferecer a caminhonete com suspensão traseira de eixo rígido com molas helicoidais, mas a marca (felizmente) mudou de ideia.

Por aqui, ela é equipada com eixo rígido e feixe de molas, um sistema mais simples, com manutenção mais barata e que é o “queridinho” das picapes médias no mercado. Afinal, é o ideal para carregar peso. Portanto, foi uma boa decisão da GWM, já que condiz mais com a vocação para o trabalho, atendendo o público alvo da categoria.

Em contrapartida, esse sistema deixa em um segundo plano o conforto na cabine. A picape balança bastante e, apesar de obstáculos como buracos, lama e água não serem problema para o modelo, quem vai na cabine precisa estar preparado, ainda mais na segunda fileira onde o impacto aumenta.

Fato é que a GWM Poer P30 prioriza o torque. Segundo a fabricante, 50% da força é entregue a 1.000 rpm, favorecendo as rotações mais baixas e ajudando no arranque. A totalidade chega a 1.500 rpm. Na prática, e ao contrário das expectativas iniciais, não senti uma direção molenga, passando mais segurança. Porém, a impressão inicial é de que, apesar de ter freios a disco nas quatro rodas, o curso do pedal é alongado demais, sendo necessário pisar com mais força para ter confiança na frenagem.

À primeira vista, a Poer P30 tem o típico perfil de picape média, priorizando a força para carregar peso. Além disso, tem capacidade de travessia de até 500 mm, bem como uma distância em relação ao solo de 22,7 centímetros, consideravelmente abaixo da Hilux que tem 28,6 cm.

Importante reforçar que será necessário testar o modelo por mais tempo, e em outros tipo de condição, para passar melhores impressões sobre motor e câmbio.

Dito tudo isso, é certo que a GWM soube posicionar sua primeira picape média a diesel no país, que até já está sendo feita na fábrica de Iracemápolis (SP). Apesar disso, a fabricante diz que as primeiras unidades serão importadas.

Em resumo, a Poer P30 chega com preços competitivos e itens de tecnologia dos quais o segmento carece. Em contrapartida, vai precisar provar seu valor com um motor menos potente frente às rivais já estabelecidas no mercado, que também carregam o peso da tradição. Mesmo assim, pode agradar quem busca por uma caminhonete nova que, além de carregar peso, oferece conforto e tecnologia. Resta saber como a marca chinesa vai movimentar as peças para conseguir uma chance com o consumidor brasileiro.

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Fonte: direitonews

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