Se a Toyota tem o respeito dos brasileiros, com a fama de fazer carros de confiança e que não quebram, tudo começou por causa do Bandeirante, um dos veículos mais importantes da história da indústria automotiva nacional. Autoesporte dirigiu — com exclusividade — a última das 104.621 unidades do modelo produzido em São Bernardo do Campo (SP), entre 12 de novembro de 1962 e 28 de novembro de 2001. A história do jipão começa antes, em 1951, ainda com o nome BJ.
Para provar a resistência desse veículo com projeto de caminhão, o piloto de testes da Toyota, Ichiro Taira, dirigiu um protótipo até a sexta estação do Monte Fuji, no Japão, a mais de 2,5 mil metros de altitude. Foi o primeiro veículo do mundo a atingir essa altura. O teste foi supervisionado pela Agência Nacional de Polícia (NPA) do Japão.
Impressionada com o feito, a NPA fez um pedido de 289 BJ para a patrulha oficial do Exército japonês. Até 1953 o jipe foi exclusivamente de uso militar. A partir de então, entrou em fabricação para uso civil com o nome de Land Cruiser.
No Brasil, o modelo chegou em 1955, mas não pelas mãos da Toyota, e sim por meio da Sociedade Comercial Arpagral Ltda., que tinha um galpão no bairro do Ipiranga, na capital paulista. A empresa importava o chassi do Land Cruiser para montá-lo com motores diesel da Mercedes-Benz. A demanda pelo jipão começou a crescer e a Toyota só entrou em cena a partir de janeiro de 1958, quando abriu seu primeiro escritório, no centro da cidade de São Paulo.
Em dezembro daquele mesmo ano, a fabricante inaugurou sua primeira linha de montagem, também no bairro do Ipiranga, para fazer o Land Cruiser no regime CKD (Completely Knock-Down), que é quando o veículo vem importa- do todo desmontado em caixas e é montado aqui. Essa foi a primeira vez na história que um modelo da Toyota foi produzido fora do Japão — apenas 21 anos depois da fundação da empresa, em 1937.
Em 1961 a Toyota comprou o terreno em São Bernardo do Campo para construir a fábrica e, a partir de 1962, quando ficou pronta, o jipão começou a ser produzido de fato no Brasil. Então, o nome foi alte- rado de Land Cruiser para Bandeirante.
A Toyota não revela o motivo da troca de no- me, mas a principal teoria é de que teria sido uma homenagem aos bandeirantes, desbravadores do interior do Brasil nos séculos 15 e 16, já que o Bandeirante era um veículo capaz de enfrentar qual- quer terreno. E foi isso que aconteceu.
O Bandeirante chegou e logo começou a fazer parte da vida dos trabalhadores em todos os cantos do país. Ao longo das décadas, o Bandei- rante teve diversas carrocerias: capota de aço e chassi curto, capota de lona e chassi curto, chassi médio, chassi longo, picape com chassi curto, picape com chassi longo, picape com cabine dupla e caçamba curta, picape com cabine dupla e caçamba longa e tantas outras configurações. Até a década de 1990, o Bandeirante só usou motores de quatro cilindros a diesel da Mercedes-Benz (da família OM) derivado dos caminhões.
O primeiro motivo para essa opção da Toyota foi a robustez desses motores; e o segundo, porque naquele tempo a Mercedes dominava a venda de caminhões no Brasil, ou seja, deixava o mercado de reposição de peças bem servido, o que facilitava a manutenção. De 1962 a 1973, o Bandeirante usou o motor OM-324, um 3.4 de 78 cv e 17,5 kgfm.
Em 1973, ele foi substituído pelo OM-314, um 3.8 de 85 cv e 24 kgfm. De 1990 a 1994 foi a vez do OM-364, um 4.0 de 90cv e 27 kgfm. Nesse período, teve sempre câmbio manual de quatro ou cinco marchas e tração 4×2 ou 4×4, dependendo da configuração. Foi somente a partir de 1994 que o Bandeirante passou a ter um motor da Toyota: o 14B, que equipa essa icônica última unidade produzida.
O 3.7 de quatro cilindros a diesel tem 96 cv, 24,4 kgfm, câmbio manual de cinco marchas e tração 4×4 com reduzida. Esse último Bandeirante é da versão com chassi curto (3,93 m de comprimento) e está guardado como item de museu na fábrica de Sorocaba (SP). Tem só 50 km rodados no hodômetro — pelo menos tinha até Autoesporte o dirigir.
Com carroceria na cor Azul Pacém, o jipão é cheio de acessórios, como bancos de couro preto, gancho para reboque com cabo de aço de 40 m, quebra-mato, snorkel, farol de neblina, eixo traseiro flutuante, rodas esportivas, ar-condicionado, ar quente, tacômetro, relógio e rádio AM/FM digital.
O banco dianteiro inteiriço deixa o motorista com o corpo em uma posição mais vertical, bem diferente dos carros atuais, mais semelhante a uma cabine de caminhão. Ao ligar o jipão, essa sensação é ainda maior com a vibração do motor na cabine e o cheiro de diesel no ar. Foram poucas voltas na pista de testes da Toyota, mas deu para sentir a essência do Bandeirante. Um veículo valente, com muito torque já em baixa rotação e engates precisos de marchas.
O asfalto liso faz o Bandeirante parecer um estranho no ninho, já que esse é o terreno menos desafiador para o jipão que se tornou referência de valentia e durabilidade de norte a sul do Brasil. O veículo que provou sua força subindo o Monte Fuji ganhou o respeito dos brasileiros: o Bandeirante passou a ser um ícone da indústria. Mesmo fora de linha há mais de 20 anos, ainda é um fiel companheiro dos trabalhadores brasileiros.
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Fonte: direitonews