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Atualmente, mais de três bilhões de pessoas em todo o mundo participam ativamente do universo dos videogames. O que começou como uma forma de entretenimento ocasional se transformou em uma prática cultural global, impulsionada pela expansão de dispositivos móveis, consoles e ambientes digitais imersivos. No entanto, junto com esse crescimento surgem efeitos secundários que hoje recebem atenção científica e médica. Um deles é o chamado “síndrome gamer”, um conjunto de manifestações físicas e psicológicas associadas ao uso prolongado de telas e à imersão constante em mundos virtuais.
Embora ainda não figure como entidade diagnóstica em manuais clínicos como o DSM-5 ou a Classificação Internacional de Doenças (CIE-11), o fenômeno tem captado o interesse de pesquisadores por seu impacto, especialmente em adolescentes e adultos jovens, os grupos mais ativos no consumo de videogames.
Fenômeno de Transferência de Jogo (GTP)
Um dos componentes mais estudados da síndrome gamer é o Game Transfer Phenomena (GTP). Investigado desde 2010 pela psicóloga Angélica B. Ortiz de Gortari, da Universidade de Bergen, o GTP descreve a aparição involuntária de percepções, pensamentos ou condutas na vida cotidiana que se relacionam diretamente com experiências de jogo.
Ortiz de Gortari compilou mais de 3.500 depoimentos de jogadores de diferentes países. Entre os casos documentados, figuram jogadores que imaginam barras de energia sobre pessoas reais, percebem sons típicos do jogo enquanto caminham pela rua ou executam movimentos automáticos inspirados na lógica dos videogames.
Um estudo publicado no International Journal of Human-Computer Interaction revelou que 96,6% dos jogadores pesquisados experimentaram alguma forma de GTP. A pesquisadora esclarece que esses episódios não são alucinações nem sinais de psicose, mas respostas cognitivas relacionadas à memória episódica, à repetição de rotinas visuais ou auditivas e à carga emocional que implica jogar.
Síndrome Visual Digital: O Impacto Físico
O outro componente da síndrome gamer é seu impacto físico. A fadiga visual digital, também conhecida como síndrome visual do computador, é reconhecida pela American Optometric Association (AOA) como um quadro associado à exposição prolongada a dispositivos eletrônicos sem pausas suficientes.
Os sintomas frequentes incluem visão embaçada, irritação ocular, secura, fotofobia, dores de cabeça, dificuldade para focar e tensão no pescoço e ombros. Esses efeitos respondem a vários fatores combinados: a exposição constante à luz azul de alta intensidade, que pode alterar os ritmos circadianos; a redução da frequência do piscar, que diminui a lubrificação ocular; as posturas fixas e inadequadas, que geram tensão muscular; e a fixação prolongada em distâncias curtas sem alternar o foco visual.
O Barómetro da Miopia na Espanha 2023, elaborado pela Fundação Alain Afflelou e pela Universidade Complutense de Madrid, aponta um aumento de 17,8% na miopia infantil em seis anos. Uma em cada cinco crianças em idade escolar já apresenta essa condição, atribuída em parte ao uso excessivo de telas e à limitada exposição à luz natural.
Pesquisadores da Universidade de Navarra demonstraram que menores que passam mais tempo ao ar livre têm menor risco de desenvolver miopia progressiva. Essa relação se reforça com estudos realizados na Ásia e na Europa, onde a miopia se tornou um desafio de saúde visual infantil.
Hábitos Saudáveis: Chaves para a Prevenção
Diante do avanço da síndrome gamer e seus efeitos comprovados, especialistas recomendam estratégias básicas para mitigar os riscos. Uma das mais difundidas é a regra 20-20-20, promovida pela American Optometric Association: a cada 20 minutos em frente a uma tela, olhar um objeto situado a cerca de seis metros de distância durante 20 segundos. Essa prática ajuda a relaxar os músculos ciliares responsáveis pelo foco ocular.
Outras pautas preventivas incluem:
- Ajustar o brilho e o contraste das telas de acordo com a luz do ambiente.
- Manter entre 50 e 70 centímetros de distância entre os olhos e o monitor.
- Evitar que a tela seja a única fonte de luz no ambiente.
- Usar filtros de luz azul ou lentes especiais para bloquear sua emissão.
- Aumentar o tamanho da tipografia para reduzir o esforço ocular.
- Alternar as horas em frente a dispositivos com pausas ativas ou caminhadas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselha limitar o tempo de tela recreativa em menores a um máximo de duas horas diárias e fomentar atividades físicas ao ar livre como parte da rotina cotidiana. Essas medidas não só protegem a visão, mas também previnem o sedentarismo e favorecem o desenvolvimento psicomotor.
Fonte: gazetabrasil