‘Paz duradoura’: Moscou toma seu tempo na negociação porque quer mais do que uma pausa, diz analista


A primeira etapa das negociações entre as delegações da Rússia e da Ucrânia em Istambul, na Turquia, foi concluída nesta sexta-feira (16). Em declaração a jornalistas, o chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, afirmou que o lado russo está satisfeito com os resultados e pronto para continuar o contato.
Delegação russa em conversas com a Ucrânia em Istambul - Sputnik Brasil, 1920, 16.05.2025

Entre os acordos alcançados neste primeiro encontro depois de três anos, está uma grande troca de prisioneiros entre Moscou e Kiev: mil por mil. A Ucrânia também solicitou uma reunião entre chefes de Estado e a Rússia levará isso em consideração.
Também está em avaliação uma preparação detalhada das visões de ambas as partes sobre um eventual cessar-fogo, dentro de uma perspectiva de continuidade das conversas.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o analista internacional Raphael Machado considerou a reunião positiva, ao “colocar o lado russo e o lado ucraniano no mesmo lugar para dialogar”. “Na medida em que se tem um conflito em andamento, que no caso é a operação militar especial, todo diálogo é sempre bem-vindo.”

“Até então, quem estava representando os maiores empecilhos para que houvesse um diálogo era a parte ucraniana, que estava sempre trazendo uma série de exigências até mesmo para poder sentar-se com a contraparte russa.”

Machado aponta que a reunião demonstrou ao mundo que “a Rússia está interessada no diálogo pela paz” e que, agora, a grande tarefa dos negociadores russos vai ser quebrar a resistência dos negociadores ucranianos, sobretudo no que concerne às repúblicas que foram integradas à Federação da Rússia através de um plebiscito em 2022: Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhie. “Esse é um ponto fundamental”, avalia.
Dessa forma, o que resta agora é aguardar para ver o que vai de fato se concretizar dessa reunião. O especialista lembra que, contudo, conforme o tempo passa, a situação para a Ucrânia “vai ficando cada vez mais difícil”.

“Porque dia após dia a Rússia vai libertando novas cidades, e, portanto, a margem de negociação vai ficando menos vantajosa para a Ucrânia.”

A situação de Kiev é tão crítica, detalha Machado, que em breve, se não houver um cessar-fogo ou um tratado de paz, “possivelmente vamos ver a libertação completa de Donbass“.
Nesse contexto, o especialista afirma a perspectiva otimista de que o ucraniano Vladimir Zelensky e as elites ucranianas compreendam a insustentabilidade da sua posição e que o mais vantajoso e razoável seria chegar a um entendimento com a Rússia para que se possa dar fim ao conflito.
Na outra ponta, porém, observou-se até aqui uma “forte intransigência” por parte da liderança em Bankovaya.

“Eu, inclusive, creio que a Ucrânia só se dispôs a negociar mesmo por pressão dos EUA, porque ela teme que Donald Trump corte 100% do apoio.”

Essa inflexibilidade pode ser resultado, inclusive, de tentativas de sabotagem das negociações, por baixo dos panos, afirma Machado, lembrando que os alemães falam de enviar mísseis Taurus para a Ucrânia mesmo com poucos em seu estoque.
Esta não seria a primeira vez que conversas de paz estariam passíveis de sabotagem por parte do Ocidente. Na mesma cidade de Istambul ocorreram rodadas de negociações, em 2022, que quase encerraram o conflito poucos dias após seu início.
Presidente da Rússia, Vladimir Putin discursa na sessão plenária da 21ª Reunião Anual do Clube Valdai de Discussões Internacionais, em 7 de novembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 12.05.2025

As tratativas, no entanto, foram boicotadas pelos líderes euro-atlânticos, em especial o então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que foi à Ucrânia para convencer Zelensky a desistir das negociações e lutar até o último ucraniano.
Na avaliação de Machado, no entanto, a expectativa é que o lado ucraniano ouça a “voz da razão” e “venha com propostas razoáveis para que se possa dar fim ao conflito”. Já do lado russo, ele afirma que obviamente existe o interesse em encerrar a operação militar especial. “Mas não existe pressa.”
“Há o interesse de que se possa encerrar um conflito que é, para todos os efeitos, dentro do próprio mundo russo, porque, como sabemos, os russos, ucranianos e os belarussos são povos irmãos.”

“Mas não existe pressa porque um acordo de paz feito na pressa, a qualquer custo, acaba sendo apenas uma pausa, um interlúdio para um possível novo conflito. Os russos estão interessados em uma paz que seja duradoura.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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