‘A política precisa mudar o debate’: Lula vê com otimismo negociação de paz entre Putin e Zelensky


Da homenagem ao ex-presidente uruguaio Pepe Mujica à defesa de um novo eixo global liderado pelo Sul Global, Lula reiterou seu compromisso com o multilateralismo e a paz — ao mesmo tempo em que ampliou os laços estratégicos com a potência asiática.
O presidente brasileiro abriu sua fala com um tributo emocionado a Pepe Mujica, que descreveu como um “exemplo de ser humano com dignidade, respeito, solidariedade e coragem”. Ao recordar seu último encontro com Mujica no Uruguai, Lula reconheceu que já pressentia estar diante de uma despedida final: “Ele mesmo dizia que estava no fim”. Para Lula, a grandeza do ex-presidente uruguaio está na sua transparência, coragem diante da morte e, sobretudo, na coerência com que viveu e governou.
O otimismo também marcou o discurso sobre a resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia. Lula revelou ter mantido contato direto com Vladimir Putin e destacou os esforços conjuntos do Brasil e China para criar um grupo de países dispostos a intermediar o diálogo entre as nações. O presidente comemorou o que chamou de “primeiro passo concreto” para a paz: uma possível reunião entre Putin e Vladimir Zelensky em Istambul.

“É com muito otimismo que vi a proposta de Putin e a aceitação por parte de Zelensky. Quem sabe agora se troca tiros por palavras. […] A política está precisando muito de mudar o debate pelo crescimento da extrema-direita radicalizada, nazista, no mundo inteiro”, afirmou.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu homólogo chinês, Xi Jinping, durante a cerimônia de assinatura de acordos no Palácio do Povo. Pequim, China, 13 de maio de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 13.05.2025

Brasil e China: uma relação estratégica

Lula destacou a evolução da balança comercial Brasil-China — que saltou de US$ 6,6 bilhões (R$ 37 bilhões) em 2003 para US$ 160 bilhões (R$ 897 bilhões) em 2024 —, mas insistiu que o Brasil precisa deixar de ser apenas um exportador de commodities. Ele pediu mais equilíbrio nas trocas e maior investimento em tecnologia, inteligência artificial e infraestrutura.
“A nossa relação com a China não é trivial, é estratégica”, afirmou. Segundo Lula, a parceria com os chineses deve se aprofundar em áreas como transição energética e inovação. Ele também revelou ter pedido ao presidente Xi Jinping o envio de um representante para tratar da regulação digital no Brasil, incluindo o papel do TikTok e outras plataformas.
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, cumprimenta seu homólogo chinês Xi Jinping, por ocasião da sessão de abertura do IV Fórum CELAC-China, no China National Convention Center II, Pequim, 13 de maio de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 13.05.2025

Multilateralismo e crítica ao protecionismo

Em tom crítico, Lula denunciou o que chamou de “retrocesso ao unilateralismo”, em referência às políticas protecionistas dos Estados Unidos. O presidente reforçou seu apoio à retomada do multilateralismo e ao fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC).

“Não é possível que um país, por ser rico, queira taxar tudo e todos como se fosse dono do mundo”, disse, ao defender um comércio internacional mais justo e equilibrado.

‘Não menosprezem a força do BRICS’

Ao fim do discurso, o presidente Lula ressaltou a importância do BRICS, do qual a China e o Brasil fazem parte, na construção de um mundo cada vez mais multipolar. Além disso, Lula defendeu o uso de moedas digitais nas transações comerciais entre os países do grupo, o que traria mais desenvolvimento econômico aos países.

“Não menosprezem a força do BRICS, não menosprezem a importância do BRICS. O que eu quero dizer é que estamos acostumados com um único lado mandando. Temos uma relação histórica com a União Europeia [UE], mas se você pegar individualmente um país como a França, o comércio é de US$ 8 bilhões [R$ 44,8 bilhões]. Se pegar a Inglaterra, não passa de US$ 9 bilhões [R$ 50,4 bilhões], o mesmo com a Itália. Agora com o Vietnã, já são R$ 12,5 bilhões [R$ 67,3 bilhões]. Então o Brasil precisa procurar outros parceiros”, disse.

Lula ainda ressaltou o papel do Brasil de defender o diálogo em meio ao conflito ucraniano, mesmo com a pressão para apoiar os Estados Unidos e a União Europeia contra a Rússia.

“Muitos setores da imprensa brasileira e da imprensa mundial ficaram muito críticos a nós e ao nosso governo quando a gente não fez, sabe, aquela manifestação em defesa da Ucrânia […] Nós achamos que é possível encontrar um caminho de negociação. É importante vocês se lembrarem que o Olaf Scholz [ex-premiê da Alemanha] foi no Brasil querer comprar armas para fazer doação para a Ucrânia e eu disse não, não iríamos vender armas”, finalizou.

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Fonte: sputniknewsbrasil

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