Todo mundo tem (ou teve) um carro dos sonhos. Graças ao meu pai, o modelo que eu sempre quis ter na garagem desde os 10 anos é o Chevrolet Vectra. Mas falar que só eu sonhava com o sedã médio seria o eufemismo do século. Afinal, ele foi o maior símbolo da era de ouro da GM no Brasil. Então, imagine minha alegria ao saber que fui designada para testar uma unidade do sedã 1999/2000, na icônica versão GLS com motor 2.2 8V. Um verdadeiro turbilhão de emoções.
Não se engane! Eu estava ansiosa por mais de um motivo. Além de ser um desejo de infância, seria a primeira vez dirigindo um carro mais antigo. E o mais legal é que esse exemplar, emprestado pelo Leandro Alvares, ex-editor de Autoesporte e jornalista do canal De Carona com Leandro, foi fabricado no mesmo ano em que eu nasci, há 26 anos.
Trata-se da segunda geração, o Vectra B, que foi uma das mais desejadas pelos brasileiros. Estreou em 1996, com produção nacional, e teve a difícil missão de substituir o Monza — objetivo que conseguiu cumprir, já que chegou a ser líder do segmento.
Pode ser meu lado entusiasta, mas assim que cheguei ao local para conhecer a estrela desse teste, a Jady de 10 anos veio comigo. As linhas arredondadas entregam a moda daquela época. Um detalhe que chamava muito a atenção eram os retrovisores que saíam da linha do capô. Ao contrário dos carros atuais, a grade do Vectra era bem menor e, nessa unidade, o contorno preto foi alterado para um tom cromado.
Que carro! Se o design é atual hoje, imagine nos anos 1990. Tanto que esse foi um dos motivos para que o Vectra se destacasse contra rivais quadradões como Fiat Tempra, Volkswagen Santana e Ford Versailles. Além disso, o estado de conservação me impressionou, já que é difícil achar um Vectra que não esteja mexido ou rebaixado nos dias de hoje.
Na tabela Fipe, o valor fica em quase R$ 19 mil. Perguntei ao Leandro quanto precisavam oferecer para ele vender o carro. A resposta foi um simples “R$ 80 mil, assim não vende mesmo”.
Fato é que, mesmo tendo se consagrado, o Vectra perdeu espaço para rivais que se aperfeiçoaram: o Honda Civic e o Toyota Corolla. Mas o sedã marcou uma era. Foi o primeiro carro produzido no país com airbags frontais, controle de tração e até suspensão traseira multilink.
O mais insano foi pensar no tamanho do Vectra. Em 1996, os 4,49 metros de comprimento faziam “brilhar os olhos” entre os sedãs médios. Hoje, no entanto, essa é uma medida de sedã compacto, como a do Nissan Versa. Isso, claro, não significa que o Vectra não era espaçoso. O local para as pernas na segunda fila é louvável e o porta-malas de 500 litros é uma referência.
Descobrindo o sedã, fiquei impressionada com o acabamento primoroso, principalmente dos bancos com tecido aveludado, muito bem-feitos até para os padrões atuais. O desenho da cabine é bonito e o volante de couro é muito confortável.
Ar-condicionado digital, vidros elétricos, ajuste de altura no cinto de segurança e um pequeno relógio de cristal líquido com data e hora mostram como o Vectra estava à frente de seu tempo. A versão GLS não vinha com airbags. Apenas a configuração CD trazia bolsa para o motorista; para o passageiro era oferecida como opcional.
O modelo, por incrível que pareça, também revela que certas coisas não mudaram. Isso porque o ajuste do retrovisor é exatamente o mesmo presente na Chevrolet Spin 2026, apenas com uma nova disposição. Pois é, GM!
Em um momento de distração com o dono, falávamos do histórico da Chevrolet com relação à luz de injeção, que tem a fama de acender com certa frequência no painel dos carros da marca. Leandro brincou dizendo, rindo: “Isso não acontece nesse Vectra”.
Foi então que chegou a hora de dirigir. O Chevrolet Vectra tem o consagrado motor 2.2 a gasolina de 123 cv de potência e 19,4 kgfm de torque. Esse conjunto, aliado ao câmbio manual de cinco marchas, é muito robusto. Fora o coeficiente aerodinâmico de 0,28 cx, que ajuda a reduzir o arrasto.
No breve período de teste, pisei mais fundo no acelerador e percebi a ampla entrega de torque em baixas rotações, o que é bom para quem busca desempenho. Por outro lado, com a tendência de esticar as marchas, o consumo vai para o espaço.
Os dados comprovam que o sedã faz 8,2 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada. Também notei que a operação do câmbio é um pouco mais ruidosa do que o normal, reclamação que vem desde a época do lançamento do Vectra.
O destaque para a jornalista que vos escreve foi o conforto. Isso porque o Vectra inovou com a adoção da suspensão traseira multilink, com baixo impacto na cabine e muita estabilidade nas poucas curvas que fiz. Isso depois de quase 30 anos de uso e pouco mais de 100 mil quilômetros rodados!
No fim, só consegui pensar que o Chevrolet Vectra está longe de ser o carro perfeito, mas faz jus à fama de ser um sonho nacional. Na história, o sedã se tornou referência quando o assunto é o que nós, brasileiros, chamamos de “carro bom”. É como se fosse uma viagem para um tempo ao qual gostaríamos de voltar e um sonho que não vamos esquecer.
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Fonte: direitonews