‘Não queremos disputar com os homens, queremos o nosso espaço’, diz ministra das Mulheres à Sputnik


Com 212,6 milhões de habitantes, o Brasil possui população majoritariamente feminina. São 104,5 milhões (51,5% do total) de mulheres no país, segundo dados do Censo de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Embora tenham conquistado avanços nas últimas décadas, garantindo maior espaço na política, nos movimentos sociais e protagonismo em esferas de decisão, ainda há “um longo caminho a percorrer”, declara a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, em entrevista à Sputnik Brasil.
Ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome no segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2007–2011), Lopes conta que naquela época já percebia como é grande o protagonismo das mulheres na área da assistência social, como no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e no âmbito de agricultoras familiares.
O trabalho realizado na época, contudo, ficou estagnado entre 2016 e 2022 devido à má ruptura entre governo federal, estados e municípios, o que levou à queda do financiamento de políticas públicas, conselhos e conferências voltados a mulheres. “Isso atrasou muito esse processo de evolução”, diz Lopes. E o desafio agora é a retomada.

“Eu participei da transição em 2022, conhecendo de perto o que tinha acontecido em cada ministério, mas fui do Grupo de Desenvolvimento Social, e aí nós percebemos quantos desafios teríamos pela frente para retomar as pautas, inclusive o próprio Ministério das Mulheres.”

A contribuição do BRICS para as mulheres

No âmbito da Cúpula do BRICS, Lopes afirma que a contribuição do ministério na cúpula terá três grandes eixos, que são mulheres, desenvolvimento e empreendedorismo, distribuídos nas seguintes áreas prioritárias:

Mulheres na governança e liderança;

Erradicação da pobreza e empoderamento socioeconômico;

Eliminação da violência contra mulheres e meninas;

Inclusão financeira e empoderamento econômico.

Este último inclui o debate em torno da participação de mulheres em ciência, tecnologia, inovação, transição energética justa e adaptação às mudanças climáticas.
“Temos muita coisa para falar nesse âmbito de gênero e clima, porque são as mulheres, sem dúvida, as mais afetadas por qualquer mudança climática, qualquer desastre natural. São as mulheres as mais atingidas e que aumentam sempre mais a responsabilidade delas, do ponto de vista do cuidado, da proteção à sua família”, explica.
A ministra acrescenta que sua pasta também pretende levar para o debate uma lei aprovada pelo presidente Lula, que estabelece a igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função e a questão da “governança digital, misoginia e desinformação”.

Atuação no Ministério das Mulheres

À frente do Ministério das Mulheres desde maio deste ano, mas com vasta experiência na área, Lopes enfatiza à reportagem que as mulheres brasileiras ainda convivem com indicadores de violência que são “inadmissíveis”, e que essa é uma das pautas prioritárias da pasta.
“Eu percebo que as mulheres, de um lado, não abriram mão da luta, das suas agendas de emancipação, de liberdade, de participação, de ganhar protagonismo no setor público e privado. As mulheres estão ocupando espaços maiores”, disse.
“Por outro lado, nós continuamos a conviver com indicadores de violência que são inadmissíveis. Então, o machismo, o autoritarismo, ainda permanece muito, e isso são pautas prioritárias aqui no Ministério das Mulheres.”
Ela também aponta o problema da violência política de gênero, que atinge até mesmo mulheres nas posições mais altas do poder, como o ocorrido em maio com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante participação na Comissão de Infraestrutura do Senado.
“Infelizmente, no âmbito político, a gente vê ainda muito retrocesso, como nós vimos agora. Há pouco tempo, a ministra Marina Silva teve que se submeter àquele tipo de ofensa: um deputado, uma autoridade dizer ‘Ponha-se no seu lugar’, e ela firmemente disse ‘O meu lugar é onde eu quiser.'”

“Não queremos fazer disputa com os homens, nós queremos o nosso espaço”, explicou Lopes.

Dentre as iniciativas do ministério, a ministra destacou o serviço Ligue 180 e o centro de atendimento Casa da Mulher Brasileira, voltados para mulheres vítimas de violência que avançaram em suas implementações — iniciativas estas que ainda podem ser aprimoradas.
Além disso, ela acrescentou que o presidente Lula vai anunciar o Plano Nacional de Política de Cuidados, uma complementação à Lei Federal nº 15.069, da Política Nacional de Cuidados, sancionada em dezembro de 2024.
Batizado Brasil que Cuida, a política nacional tem como intuito reconhecer formalmente o trabalho exercido por cuidadores de idosos, deficientes ou crianças — profissão realizada, em sua maioria, por mulheres.
Ela aponta ainda a 5ª Conferência Nacional de Política para as Mulheres, iniciativa coordenada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), prevista para 29 de setembro a 1º de outubro, que vai reunir 3.500 mulheres em Brasília, a fim de discutir projetos e políticas públicas voltadas para mulheres, incluindo o combate à violência.

“Nós esperamos que dessa conferência saiam sugestões, proposições para a gente aprimorar o que nós já estamos fazendo, o que o Brasil está fazendo, e construir o Plano Nacional de Política para as Mulheres, que também está defasado, e nós queremos ter um Plano Nacional de Política para as Mulheres com o futuro, para o futuro.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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