Em entrevista à Sputnik, nesta sexta-feira (16), o chefe do laboratório de Genética Molecular do Transporte Intracelular da Academia Russa de Ciências, Aleksandr Sobolev, contou que a equipe desenvolveu moléculas artificiais de proteínas que podem “identificar” células cancerígenas e entrar nos núcleos dessas células por meio de mecanismos de transporte intracelular. Essas moléculas artificiais poderiam potencialmente ser usadas para transportar agentes tóxicos, como isótopos radioativos, que garantiriam a destruição das células cancerígenas, com risco mínimo de afetar células vizinhas não cancerosas.
Batizadas de “nanotransportadores modulares”, essas minúsculas estruturas consistem em vários blocos modulares que podem ser modificados, a depender da tarefa a ser executada.
O transportador modular, atualmente em testes pela Rosatom, é composto por quatro módulos: um deles identifica células cancerígenas ao interagir com os receptores localizados nas membranas celulares dessas células.
Quando o transportador entra em uma célula cancerígena dentro de uma bolha da membrana celular, outro módulo cria poros nessa bolha, permitindo o acesso ao interior da célula cancerígena, explicou Sobolev. O terceiro módulo contém uma sequência de aminoácidos que atua como um sinal, garantindo que a carga transportada seja entregue diretamente ao núcleo da célula cancerígena. O quarto módulo ajuda a manter a forma tridimensional necessária do transportador e permite a fixação da carga tóxica.
Todas essas etapas, segundo o entrevistado, já foram testadas e demonstradas em experimentos. A segurança do novo método também foi confirmada por testes anteriores de um transportador nanomolecular modular semelhante, feitos com a participação do Instituto de Pesquisa Oncológica de Moscou P. Hertsen e do Centro de Pesquisa em Radiologia Médica A. Tsyb.
Ao perceber que praticamente qualquer tipo de carga pode ser acoplada às moléculas que desenvolveram, os pesquisadores também conceberam o conceito de “anticorpo mergulhador”: um anticorpo ou molécula semelhante que poderia “mergulhar” na célula-alvo e interagir diretamente com a proteína-alvo em seu interior.
Assim, foi criado mais um módulo: uma molécula semelhante a um anticorpo, capaz de interagir com proteínas-alvo. Um desses “anticorpos mergulhadores” já demonstrou ser capaz de proteger células contra o estresse oxidativo.
Outro anticorpo mergulhador consegue identificar proteínas da COVID-19 e direcionar enzimas intracelulares para destruir essa proteína. Segundo Sobolev, esse método poderia ser usado para criar uma cura para a doença.
O método do nanotransportador modular foi especificamente desenvolvido para lidar com microtumores, que são especialmente difíceis de detectar e de eliminar. Os pesquisadores também pretendem seguir outras linhas de investigação que possam surgir ao longo dos estudos, explorando possíveis novas aplicações para essas moléculas artificiais.
Fonte: sputniknewsbrasil