É comum lermos comentários na internet extremamente ácidos sobre o motor turbo de três cilindros. O discurso é replicado em mesas de bar e até mesmo entre alguns entusiastas de propulsores maiores. Dizem que o tricilíndrico é uma “bomba-relógio” e que dá mais dor de cabeça que seu time de futebol em má fase.
E olha que a prática do downsizing na indústria automotiva nacional não é de hoje. Convivemos já faz um bom tempo com os propulsores reduzidos e, mesmo assim, ainda tem muita gente que olha torto para eles. Mas será que o motor turbo de três cilindros é, de fato, essa assombração?
Neste texto, Autoesporte responde algumas perguntas sobre o tema. Separamos para você alguns mitos e verdades sobre o motor turbo de três cilindros. É uma roubada mesmo? É bom? Confira abaixo o que temos a dizer!
Verdade. O nível de confiabilidade dos motores turbo de três cilindros é o mesmo de qualquer outro propulsor a combustão. Aspectos como desenvolvimento e construção seguem padrões idênticos de segurança e qualidade em comparação com motores de qualquer outro deslocamento ou número de cilindros. Além disso, o turbo se tornou uma tecnologia amplamente testada pela indústria e já difundida com sucesso no mercado.
O “pé atrás”, muitas vezes, está mais ligado ao fator novidade e à adaptação à nova tecnologia. “São motores confiáveis. A maior parte dos problemas que vêm à tona tem origem na falta de manutenção adequada, especialmente aplicação de óleo fora das especificações corretas”, explica Pedro Scopino, professor de Mecânica e especialista na área pelo Senai. Assim, é fundamental fazer as revisões no tempo certo, seguir as orientações do manual do proprietário (principalmente quanto ao tipo de lubrificante) e abastecer com combustível de boa procedência.
Mito. A durabilidade dos motores turbo de três cilindros tampouco tem qualquer distinção em relação a um motor aspirado. Durante o desenvolvimento do projeto, são seguidos os mesmos critérios de dimensionamento de componentes, resistência de materiais e testes de temperatura e pressão. O que vai definir o prolongamento ou a redução da vida útil é, novamente, o cuidado do proprietário. “A durabilidade está diretamente ligada à manutenção”, destaca Scopino.
Para que o motor tenha sua durabilidade prolongada, a manutenção precisa estar em dia e ser realizada de acordo com o que preconiza o manual — ou seja, trocas de óleo regulares com o lubrificante recomendado, revisões periódicas de bombas e bicos injetores, manutenção preventiva de velas e cabos, entre outros itens.
Verdade, mas depende do motorista. A função do turbo é ampliar o rendimento do motor sem elevar o tamanho ou o peso do conjunto. Sob o capô, a turbina comprime e joga mais oxigênio na câmara de combustão, aumentando a taxa de compressão e tornando a queima de combustível mais eficiente. O resultado é a entrega de mais potência e torque sem precisar aumentar o deslocamento, reduzindo o consumo e a emissão de gases poluentes.
Para explorar todo esse potencial, o motorista precisa estar atento ao modo de conduzir o veículo. “O brasileiro precisa aprender a olhar o conta-giros e verificar a faixa de rotação que entrega mais torque”, explica Scopino. Outra vantagem do turbo é permitir que se atinja o pico de torque a rotações bem mais baixas do que em um motor aspirado.
Contudo, devido ao baixo deslocamento, o nível de rotação desse tipo de motor varia com muito mais facilidade, o que pode fazer o consumo mudar bastante de acordo com o estilo de condução. Se o intuito for priorizar a economia de combustível, o motorista deve fazer o veículo sustentar velocidade em rotações medianas.
Parcialmente verdade. No mercado brasileiro há motores turbo de três cilindros com corrente de comando, correia banhada a óleo ou correia seca. A primeira é mais cara, conhecida pela robustez e resistência ao desgaste, uma vez que é confeccionada com aço temperado. “A corrente é a mais durável de todas, porém a mais barulhenta”, afirma Scopino. O nível de vibração também tende a ser maior.
A correia dentada seca, por sua vez, é feita de borracha e tem durabilidade limitada, podendo ser afetada por fatores externos como poeira. Portanto, demanda manutenção periódica e intervalos de troca mais curtos. A vantagem está no custo, já que é mais barata que as demais.
No caso da correia banhada a óleo, as manutenções são mais espaçadas, mas devem ser seguidas à risca e em conformidade com o manual. O uso de lubrificantes inadequados pode acelerar o desgaste e deteriorar a peça. Na comparação com os outros sistemas, a correia banhada é a que gera menos ruído e vibração.
Verdade. Motores de três cilindros vibram mais em razão da distribuição assimétrica de massas e forças e do número ímpar de cilindros. Em motores de quatro cilindros, enquanto dois pistões estão subindo, dois estão descendo. Já no de três, o movimento não tem o mesmo compasso. Para reduzir esse efeito, as fabricantes aplicam coxins extras nas extremidades dos motores.
Parcialmente verdade. Em alguns casos, os componentes da injeção apresentam maior nível de desgaste em virtude da água presente no etanol hidratado, cujo percentual pode chegar a até 7,5%. O maior perigo, porém, está no etanol adulterado. Motores mais modernos têm componentes cada vez mais resistentes a esse efeito. Ainda assim, procure não abastecer em postos sem boa procedência e faça a manutenção preventiva regularmente, para evitar episódios de desgaste prematuro ou corrosão.
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Fonte: direitonews