O encontro do grupo resultará em uma declaração conjunta, prevista para ser lida às 14h00. Esse é o último encontro a nível ministerial antes da cúpula de chefes de Estado, nos dias 6 e 7 de julho.
Respondendo a uma questão da Sputnik Brasil, Lavrov afirmou que, conforme decidido na cúpula do ano passado, em Kazan, Rússia, os ministros da Economia e chefes dos bancos centrais dos países do BRICS seguem com a tarefa de estabelecer sistemas de pagamento independentes.
“Incluindo o estudo de questões como o estabelecimento de um sistema de pagamento transfronteiriço, de um sistema eletrônico de interação em depósitos interfinanceiros, que se chama BRICS Clear, e, em geral, a formação de um mecanismo único para o intercâmbio de informações comerciais e econômicas.”
Além desses temas, outro avanço explicitado por Lavrov se deu no uso de moedas locais para as transações entre os membros do grupo.
“No comércio entre os membros do BRICS, as moedas nacionais já representam mais de 65%. Da parte em dólares, essa diminuiu para um terço.”
Os esforços de desdolarização foram amplamente criticados pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desde que assumiu o comando da Casa Branca, em janeiro. Trump ameaçou os países do BRICS com grandes tarifas caso sigam por esse caminho.
As sanções de Trump
O tema das sanções e tarifas norte-americanas, disse Lavrov aos jornalistas, estará presente na declaração dos chanceleres. “Nos não nomearemos ninguém no documento final”, comenta, “ele contém nossa abordagem sobre a situação da economia global”.
“O documento final apresenta nossa conclusão comum sobre as consequências negativas da fragmentação da economia global, do enfraquecimento do multilateralismo […], e preocupações com medidas protecionistas unilaterais, sanções unilaterais, incluindo sanções secundárias.”
Segundo o chanceler, a Organização Mundial do Comércio (OMC) deve permanecer no centro do sistema de comércio mundial, assim como deve se adaptar às novas realidades.
Quanto à relação entre a Federação da Rússia e os Estados Unidos, nações que possuem “interesses em comum”, Lavrov advertiu contra a visão de que a retomada dos diálogos seja algo extraordinário. “É simplesmente o retorno à normalidade […]. Em todas as outras circunstâncias, o diálogo é sempre preferível.”
O ministro explicou que a Rússia informa seus parceiros a cada etapa desse processo. “É importante que todos entendam como as relações entre Moscou e Washington estão se desenvolvendo”, argumentou.
O conflito ucraniano
Outro ponto discutido durante a reunião dos chanceleres do BRICS foi o conflito ucraniano, afirmou o ministro russo, destacando que ele só pode ser resolvido quando as causas raízes forem resolvidas, como a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o leste e a perseguição à cultura russa na Ucrânia.
Nesse ponto, o cessar-fogo temporário anunciado pelo presidente Vladimir Putin é “o início de conversas diretas, sem condições prévias” com a Ucrânia, ressaltou o ministro.
Respondendo à exigência de Kiev e do resto da Europa de que é preciso um cessar-fogo de 30 dias para o início das negociações, isso é um sintoma das derrotas que estão encarando no campo de batalha.
“Os líderes da União Europeia, Kaja Kallas [chefe da diplomacia europeia] e outros representantes estão agora dizendo que a Rússia deve concordar incondicionalmente com um cessar-fogo. […] seus planos de infligir uma derrota estratégica a nós, a Federação da Rússia, nunca se concretizarão.”
“Sabemos muito bem o preço dessas declarações.”
BRICS discute criar seu próprio TPI
Perguntado sobre a possibilidade de o BRICS criar seu próprio organismo judicial internacional, correlato ao Tribunal Penal Internacional (TPI), Sergei Lavrov afirmou que as nações do grupo aventaram a possibilidade, mas preferiram advogar por mecanismos internacionais “baseados em um forte consenso dos Estados-membros”.
A estrutura do TPI, afirmou, “é manipulada pelos países ocidentais”.
“Alguns Estados que cometem abertamente atos que violam o direito internacional humanitário são isentos de ataques, enquanto medidas punitivas são introduzidas de forma tendenciosa a outros países, sem se basear em fatos específicos, incluindo os chamados mandados de prisão.”
Fonte: sputniknewsbrasil