Bem antes do termo food truck se popularizar no Brasil, a Asia Towner — junto à Volkswagen Kombi — foi uma das vans que mais ajudaram os pequenos trabalhadores a levarem sustento para suas famílias. No caso da compacta sul-coreana, a fama veio especialmente por meio da venda de cachorros-quentes.
A versatilidade e o preço mais acessível (20% mais em conta que uma Kombi 0 km) foram os principais ingredientes para a receita dar certo. Inclusive, muitos trabalhadores autônomos decidiram aposentar seus carrinhos de lanche para dar lugar aos novos veículos com adaptação para o comércio de alimentos.
Para matar a saudade, Autoesporte avistou uma raríssima Asia Towner Coach fabricada em 1995 e, acredite, com apenas 68 mil km rodados. De acordo com Geraldo Fernandes Júnior, o “Mano”, da loja Garagem da Joia, o exemplar tem alto índice de originalidade e já pode receber placa preta.
O painel é bem completo para a época, com o conta-giros com escala até 7 mil rpm. O volante de quatro raios e a manopla de câmbio de cinco velocidades evidenciam o interior bem preservado. Os bancos revestidos em tecido parecem que nunca foram usados e são um verdadeiro clássico dos anos 1990.
As poucas unidades restantes da Towner foram mantidas como parte do valor cultural e histórico que, direta ou indiretamente, contribuíram para o sustento de várias famílias brasileiras. O preço dessa unidade azul das fotos é de R$ 40 mil.
A extinta sul-coreana Asia Motors, controlada então pela Kia , chegou ao Brasil no início da década de 1990 com a Towner. Com o sucesso da microvan no mercado nacional, a empresa abriu caminhos para outros modelos, como a Topic, o micro-ônibus AM-825, o jipinho Rocsta e o SUV Galloper — originalmente um produto Hyundai. No entanto, foi com a van subcompacta que empresa ficou conhecida entre os brasileiros.
A versatilidade da Towner era evidenciada por suas configurações: furgão com vidros laterais (Glass Van), picape (Truck) e furgão fechado (Panel Van). Além, claro, da opção de sete lugares (Coach), que é o modelo desta reportagem.
Por conta da boa aceitação e, claro, ao preço acessível, a Towner ajudou no crescimento da mobilidade urbana e economia informal no Brasil. Um exemplo disso são as unidades que até hoje trabalham pesado vendendo cachorros-quentes ou churros pelas principais ruas do país.
Independentemente da configuração ou versão, todas eram equipadas com o mesmo motor (instalado sob o banco dianteiro). Conhecido como ED-10A, o propulsor de origem Daihatsu, tricilíndrico, garantia bom consumo de combustível. A Towner fazia 11,4 km/l na cidade e 13,8 km/l na estrada, de acordo com fichas técnicas de época. Isso aliviou, em partes, a autonomia, já que o tanque tinha capacidade para apenas 35 litros.
Já o desempenho da Towner era frustrante. Com apenas 0,8 litro (796 cm³), seis válvulas e alimentação feita por carburador eletrônico, só se conseguia extrair 40 cv de potência (a partir das 5.600 rpm) e 6 kgfm de torque (a 3.600 rpm) do motor. Os 1.280 kg da van iam de 0 a 100 km/h em intermináveis 46,5 segundos. Já a velocidade máxima não passava dos 116 km/h.
Com 3,3 metros de comprimento e 1,8 metro de altura, até sete pessoas poderiam desfrutar do espaço relativamente bem aproveitado. O acesso feito pelas portas corrediças à segunda e terceira fileiras não era ruim.
Por ser estreita (1,4 metro de largura), qualquer vacilo do condutor poderia não acabar bem — ainda que seu centro de gravidade não fosse tão elevado. As pequenas rodas de 12 polegadas com pneus radiais 165/70 também mereciam atenção redobrada. Tanto é que era comum trocarem o jogo original por um maior.
O conjunto de suspensão (independente McPherson e mola helicoidal na dianteira e eixo rígido com feixe de molas semielípticas na traseira) reforçava a aptidão para o trabalho. Conforto, portanto, não era o foco. O único item presente como opcional, nessa quesito, era o ar-condicionado.
No mais, a Asia Towner era um carro divertido e que, certamente, deixou saudades, principalmente aos que tiveram algum tipo de envolvimento com ela.
Com a crise asiática estabelecida em 1997, a Asia Motors acabou falindo e a vanzinha sul-coreana passou então a ostentar a logomarca da sua controladora Kia Motors. Por aqui, as últimas unidades de 1998 foram vendidas até 1999.
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Fonte: direitonews