Tarifaço expôs o quanto a economia dos EUA depende da China
“Trump recuou porque, diferentemente dos outros países, os Estados Unidos têm uma dependência enorme de peças, componentes e produtos finais da China, e por isso acabou isentando os eletroeletrônicos, que representam um quarto de tudo o que os Estados Unidos importam, sem que a China tivesse feito absolutamente nenhum outro gesto que não a reciprocidade tarifária. Então o elemento determinante é o grau de dependência que a economia americana tem da economia chinesa”, aponta o analista.
Pressão das big techs e do mercado interno dos EUA
“Todos esses, para seus atuais negócios e para seus planos futuros, dependem da estabilidade do fornecimento de equipamentos eletrônicos, circuitos integrados, muitos dos quais são produzidos fora dos EUA e só chegam lá após serem montados. São os bens chamados de cadeia longa, cuja cadeia de valor engloba serviços, recursos, produtos e trabalhos geograficamente dispersos para a sua produção”, afirma o analista.
Aposta de Trump foi bem-sucedida?
“Primeiro porque tarifas por si só não são suficientes para recuperar uma capacidade produtiva que foi envelhecendo ao longo das últimas quatro, cinco décadas, em parte pelo predomínio de uma visão de mundo neoliberal que gerou desindustrialização e envelhecimento da infraestrutura e da capacidade estatal dos EUA. Esse é o primeiro ponto.”
“Outro ponto é que a relocação produtiva e a reorganização da indústria não é um objetivo de curto prazo e, a depender de como se desenrola a situação, pode nem acontecer. A questão é que, ao tentar forçar a negociação via sobretaxação dos produtos importados, Trump impôs um alto custo aos EUA, a suas empresas e cidadãos, ao mesmo tempo em que afeta negativamente parceiros históricos e estratégicos, precipitando uma série de medidas voltadas à proteção contra as tarifas e uma diversificação de parcerias comerciais que diminuam a vulnerabilidade a novos ‘tarifaços’.”
Tarifaço como sinal do fim da hegemonia dos EUA
“Ao tomar medidas unilaterais, ao produzir incertezas, ao quebrar regras, contratos e previsibilidade, o governo Trump obviamente enfraquece a hegemonia, deixa um vácuo aberto para que se crie novos mecanismos de governança. E, nesse quadro, obviamente que China e BRICS têm um potencial importante de vir a ocupar um espaço de crescente relevância.”
“É possível que outros atores e outros blocos se beneficiem dessa crise, mas precisam compreender bem quais instrumentos utilizar para se promover enquanto alternativa ou enquanto nova ordem mundial. É importante notar que, até o momento, China e Brasil têm se posicionado a favor do multilateralismo e do livre-comércio, representando mais uma defesa do sistema vigente do que uma iniciativa de reforma e sem coordenação aparente para pensar uma resposta mais profunda a essa confusão do momento”, afirma.
Fonte: sputniknewsbrasil