Todos deveriam ter a oportunidade de provar um SUV híbrido plug-in. Dependendo da sua predileção por eletricidade ou gasolina, o dia a dia com um desses será totalmente diferente. Aprendi isso na prática com os veteranos BYD Song Plus e GWM Haval H6 e, agora, com o Jaecoo 7, da estreante Omoda Jaecoo. Assim como os rivais chineses, o novo modelo tem duas faces — e isso vale para o bem e para o mal.
Autoesporte teve acesso a um protótipo do novo Jaecoo 7 para um breve teste de três dias. Além das impressões na cidade, tiramos os números de desempenho em pista, e o submetemos a uma prova de consumo. A marca chinesa faz segredo sobre o preço, mas diz que o modelo irá concorrer especificamente com o GWM Haval H6 PHEV19, que custa R$ 244 mil.
Deixo aqui um spoiler: o preço deve ser inferior para o novato realmente compensar, mas o consumidor pode ter um impasse pela frente. O recém lançado Caoa Chery Tiggo 7 PHEV custa exatos R$ 240 mil e deve concorrer diretamente com o Jaecoo 7. Curiosamente, ambos utilizam a mesma plataforma T1X e a mesma base estrutural.
Eis um breve contexto: as marcas Omoda e Jaecoo fazem parte do Grupo Chery, um enorme conglomerado automotivo chinês. Apesar de a brasileira Caoa ser acionista majoritária da Chery no país, onde formou a Caoa Chery em 2017, a operação Omoda Jaecoo desembarca sem qualquer envolvimento direto com a empresa brasileira.
Essa relação inevitavelmente acontecerá de outra forma. Isso porque os SUVs das marcas compartilham desenvolvimento, plataformas, motores e outras tecnologias — o que acontece, por exemplo, entre Kia e Hyundai. Como não poderia ser menos óbvio, o Jaecoo 7 nada mais é que um Caoa Chery Tiggo 7 com terno da Versace.
A Omoda Jaecoo se posiciona como uma marca premium, voltada à tecnologia, com um estilo mais rebuscado. Se você tiver isso em mente antes de conhecer o Jaecoo 7, poderá se decepcionar. De fato, o novo SUV tem acabamento caprichado e bons materiais em sua construção, mas a qualidade geral não surpreende quem já conheceu o Caoa Chery Tiggo 8, para citar um “irmão” como referência.
A cabine tem couro sintético escuro, placas de plástico texturizadas que imitam grafite, acabamento preto brilhante e costuras aparentes. O teto solar panorâmico acrescenta um charme. Aos conhecedores dos SUVs chineses da concorrência, não há nada que faça os olhos brilharem, mas o Jaecoo 7 acompanha a proposta e a qualidade de seus principais rivais neste sentido.
Um aspecto que me incomoda é o formato do painel, que, sem qualquer originalidade em comparação com BYD, GWM e a própria Caoa Chery, se torna vítima da “modinha” dos SUVs chineses. A Jaecoo apostou num layout cheio de linhas horizontais, uma enorme central multimídia de 14,5 polegadas ao centro e console bem alto. Remova o logotipo do volante e você dificilmente saberá de qual marca se trata.
Quem gosta de tecnologia vai adorar o kit multimídia, que é um ponto fortíssimo do Jaecoo 7 e ainda traz uma interface parecida com o sistema operacional iOS, do iPhone. Resolução, respostas aos comandos da tela sensível ao toque, intuitividade e o fácil acesso ao computador de bordo são características que me agradaram.
Ah, e a tela fica fixa na posição vertical. Não é giratória, como a dos BYD. A alta resolução faz com que os comandos do Apple CarPlay ou do Android Auto fiquem gigantes à vista do motorista. Até o condutor do carro ao lado conseguirá enxergar a direção do seu Waze ou Google Maps.
O Jaecoo 7 ainda incorpora comandos por voz, mas, por se tratar de um protótipo, todos estão em inglês. Resta saber se a boa funcionalidade será preservada quando o sistema for traduzido para o português.
Infelizmente, o painel de instrumentos digital passou longe de ser interessante como a excelente central multimídia. Além do layout sem graça (semelhante ao da BYD), o computador de bordo é muito restrito. Vamos elaborar este assunto mais à frente.
Sobre o espaço interno, o Jaecoo 7 tem aproveitamento adequado de seus 4,50 metros de comprimento, 1,86 m de largura, 1,67 m de altura e 2,67 m de distância entre-eixos. Como comparação, ele é menos de 2 cm menos comprido e mais baixo que um Tiggo 7 Pro, mas preserva a mesma largura e o mesmo entre-eixos.
Não há túnel central elevado, o que deixa o assoalho totalmente plano, melhorando o espaço para os pés dos ocupantes traseiros e aumentando a sensação de amplitude da cabine. Tenho 1,85 m de altura e me acomodei bem na segunda fileira, mesmo com os bancos dianteiros ajustados para mim.
O Jaecoo 7 só não repetiu tal abrangência na capacidade do porta-malas, que tem meros 340 litros. Definitivamente, é um dos pontos fracos do novo SUV chinês, sobretudo num segmento em que o Haval H6 dispõe de 560 litros e o próprio Tiggo 7 chega a 457 l. Quem compra um carro deste porte gosta de viajar com a família sem aperto.
A começar pela ergonomia, o Jaecoo 7 tem uma cabine bem resolvida. Os bancos dianteiros com ajustes elétricos são versáteis e facilitam o encontro da melhor posição para guiar. As costas do motorista ficam totalmente apoiadas no encosto lombar e nas abas laterais, evitando a sensação de cansaço precoce.
Mecanicamente, o Jaecoo 7 tem o mesmo motor 1.5 turbo dos Caoa Chery, mas a gasolina e com injeção direta, combinado a um propulsor elétrico dianteiro. Juntos, desenvolvem 339 cv de potência e 52 kgfm de torque .
O câmbio DHT, dedicado para carros híbridos, é uma evolução da caixa que equipa os Tiggo 7 e Tiggo 8 híbridos plug-in, e traz somente uma marcha mecânica, embora com múltiplas relações formadas pela combinação entre motor elétrico e de combustão. Já a bateria de íons de lítio tem 18,3 kWh de capacidade. Mais abaixo, falaremos sobre sua autonomia.
Como Haval e Song, o SUV da Omoda Jaecoo foi programado para priorizar a autonomia elétrica. O motor a combustão é acionado esporadicamente, muitas vezes para operar como mero gerador, mas isso pode ser ajustado pelos botões “EV” e “HEV” no console central. Assim, é possível dirigir o Jaecoo 7 como se fosse um carro elétrico, sem gastar uma só gota de gasolina na cidade — e foi o que fiz.
Rodando somente com eletricidade, o Jaecoo 7 é esperto. Entrega o torque cheio instantaneamente e até destraciona os pneus dianteiros se o motorista não dosar a força no acelerador. Em nosso teste no Rota 127 Campo de Provas, o SUV chinês levou somente 7,04 segundos para ir de 0 a 100 km/h.
Como comparação, nas mesmas condições, o Song Plus precisou de 8,23 s para chegar a tal marca, enquanto o Haval cumpriu a tarefa em 7,7 s. Portanto, o segmento dos SUVs chineses tem um novo líder quando o assunto é velocidade.
Segundo a Omoda Jaecoo, seu primeiro SUV híbrido plug-in a ser vendido no Brasil tem autonomia elétrica de 70 km. No Inmetro, o número deve cair para cerca de 50 km.
Seja como for, conforme a bateria se esgota, o motor a combustão passa a ser mais acionado, independentemente da predileção do motorista entre os modos “EV” e “HEV”. O conjunto elétrico, então, passa a funcionar de modo mais pontual, a fim de mitigar o “turbo lag” e melhorar a reatividade do pedal.
De tal forma, o Jaecoo 7 tem comportamento ligeiramente aceso em ultrapassagens e retomadas: levou somente 3,5 s para ir de 60 a 100 km/h em nosso teste. Neste sentido, é mais esperto que o Song Plus (4,25 s), mas não tanto quanto o Haval H6 PHEV19 (3,24 s). Ainda não tivemos a oportunidade de tirar os números do Tiggo 7 PHEV em nossa pista de testes.
Com a bateria próxima do esgotamento, o Jaecoo 7 começa a revelar uma face que até então era oculta. O primeiro sinal vem do som do motor a gasolina, que se eleva em modo de regeneração. Tal característica é comum nos carros híbridos plug-in, mas sua intrusividade não apenas chamou minha atenção como incomodou.
Depois, reparo que a agilidade de outrora havia desaparecido. O Jaecoo 7 passa a ter um comportamento amarrado, como se o motor a combustão precisasse de grande esforço para mantê-lo a velocidades elevadas. Também observo que a transmissão DHT mantém o motor a rotações mais altas para mitigar a perda de potência, o que também interfere no conforto acústico da cabine.
São duas faces muito distintas de um mesmo carro. Sua versão elétrica é ágil, agradável e silenciosa. Entretanto, sem o “empurrãozinho” extra do conjunto plug-in, o Jaecoo 7 fica manco, amarrado e barulhento. A marca chinesa precisa trabalhar para oferecer ao consumidor a opção de fazer a regeneração obrigatória de energia, um recurso que os BYD e GWM já possuem.
A suspensão do protótipo que experimentamos está próxima do arranjo que foi aprovado para o modelo importado da China, cujo primeiro lote já desembarcou no Brasil. Os amortecedores são suficientemente rígidos para conter balanços verticais e horizontais no asfalto ondulado, mas o curso da suspensão pode desagradar motoristas mais exigentes em vias esburacadas. Mesmo assim, apesar de macio, não o considero tão “molenga” com outros SUVs chineses.
Por fim, o Jaecoo 7 terá pacote ADAS de segurança ativa completo no Brasil. Isso inclui controle de cruzeiro adaptativo (ACC), assistente de permanência em faixa, frenagem autônoma de emergência e sensor de ponto cego. Todos funcionam bem, mas o assistente de faixa tem a tendência de fazer o veículo “ziguezaguear” de um lado para o outro da faixa de rolagem, sem seguir uma linha reta.
Especial híbridos Autoesporte
Submetemos o Jaecoo 7 a um teste de consumo, mas não sem antes enfrentarmos alguns desafios. Isso porque a prova de Autoesporte inclui um trajeto de 35 km, simulando condições de cidade, vias expressas e estrada. O computador de bordo do SUV, porém, só marca o consumo parcial dos últimos 50 km e, como confirmamos com a marca, não é possível zerar este resultado — somente o odômetro parcial e a velocidade média. Esperamos que isso seja revisto até o lançamento.
Estudamos como contornar a questão e, efetuado o teste com o nível das baterias em cerca de 50% e em modo híbrido, com ar sempre ligado, o Jaecoo 7 registrou 28,6 km/l no computador de bordo. Em rodovia, sob as mesmas condições, a uma velocidade de cruzeiro de 100 km/h, o SUV marcou outro número excelente: 17,9 km/l. Já o resultado do consumo elétrico em modo híbrido, mesclando os motores, foi de 33.3 km/kWh.
Após dirigir o Jaecoo 7, percebi que a proposta do SUV pode esbarrar no perfil do motorista brasileiro. Quem comprá-lo precisará estar ciente de que terá de carregá-lo com frequência. Melhor ainda se tiver um carregador doméstico, conforme atestamos em nosso especial de híbridos com o GWM Haval H6.
Depender de recargas a “golpes de oportunidade”, como afirmou o meu vizinho de vaga, que tem um Song Pro, será difícil. Questionei-o sobre o carregador instalado no condomínio e ele afirmou que talvez nem fosse utilizá-lo. “Ando só na gasolina”, pontuou.
Se meu vizinho fosse proprietário de um Jaecoo 7, teria apenas a experiência do conjunto a combustão que tanto criticamos. Também questionamos a Omoda Jaecoo sobre a velocidade da recarga, mas a marca optou por guardar segredo.
Em outros mercados, o Jaecoo 7 PHEV apresenta uma capacidade de recarga rápida em corrente contínua (DC) a até 40 kW, e carregamento lento em corrente alternada (AC) de apenas 3,3 kW. A operação brasileira não confirma esses números, mas afirma que este será um dos “pontos fortes” do SUV médio em seu lançamento.
As principais qualidades do Jaecoo 7 são a ótima central multimídia, o bom espaço interno, seu desempenho e a condução convincente em modo elétrico. Pelo lado negativo, destacamos o porta-malas modesto, o conjunto híbrido inconsistente e o acabamento que, apesar da qualidade inquestionável, não faz jus a uma marca que se diz premium.
Sem preço definido, a Omoda Jaecoo informou apenas que o SUV híbrido será rival direto do GWM Haval H6 PHEV19, que custa R$ 244 mil. Após conhecermos ambos em detalhes, ficou evidente que o estreante terá de custar menos que o conterrâneo para fazer sentido nas lojas. Quando a versão definitiva chegar, faremos um supercomparativo para determinar qual é o melhor SUV chinês do Brasil.
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Fonte: direitonews