A missão de dirigir um Toyota Yaris Cross híbrido em Santiago (Chile), mercado onde o carro já foi lançado, não foi fácil. Dizer quase impossível não seria exagero, pois nenhuma locadora tinha o SUV disponível e todas as concessionárias com que fizemos contato permitiam apenas conhecer o carro estático. Mas jornalista vai até o limite para ter um furo de reportagem. E nós conseguimos.
O contato foi breve, porém suficiente para cravar: os rivais que se cuidem, porque o Yaris Cross não virá para brincadeira. E tem muitas armas para sacudir o segmento de SUVs compactos.
A Toyota já confirmou sua produção na fábrica de Sorocaba (SP). O modelo deve chegar ao mercado entre o segundo e o terceiro trimestres, com algum atraso, já que a ideia inicial era ter lançado o Yaris Cross no Brasil em 2024. Porém, uma crise na Daihatsu, subsidiária responsável pelo projeto na Tailândia, postergou o desenvolvimento.
O novo atraso pode ter relação também com a grande obra que a Toyota faz no complexo em Sorocaba. Além disso, houve extensão da produção do hatch Yaris na linha de montagem até o limite da regulamentação do Proconve L8, que entrou em vigor no dia 1° de janeiro deste ano — a legislação permitiu que o carro fosse montado lá até 31 de dezembro de 2024.
Apesar do nome, o Yaris Cross não terá praticamente nenhuma relação com a finada família Yaris que conhecemos hoje. Sua plataforma, por exemplo, é a DNGA, uma simplificação da matriz TNGA de Corolla e Corolla Cross. A exceção é o motor. Nas versões apenas flex, o SUV usará uma evolução do 1.5 flex de até 110 cv de potência e 14,9 kgfm de torque, aliado a um câmbio CVT que simula sete marchas, mas com melhorias de eficiência térmica e sistema start-stop, justamente para atender ao Proconve L8.
A versão híbrida terá essa mesma unidade aspirada flex de 1,5 litro, mas operando em ciclo Atkinson. Assim, rende 91 cv e 12,3 kgfm. Aliada a um motor elétrico de 80 cv e 14,4 kgfm, a potência combinada vai a 111 cv com gasolina no Chile. No Brasil, devemos chegar perto de 115 cv com etanol.
O câmbio da configuração híbrida é do tipo transeixo, o mesmo usado no Corolla e no Corolla Cross híbridos, assim como a PCU (unidade de controle de potência). Só que as baterias são mais modernas, de íons de lítio e com 0,7 kWh de capacidade.
O motor elétrico está integrado a um gerador que é responsável pela recuperação de energia das desacelerações para fazer sua recarga. Nos Corolla, as baterias são de níquel-cádmio com 1,3 kWh. Nunca é demais reforçar que todos eles são híbridos paralelos (HEV), sem recarga externa.
Desenvolvido para mercados chamados “emergentes”, como América do Sul e sul da Ásia, o Yaris Cross tem dimensões generosas para um SUV compacto. São 4,31 metros de comprimento, 2,62 m de entre-eixos, 1,77 m de largura e 1,61 m de altura. Em comparação com o Corolla Cross, por exemplo, são só 15 centímetros a menos de comprimento, além de – 5,5 cm de largura, – 0,5 cm de altura e – 2 cm de entre-eixos.
Nas fichas técnicas do Yaris Cross no Chile temos ótimos 466 litros de volume no porta-malas na versão híbrida e 471 l nas opções a combustão. No Brasil, o Corolla Cross tem 440 l nas duas variantes.
Nosso teste com o Yaris Cross híbrido foi realizado dentro da área de 128 mil m² (que inclui uma pequena pista de teste) do complexo Movicenter, o maior auto shopping do Chile, em Santiago. Autoesporte agradece à rede de concessionárias Toyota Portillo, que cedeu uma unidade do Yaris Cross Hybrid para nosso teste.
Por mais que o modelo não tenha sido lançado no Brasil, o visual deve ser praticamente idêntico ao que vimos no Chile, mudando no máximo algum detalhe, como o logotipo da marca com contorno azul para simbolizar a eletrificação da versão híbrida, que não existe no país andino e, no Brasil, está nas versões híbridas de Corolla e Corolla Cross, e também existia no Prius.
Visualmente, o SUV não tem nenhuma relação com o Yaris. A dianteira com linhas mais quadradas e elevadas, e uma grade estilo trapézio, lembra muito outro Toyota, o RAV4. A tomada de ar inferior e as luzes de neblina também são parecidas. Outra inspiração clara está nas lanternas traseiras.
No banco de trás, os passageiros viajam com conforto para as pernas — até pessoas da minha altura, 1,87 m. Na versão híbrida chilena há duas saídas de ar-condicionado e duas entradas USB do tipo C. O que não agrada é a qualidade do couro sintético dos assentos, que esquenta muito. Sentado no banco do motorista, vemos um acabamento simples. Se você é do time que não gosta do excesso de plástico na cabine, as notícias não são boas.
No Yaris Cross vendido no Chile, vindo da Ásia, não há nenhum material macio. O quadro de instrumentos digital tem 7 polegadas e exibe o grau de regeneração da bateria e sua porcentagem de carga. A central multimídia flutuante de 10,1″ traz conexão com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Porém, a interface é simples e genérica.
A qualidade da câmera de ré não é boa. E há um espaço logo abaixo da tela no qual se encaixaria perfeitamente um carregador por indução. Só que não há. No Brasil, pelo menos nas versões mais caras, esperamos que aquele nicho seja preenchido com esse carregador.
Ao dar a partida por botão, você logo esquece toda a simplicidade do Yaris Cross e passa a se empolgar com o consumo de combustível. No Chile, o SUV híbrido faz médias de 32,3 km/l na cidade e 24,4 km/l na rodovia com gasolina, segundo a Toyota. É claro que, com nossa gasolina dotada de 30% de etanol, os números do Inmetro devem ser menores, mas Autoesporte pode afirmar que a meta da Toyota no Brasil é chegar aos 25 km/l. Com etanol, os números serão inferiores.
De qualquer maneira, se o Yaris Cross ficar pelo menos na faixa dos 20 km/l, já estará muito à frente de seus rivais. Hyundai Creta e Volkswagen T-Cross, por exemplo, chegam no máximo a 14 km/l com gasolina, dependendo da versão. Corolla e Corolla Cross têm seus defeitos, mas quem já dirigiu um híbrido sabe que a dupla é referência em consumo.
No modo EV, o carro traciona as rodas só com o motor elétrico até cerca de 20 km/h por alguns metros. Ou seja, o conjunto com tensão de 178 volts está lá mais para ser amigo do motor a combustão e aliviar a energia dele. Se o condutor forçar muito, o 1.5 aspirado vai dar boas-vindas e “gritar” alto na cabine.
Não crie expectativas em relação ao desempenho. Os turbinados Creta com motor 1.6 TGDi de 193 cv e T-Cross com o 250 TSI de 150 cv são bem mais espertos em acelerações e retomadas. O negócio do Yaris Cross Hybrid é poupar combustível. Ponto. A suspensão não foi muito exigida em nosso teste, mas nesse quesito os japoneses são especialistas e dá para confiar no bom trabalho.
Um ponto importante é que o tanque de combustível tem apenas 36 litros. Entre os SUVs compactos, a média é de 50 litros. Por outro lado, em um cenário no qual o Yaris Cross faz 32,3 km/l, sua autonomia urbana pode alcançar 1.162 km. Nenhum dos concorrentes chega perto disso.
Em setembro de 2024, Autoesporte foi até a fábrica de Sorocaba para dirigir o último Bandeirante produzido no Brasil, em 2001. Naquela época, as obras de expansão do complexo estavam a todo vapor, com dezenas de caminhões, máquinas e muitos trabalhadores. O Yaris Cross é o primeiro grande projeto da Toyota no investimento de R$ 11 bilhões para o Brasil até 2030, sendo R$ 5 bilhões até 2026.
Na parte de segurança, o Yaris Cross nacional deve trazer seis airbags, sensores de estacionamento e parte do pacote Toyota Safety System (TSS), com frenagem autônoma emergencial e alertas de ponto cego e de evasão de faixa. Itens como freio de estacionamento eletrônico e ar-condicionado digital também podem vir nas opções mais caras. O SUV deve custar entre R$ 130 mil e R$ 180 mil, sendo o novo modelo de entrada da marca.
Dizem que, se os donos de oficinas mecânicas dependerem da Toyota para sobreviver, vão à falência, pois os carros da marca não quebram. Se o Yaris Cross chegar ao Brasil com números próximos aos do Chile, espero que os donos dos postos de combustíveis também não dependam do SUV compacto para se sustentar, porque as visitas serão esporádicas.
Pontos positivos: Visual, espaço interno e ótimo consumo de combustível
Pontos negativos: Acabamentos do interior muito simples e desempenho fraco
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Fonte: direitonews