A resiliência do café diante de um ano de bienalidade baixa: O que esperar da safra de 2025?


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Foto: Cooabriel

Já há um consenso de que haverá uma quebra significativa na safra de café 2025. Em um ano marcado pelo ciclo de baixa bienalidade, os efeitos do estresse hídrico e altas temperaturas em 2024, durante as fases de floração, impactaram a produtividade das lavouras.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) aponta para uma produção, para a temporada 2025/26, de um total de 51,8 milhões de sacas de café beneficiado, representando uma redução de 4,4% em relação à safra anterior. Para o café arábica, a estimativa da Companhia é de uma produção de 34,7 milhões de sacas, representando uma queda de 12,4% em relação ao ano passado, reflexo das intensas adversidades climáticas, especialmente em Minas Gerais. Já para o conilon, a produção deverá alcançar 17,1 milhões de sacas, um crescimento expressivo de 17,2%, impulsionado principalmente pelos bons resultados no Espírito Santo.

Segundo levantamento da StoneX, de forma geral, o clima não apenas reduziu a produção nas regiões de arábica, como também levou a um aumento no número de podas, o que compromete ainda mais o potencial da safra de café 25/26. A consultoria estima uma produção de 64,5 milhões de sacas, totalizando uma queda de 2,1% em relação à produção de 2024/25. O café arábica deverá ter uma produção de 38,7 milhões de sacas, uma queda de 13,5% em comparação com a safra passada, e o café robusta deve alcançar 25,8 milhões de sacas, representando um aumento de 21,9% em relação à safra 24/25.

A Cooxupé, Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé, projeta inicialmente receber, de cooperados e de terceiros, cerca de 5,6 milhões de sacas de café em 2025. Este número representa uma queda de quase 10% em relação a 2024. “O recebimento deve cair por conta do clima. Os tratos culturais foram iguais ou até maiores do que em anos anteriores. O produtor comprou mais insumos porque a relação é muito boa por causa de um bom preço de café, mas, mesmo assim, a safra é menor”, disse Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooperativa.

Por outro lado, para essa temporada, a produção de conilon, em partes, pode compensar a menor safra do arábica. Luiz Carlos Bastianello, presidente da Cooabriel, maior cooperativa de café conilon do Brasil, destaca que as perspectivas para a safra 25 da variedade seguem muito positivas: “O clima contribuiu bastante e as lavouras estão bem carregadas. A abertura oficial da colheita acontece em meados de maio, mas alguns produtores devem antecipar para o final de abril, especialmente no caso dos clones de maturação precoce”, completou.
Mas, de maneira geral, as projeções para a safra atual apontam para um cenário de maior restrição na oferta global de café — isso tudo somado com patamares historicamente baixos de estoques e uma demanda crescente no mercado internacional.

Para o diretor executivo da MM Cafés, Marcus Magalhães, o mercado cafeeiro vive um momento épico: “Temos aí as projeções mais pessimistas que apontam para uma safra em torno dos 50 milhões de sacas e as mais otimistas que estimam entre 64-65 milhões. Se analisarmos o que tivemos de compromisso no ano passado entre exportações e consumo, a mais otimista ainda deixa um déficit de 5 a 8 milhões de sacas, e a mais pessimista, um buraco de 10 a 12 milhões. Temos, então, pela frente uma safra da mão para boca, com estoques a nível zero e com problemas significativos na produção do arábica. Resumindo: já entraremos em 2026 com estoques comprometidos e uma situação que ninguém nunca viu”, explicou.

O analista de mercado e diretor da Pharos Consultoria, Haroldo Bonfá, destaca a preocupação sobre um possível aumento no número das exportações brasileiras neste ano: “Lembrando que, atualmente, os nossos estoques, teoricamente, desapareceram, porque a gente exportou, no final da safra passada, cerca de 45 milhões de sacas, somando aí um total de 22 milhões de sacas consumidas no mercado interno — isso de uma safra de cerca de 67 milhões de sacas. Ou seja, utilizamos todos nossos estoques passados para suprir essa alta demanda. Agora, se o Brasil exportar mais em 2025, em cima de uma safra pequena ou menor, teremos novamente uma passagem para o ano de 2026 com um cenário de muito aperto, que, com certeza, será refletido nos preços futuros”, alertou.

Toda essa situação de clima adverso, estoques baixos, incertezas sobre a oferta global diante de uma demanda resiliente, entre outros aspectos técnicos e especulativos, já trouxeram muita volatilidade para a precificação do mercado futuro e chegaram a resultar em patamares recordes de preços na bolsa de NY no mês de fevereiro (alimentados principalmente pela perspectiva de uma menor safra de arábica no Brasil).

De acordo com o relatório do Itaú BBA, os preços do café arábica seguiram em alta entre o início de fevereiro até 19 de março de 2025, representando um aumento de 4,4% no período. A variedade se destacou entre os mercados de commodities com melhor desempenho em 2024, subindo cerca de 70%.

“Estima-se que o mercado já tenha precificado essa safra em termos de quebra. Isso pode dar equilíbrio aos preços, mesmo com a entrada da nova safra”, comentou Simão Pedro de Lima, diretor-presidente executivo da Expocacer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado). Simão ressalta ainda que a entrada da safra movimenta o volume de negócios e acaba repondo estoques, mas, em boa lógica, só teremos níveis maiores de estoques quando tivermos uma safra maior.

O presidente da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), Pavel Cardoso, relembra que estamos há quatro anos com safras frustradas em razão das questões climáticas que sacrificaram as lavouras de café. “Importante frisar também que a escalada exponencial nos preços dos últimos meses, atingindo recordes históricos, deu-se, notadamente, pela ação de fundos não comerciais que aproveitaram do fundamento racional deste descasamento entre a produção e a demanda global nos últimos quatro anos. Como os estoques de café no Brasil e no mundo estão muito baixos, a expectativa de uma safra mais dentro da normalidade pode ajudar a restabelecer a lógica dos fundamentos para a previsibilidade dos preços. Porém, isso não significa que os preços voltarão aos níveis de 18 meses atrás, mas, sim, que estarão mais próximos de uma razoabilidade, reduzindo a insegurança quanto ao consumo”, projetou.

Fonte: noticiasagricolas

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