‘Uber com armas’: popularização do serviço pode gerar adeptos no Brasil?


Transformar militares da ativa, veteranos do Exército e policiais em guarda-costas armados sob demanda com um clique. Isso é o que faz o Protector, aplicativo disponível nos EUA que permite que usuários contratem escoltas de agentes armados.
Em seu perfil no LinkedIn, o Protector usa o caso do CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson, e simula em um vídeo que a situação teria sido diferente caso agentes contratados através do aplicativo estivessem presentes.
Donald Trump comparece à corrida de automóveis Daytona 500, no Daytona International Speedway, em Daytona Beach, Flórida. EUA, 16 de fevereiro de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 18.02.2025

A iniciativa, para Abian Laginestra, professor e pesquisador em cibersegurança, traz uma materialidade e uma popularização dos chamados contractors — uma espécie de prestador de serviços —, comuns na sociedade americana.

“As Forças Armadas americanas, em muitas missões, elas não usam as próprias tropas, elas usam os contractors. O que você tem de novidade agora é a possibilidade de contratar isso de maneira popular”, explica.

A funcionalidade nos EUA, onde o porte de arma é mais livre e há uma massa que já passou por treinamento militar, “é normal”, segundo o analista. Já em lugares de “violência conflagrada“, como países da América Latina e do Leste Europeu, o uso do aplicativo é “questão de tempo”. Entretanto há desafios para promover esse serviço nesses locais.

Protector pode chegar ao Brasil?

Violência conflagrada, presença de facções criminosas, impossibilidade do Estado de prover a segurança do cidadão: todas essas situações descritas por Laginestra podem pressionar a chegada do Protector no Brasil.
Porém o que pode frear e desencadear outras situações em relação ao serviço são os desafios de operar dentro da legalidade no país.

“Como no Brasil você simplesmente não pode comprar uma arma e se propor a esse serviço, precisa ter uma série de cursos a serem feitos, vai ter uma certa dificuldade operacional para isso ser provido. Talvez o aplicativo não vá ficar na plataforma da Apple, do Android, mas em uma ‘deep web’, e as pessoas vão começar a fazer isso”, sugere o especialista.

Outro problema que pode surgir com o Protector no Brasil, também envolvendo a legislação, é o fato de o aplicativo estar cadastrado na corte de Nova York. Nesse sentido, qualquer ilegalidade geraria ônus ao prestador de serviço, não à empresa.

“Quem presta esse serviço é um cidadão brasileiro […]. Ou seja, a plataforma pode tentar se lançar mesmo infringindo a lei brasileira, mas ela não vai ser alcançada juridicamente.”

Para operar no Brasil, dentro da legalidade, um dos requisitos seria um registro na Polícia Federal para as empresas de segurança, e, para o porte de arma, a necessidade de ter registro no Exército.
Secretário nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Mario Luiz Sarrubbo, em 2 de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 02.04.2024

Guilherme Neves, professor do Ibmec, diretor de cibersegurança da Sociedade Internacional de Automação (ISA, na sigla em inglês) e pesquisador em cibersegurança no Instituto Militar de Engenharia (IME), entende que, caso seja legalizado no Brasil, o Protector funcionaria como um marketplace de empresas de segurança.
O especialista cita profissionais da segurança pública, como policiais, que atuam informalmente em serviços de segurança privada em horário livre, atividade que é regulamentada. Entretanto, a qualidade e o treinamento dos eventuais prestadores de serviço do aplicativo podem ser uma questão nebulosa e que precisaria ser melhor esmiuçada.

“Não é só colocar uma pessoa com a arma que ela vira um segurança. Tem todo um treinamento apropriado, tanto de direção defensiva quanto de abordagem, perímetro, artes marciais, comportamento em público, comunicação, inteligência… Tem toda uma preparação para esse profissional, é saber se esse aplicativo faz essa verificação”, contesta Neves.

Lobby pode acelerar a entrada do serviço no Brasil?

Laginestra destaca que a violência brasileira é, por vezes, vista de forma binária, mas não se percebe que há “diversos atores capturando recursos, monetizando, criando novas formas de negócio” em cima desse problema.
Forças Especiais da Marinha patrulham Buenaventura, a principal cidade portuária da Colômbia, na costa do Pacífico. Colômbia, 28 de março de 2014 - Sputnik Brasil, 1920, 23.09.2024

Hoje há, segundo ele, uma indústria bélica voltada ao Brasil e, consequentemente, um lobby corrente,fruto da violência pública“.

“Pode haver, talvez, uma pressão política muito forte para que isso se torne um serviço legal”, avalia o cenário.

O Brasil pode ser exposto a riscos com a ferramenta?

A atuação na ilegalidade, seja por uso paralelo ou ostensivo do serviço, persistindo contra a lei brasileira, é uma possibilidade aventada por Laginestra, que não demonstra dúvidas de que, ao ser cogitado o uso, esse tipo de serviço começará a ser ofertado.
Outra preocupação, demonstrada desta vez por Neves, é o perigo cibernético atrelado ao vazamento de dados.

“Se não houver uma segurança muito bem feita, se houver vazamento de dados, por exemplo de alguém que está querendo contratar esse aplicativo ou que contratou o serviço, [há o risco] de ele vir a ser um alvo potencial”, comenta.

Ao fim e ao cabo, ao avaliar o que esse tipo de serviço representa, Laginestra o descreve como a “uberização de uma milícia”. E o Estado, “por um vácuo legal ou pelo vácuo neoliberal de ‘podemos tudo para monetizar, é um produto lícito‘, deixa acontecer”.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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