Com tantos figurões na frota de fim de ano, fui contemplado com aquele que talvez seja o mais discreto dos modelos de nossa garagem, o Toyota Corolla Cross. Há um único motivo para ostentação: o SUV carrega o primeiro conjunto híbrido flex do Brasil, lançado em 2019 no Corolla. No entanto, escolhemos o utilitário esportivo em vez do sedã por duas razões.
Uma delas é comercial. Pela primeira vez desde seu lançamento, o SUV superou o Corolla nas vendas, tornando-se o Toyota preferido dos consumidores brasileiros. A segunda é o fato de ter passado recentemente por uma atualização visual, conservando ainda certo frescor e ar de novidade.
Nem tão recente é o conjunto mecânico. Lançado em 2009 na terceira geração do Prius e aprimorado ao longo dos anos, o motor 1.8 aspirado de ciclo Atkinson tem 101 cv de potência e 14,5 kgfm de torque. Há outras duas unidades elétricas, que entregam 72 cv e 16,6 kgfm de torque. Ao contrário do Honda CR-V, na maior parte do tempo os motores atuam juntos, gerando discretíssimos 122 cv.
Tal potência seria adequada em SUVs compactos. No Corolla Cross, com seu corpanzil de quase 4,5 metros e perto de 1,5 tonelada, falta força. A carência foi mais percebida na última das viagens que fiz, entre São Paulo e Socorro, na divisa de São Paulo e Minas Gerais.
Para vencer a subida da Serra da Cantareira na Rodovia Fernão Dias foi preciso lançar mão do modo Sport — que, sempre que possível, combina a cavalaria dos motores a combustão e elétricos. A consequência indesejada, além do tímido aumento da velocidade, é o elevado ruído na cabine. Com perdão pelo trocadilho, eu e os demais ocupantes pedimos socorro antes de chegar a Socorro.
Antes dessa viagem, porém, fiz outras duas, com experiências bem mais positivas. Sem querer dar spoiler, mas o consumo médio de 16,7 km/l após 1.253 km foi mais baixo do que o de um certo SUV híbrido plug-in presente neste especial (desculpe, chefe). A frugalidade só não pode ser apreciada em sua plenitude porque o pequeno tanque de 36 litros nos obriga a abastecer com alguma frequência. No meu caso, foram 75 litros de gasolina, divididos em três passagens pelo posto.
Quando peguei o Corolla Cross, a autonomia era superior a 700 km. Nos primeiros dias, rodei 223 km na cidade, com o ar–condicionado ligado. O consumo ficou na casa dos 18 km/l. Até que resolvi encher os 440 litros do porta-malas e cair na estrada.
Primeira parada: Praia Grande, no litoral sul paulista. O trajeto é curto, de 60 km. Surpreendentemente, desci a Serra do Mar, um percurso de 20 km, sem que o motor a combustão fosse ligado. Melhor: além de não gastar uma gota de gasolina, a bateria chegou à Baixada Santista cheia. A autonomia elétrica, contudo, é limitada, exatamente pela capacidade reduzida de armazenamento: apenas 1,3 kWh.
Na volta, consegui que o consumo não baixasse tanto ao subir a Rodovia dos Imigrantes. A prova mais difícil para o Corolla Cross, no entanto, viria na viagem seguinte, para Monteiro Lobato (SP). Com um trecho de terra de aderência reduzida, o consumo despencou para a menor média de todo o teste: 15,7 km/l. Rodar em velocidades mais altas ou em trechos off-road são as condições menos favoráveis para a economia de combustível no Corolla Cross. Como na maioria dos híbridos, o ciclo urbano, quando a tração elétrica é mais presente, acaba sendo mais vantajoso.
Ainda assim, acredito que o Corolla Cross tenha se saído muito bem, não só na economia de combustível como no conforto. Todos que andaram no SUV elogiaram a maciez da suspensão e a boa vida que o japonês produzido em Sorocaba (SP) proporciona.
A versão testada por nós foi a topo de linha, XRX Hybrid, de R$ 212.890, que oferece um pacote completo de assistências à condução. Há frenagem de emergência, alertas de ponto cego e de saída de faixa com correção no volante e controlador de velocidade adaptativo.
O teto solar poderia ser maior, mas o painel digital, o ar-condicionado de duas zonas e os bancos de couro com ajustes elétricos para o motorista compensam. Ao estacionar na garagem depois de três semanas concluí que, apesar de ser o mais discreto dos híbridos deste especial, o Corolla Cross pode ser o melhor parceiro de viagens, por não depender de recargas externas e, ainda assim, ter consumo de modelos plug-in. Mas bem que a Toyota poderia trocar o motor 1.8 pelo 2.0 do Lexus UX300h, que rende quase 200 cv.
Pontos positivos: Bebe como um plug-in, mas não depende da estrutura de recarga; muito confortável
Pontos negativos: Tanque de combustível pequeno limita autonomia; desempenho é pífio
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Fonte: direitonews