“Já em 2024 isso não aconteceu. A gente esgotou nossa capacidade produtiva ali no final de 2023. Você teve aquela crise de alimentos, com quebra de safra, com [as enchentes no] Rio Grande do Sul, com injeção de dinheiro, sem necessariamente produção. Tudo isso gerou uma manutenção do grau de aquecimento da renda das famílias, só que por outro lado não tinha produção. Quando não há produção, começa uma disputa pelo mesmo produto, e as pessoas que pagam mais levam. Você gera inflação.”
O BC poderia conter a inflação sem elevar a taxa de juros?
“O Banco Central só tem um mecanismo de conter a inflação, que é a taxa de juros, é desacelerar a economia. Isso não é só aqui, é no FED [Federal Reserve, o banco central dos EUA], no Banco Central europeu, em todo o mundo. O Banco Central não é gerador de demanda, ele não consegue diminuir a demanda via cortar transferência. Ele consegue diminuir a demanda pressionando as pessoas a evitar o gasto, dificultando o crédito”, explica.
Como a alta inflacionária se relaciona com a alta do dólar?
“Como muitos dos nossos produtos dependem de insumos ou matérias-primas importadas, na medida em que o dólar aumenta, o preço final dos nossos produtos também aumenta. É o caso da gasolina, do azeite, dos eletroeletrônicos, dos automóveis.”
“As pessoas falam: ‘Ah, mas a gente produz todo o combustível, todos os alimentos’, e o empresário [diz]: ‘Eu vou vender pelo maior preço possível. Se lá fora estão comprando pagando mais caro, eu vou vender para fora, eu não vou vender para dentro.'”
Por que as medidas de corte do governo falharam em causar impacto?
“A verdade é que a equipe econômica, o Haddad, a Simone Tebet, a Esther Dweck, eles estão remando contra o governo, que gosta de gastar dinheiro. Lula é um cara que sofre quando tem que cortar. Ele é a favor de gastar, acha que tem que dar dinheiro para as pessoas. Obviamente que não tem nada de errado no que ele está falando sobre ajudar as classes no Brasil, que tem uma desigualdade muito grande. A questão é que não dá para você ajudar tirando de outras fontes dinheiro.”
“Essa retórica é um artifício político consagrado que, infelizmente, funciona politicamente, mas não traz qualquer efeito prático real. Quem tem muito dinheiro, tanto quanto tem pouco dinheiro, usa as informações que dispõe para tentar antecipar ações das autoridades monetárias e, dessa forma, proteger seus próprios patrimônios ou de seus clientes. Todos os governos do mundo sabem disso e agem e reagem a essa realidade econômica. Então, sim, há especulação, mas supor que suas causas sejam pura ‘malvadeza’ é reduzir bastante o entendimento sobre o problema.”
“Acho que haverá melhorias, mas abaixo das expectativas do governo. Quanto ao cenário externo, as incertezas são maiores. Elas podem, eventualmente, descompensar todo e qualquer esforço interno, embora essa aposta seja um pouco extrema”, conclui.
Fonte: sputniknewsbrasil