Genocídio em Gaza expõe barbárie do lobby sionista e da indústria bélica mundial, dizem analistas


Nesta edição do podcast internacional da Sputnik Brasil, foi ressaltado que a discrepância entre os fatos e a narrativa do Ocidente evidencia o aumento do comprometimento e da cumplicidade das grandes potências com o genocídio em curso perpetrado por Israel contra o povo palestino.
Doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em estudos árabes e professor da Habib University, no Paquistão, Gabriel Mathias Soares pontuou que o aumento sem precedentes de ajuda norte-americana ao governo do premiê Benjamin Netanyahu, que já atinge quase US$ 20 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões) em menos de um ano, mais de meio milhão de toneladas de munições e armamentos, e o envio de sistemas de defesa dos mais avançados provam que os EUA e Israel nunca estiveram tão próximos.

“[…] Nunca há qualquer condenação expressa de ações que resultaram comprovadamente na morte de dezenas, centenas de civis, mesmo agora no Líbano. Inclusive no Líbano há uma questão que é, dentro destas várias contradições que podem existir, os Estados Unidos serem um dos financiadores e apoiadores [dos libaneses], treinando também o Exército libanês — porque existe um Exército libanês, apesar das milícias, como o Hezbollah e algumas que hoje em dia são muito pequenas, como as Forças Libanesas, que é um grupo mais cristão de extrema-direita.”

O analista comentou que as perdas com a guerra são menores que os ganhos para o governo de Israel, que tem lucrado em setores estratégicos, como o militar, com venda de tecnologias testadas nos ataques.
Inclusive, salientou ele, alianças e cumplicidades de países da região devem-se, em grande parte, às transações comerciais envolvendo tecnologia israelense.

“Embora não exista uma inimizade oficial, existe uma relação tensa entre o Azerbaijão e o Irã, e a maior parte do equipamento militar que o Azerbaijão tem, inclusive que foi usado na limpeza étnica contra a população ameríndia de Nagorno-Karabakh ou Artsakh, como eles chamam, foi importada de Israel”, disse ele, ao destacar que o Azerbaijão é o principal fornecedor de combustível de Israel.

Esse lobby também permite certa “normalização” das relações com os vizinhos Bahrein e Emirados Árabes Unidos, acrescentou o especialista em estudos árabes:
“Torna a relação com a região muito mais amigável, e com apoio inclusive direto ou indireto, até mesmo em ações militares, como na defesa contra foguetes e mísseis que estão sendo disparados de outros territórios. A confluência de interesses estratégicos amplos entre Israel e países aliados é muito mais forte do que as divergências expressas.”
Como a continuidade da guerra é de interesse de Netanyahu, que enfrentava oposição desde o ano passado, sem a interferência externa das grandes potências, o fim do conflito é incerto, ponderou.
Shajar Goldwaser, pesquisador em relações internacionais do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e do coletivo Vozes Judaicas por Libertação, elencou interesses materiais que tornam discursos inflamados e indignados de entidades internacionais e países contra os ataques pura retórica.

“Ou seja, cada bomba que Israel lança em cima de palestinos ou libaneses, nada é de graça. Essa bomba foi fabricada por uma empresa, essa empresa vendeu essa bomba a Israel ou aos Estados Unidos, porque os Estados Unidos estão transferindo armas e dinheiro para Israel para compra de equipamentos ou para o uso desse equipamento”, disse ele.

O pesquisador citou também os setores imobiliário e de infraestrutura, com projetos de reconstrução de Gaza a partir de novos hotéis e condomínios privados nos territórios destruídos.
Paralelamente aos interesses materiais, existe ainda o soft power meticulosamente orquestrado pelo Estado sionista desde sua criação, segundo Goldwaser.

“Israel é um caso bem-sucedido de lobby, ou seja, o movimento sionista, na sua origem, conseguiu de fato convencer as nações imperialistas a cederem, a contribuírem com a construção do Estado de Israel, tanto que os aliados de Israel sempre foram potências estrangeiras — Estados Unidos e, principalmente na origem, Inglaterra e França”, lembrou ele.

O internacionalista frisou que o soft power israelense age primordialmente com a comunidade judaica do mundo, cuja maioria torna-se propagadora da narrativa sionista.

“O soft power israelense foi construído pelos judeus que vivem dentro de Israel. Os judeus que vivem fora de Israel são os primeiros convencidos. A grande maioria esmagadora dos judeus ou, principalmente, das instituições judaicas estão alinhadas à política e à narrativa israelenses, sendo as primeiras impactadas pelo soft power”, afirmou.

Libaneses usam escavadeiras para remover escombros no local de um ataque israelense perpetrado no sul de Beirute, no Líbano, em 23 de setembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 16.10.2024

Outro ponto fundamental do soft power israelense, elencou Goldwaser, é a ideia de que qualquer crítica a Israel é antissemita.

“Isso é uma das bases das políticas. Existe em Israel, dentro do Ministério das Relações Exteriores, uma secretaria específica que é chamada de Hasbará. Hasbará, em hebraico, significa explicação. E é basicamente uma agência de políticas públicas […] que tem como objetivos divulgar a narrativa israelense e defender, digamos assim, a imagem de Israel. E um dos principais pilares da Hasbará, dessa defesa de Israel a qualquer custo, é a ideia de que qualquer crítica a Israel é antissemita”, explicou.

Logo, argumentou ele, crimes que Israel está cometendo seriam uma ação contra o antissemitismo, com o argumento de que a integridade física das comunidades judaicas está em risco.
Com essa narrativa influente e sustentada pelos parceiros ocidentais, Israel tem “chutado o direito internacional” impunemente, criticou:

“Se você pegar as ações do Estado do Israel — não estou falando do último ano, estou falando desde a sua criação —, Israel violou sistematicamente diversas convenções de direito internacional, direitos humanos; todas as convenções sobre crime de apartheid; as convenções sobre guerra, sobre direito de refugiados… Enfim, diversos crimes.”

Segundo ele, Israel vende ao mundo a ideia de que o conflito atual que está travando é uma guerra entre a civilização e a barbárie, ao mesmo tempo que impõe regime de apartheid à população palestina.

“E, de fato, as vidas israelenses importam muito mais para o Ocidente do que as vidas palestinas. Os próprios direitos, a própria ideia de que os israelenses teriam direito ao Estado, direito ao território, direito à soberania, ela não se aplica aos palestinos, que não têm esses direitos.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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