Copa do Mundo de 1994. Branco se posiciona para cobrar uma falta contra a meta da Holanda, aos 35 minutos do segundo tempo. A pancada passa pela barreira e quase atinge Romário, prestes a iniciar uma infiltração para pegar um eventual rebote. O baixinho saca a jogada e usa sua elasticidade para apenas deslocar o quadril e se desviar da bola. É o gol do Brasil, selando a vitória por 3 a 2.
Por que falar desse lance em um comparativo caseiro entre Citroën Basalt e Fiat Fastback? Ora, este é o exemplo perfeito de trabalho em equipe. Os SUVs compactos jogam juntos pela hegemonia da Stellantis, líder absoluta de vendas no Brasil desde que foi fundada. Tal como Romário e a cobrança impecável de Branco, um não precisa ficar na frente do outro — mas um duelo entre os dois para decidir qual é o “cara” do jogo é inevitável. Também fizemos este mesmo comparativo em vídeo. Veja abaixo:
As propostas são idênticas: trazer o apelo dos SUVs cupês ao segmento de entrada. Só que os preços não se cruzam em momento algum. É como se Basalt e Fastback formassem uma “escadinha”.
O Basalt parte de R$ 89.990 na versão Feel 1.0 manual e chega a R$ 107.390 na configuração First Edition T200 turbo, ainda em valores promocionais de lançamento. Depois, será reajustado para cifras entre R$ 96.990 e R$ 118.290, conforme antecipado no próprio site da marca francesa. Já o Fastback começa em R$ 119.990 no pacote Turbo 200 e vai até R$ 167.990 na versão esportiva Abarth Turbo 270.
Para este comparativo, trouxemos as versões Shine T200 do Basalt (R$ 104.990, que depois virarão R$ 115.890) e Turbo 200 do Fastback (R$ 119.990). Como essa versão não estava disponível na frota da Fiat, o Fastback das fotos é o Impetus (R$ 159.990). O objetivo aqui é entender se vale a pena economizar e comprar o Basalt mais equipado no lugar do Fastback de entrada.
Antes, elaboremos um pouco sobre o atleta estreante. O Basalt é produzido em Porto Real (RJ) sobre a mesma plataforma CMP de C3 e Aircross. É evidente que a Stellantis teve mais tempo para refinar essa base técnica e entregar, com o Basalt, um carro mais maduro. O C3, vale lembrar, estava quase pronto antes da fusão entre as donas de Fiat e Citroën, em 2021.
Projeto global, também oferecido na Índia (com várias superiroridades em comparação com o brasileiro), o Basalt tem 4,34 metros de comprimento, 1,58 m de altura, 1,82 m de largura e 2,64 m de entre-eixos — 1 centímetro a menos que um Volkswagen T-Cross.
Já o porta-malas tem 490 litros de capacidade em padrão VDA. Do outro lado, o Fastback mede 4,42 m de comprimento (+8 cm), 1,54 m de altura (-4 cm), 1,74 m de largura (-8 cm) e 2,53 m de entre-eixos (-11 cm). O porta-malas, no mesmo padrão, tem 516 litros (+26 l).
Nesse quesito, há alguns parâmetros interessantes. O Fastback é mais comprido, mas sua cabine não é espaçosa como a do Basalt. Muito pelo contrário: tenho 1,84 m e me sinto extremamente apertado no banco traseiro do Fiat. Meus joelhos inevitavelmente raspam nos encostos dianteiros.
O Citroën tem mais espaço, com folga de cerca de quatro dedos entre meus meniscos e o banco frontal. No fim, os centímetros longitudinais extras do Fiat servem para oferecer um melhor volume de porta-malas.
Quando falamos sobre construção geral e acabamento, o Fastback ainda leva vantagem sobre o Basalt por trazer maior variedade de texturas e visual mais moderno, ainda que tenha sido lançado anos antes. Perdoamos esses detalhes no SUV cupê francês quando consideramos a diferença de preço.
Em ambos os casos, há extenso uso de plástico duro no painel e nas portas, com rebarbas que incomodam (por exemplo, no porta-luvas do Fastback). Contudo, a montagem inspira solidez pelos encaixes mais firmes.
O Basalt foi pensado em função da simplicidade. Não tem ajuste de profundidade do volante. Os quebra-sóis trazem espelhos pequenos, sem abertura ou uma alça para fixar o documento. Iluminação exclusiva? Nem como opcional.
Outra característica rústica é o acionamento dos vidros traseiros, posicionado no console central por economia para que motorista e passageiros usem o mesmo mecanismo. Cartão amarelo para o Citroën pela evidente economia de custos. Isso sem falar que, na Índia, o SUV francês tem seis airbags de série (frontais, laterais e cortinas). Para o Brasil, são apenas quatro bolsas.
O ponto forte da cabine do Basalt é a larga central multimídia de 10 polegadas com conectividade Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Na versão mais em conta do Fastback, são 8,4’’. A interface nativa da Citroën é bonita e as respostas são rápidas. Mas vale a atenção, pois o sistema travou durante nosso teste e tivemos de trocar de carro.
Por outro lado, como é bom dirigir um carro em que os controles do ar-condicionado não são integrados à tela principal. Coisa rara no futebol automotivo moderno… O painel de instrumentos digital de 7’’ é outra característica que pesa a favor do Basalt. No Fastback 200 Turbo, o display tem só 3,5’’, posicionado entre dois mostradores analógicos.
O elenco da Stellantis está em forma. Quem impulsiona nossos atletas é o mesmo motor 1.0 GSE turbo flex de três cilindros, com 12 válvulas, injeção direta e comandos com variação eletropneumática, capaz de entregar até 130 cv de potência e 20,4 kgfm de torque. Outro ponto em comum é o câmbio CVT, que faz a excelente simulação de sete marchas.
Esse conjunto revela boa dose de maturidade para ambos os SUVs. O destaque vai para o ótimo entrosamento entre motor e câmbio, como o de Pelé e Garrincha na Seleção. Muitos motoristas nem vão perceber que se trata de uma caixa continuamente variável.
Motor e câmbio fazem uma “tabelinha” inteligente e reativa na relação das polias do câmbio. Basta pressionar o acelerador com mais força para obter torque cheio em qualquer circunstância. No Rota 127 Campo de Provas, o Citroën foi de zero a 100 km/h em 9,7 segundos, contra 8,7 s do SUV da Fiat. O que explica essa diferença, uma vez que o Fastback é mais comprido e pesado? Por ter uma traseira mais prolongada, a aerodinâmica do Fiat é superior e faz diferença, como aquele atacante aparentemente pesado e lento, mas que corre mais do que qualquer marcador.
A dinâmica de condução também muda muito entre os dois. O Basalt tem isolamento acústico inferior para filtrar os ruídos de motor e externos (não que o do Fastback seja bom, ok?).
A altas velocidades, o vento irrompe na cabine e é preciso elevar a voz para manter o papo em dia. Já o Fastback aparenta ser um carro mais amigável no uso cotidiano: direção mais firme e não tão anestesiada, conforto acústico melhor e possibilidade de acionar o modo Sport caso o motorista queira uma condução um pouco mais direta e responsiva.
Mas existe um ponto que me agradou muito mais no Basalt do que no Fastback: o acerto de suspensão, que já virou tradição nos Citroën. Por causa dos balanços avantajados, o Fastback se torna uma “gangorra” ao passar por certas irregularidades no solo, principalmente lombadas. O SUV da Fiat é desengonçado como um carro que aparenta não ter nascido para ter esse corpanzil. Talvez seja esse o caso, julgando que sua base estrutural é o Cronos, mas com um balanço traseiro mais alto.
Pelo Inmetro, o Basalt marca 8,3 km/l na cidade e 9,6 km/l na estrada com etanol. Com gasolina, são 11,9 km/l (urbano) e 13,7 km/l (rodoviário). No meu teste com o Basalt, obtive 8,1 km/l na cidade com etanol. Poderia ter sido melhor, se eu tivesse usado mais o indicador de economia de combustível no painel digital. O Fastback tem consumo oficial um pouco melhor na estrada (veja a ficha técnica), em razão da aerodinâmica, mas o que consegui na cidade, ambiente onde os brasileiros mais rodam, foi 7,9 km/l com etanol.
A chegada do Citroën Basalt ao time dos carros T200 (ou Turbo 200) da Stellantis é como a revelação de uma joia da base. Além de entregar uma experiência convincente ao volante e oferecer excelente espaço interno, o novo SUV compacto tem bom custo/benefício: você gastará menos para manter essa jovem promessa no elenco, graças às cotações de seguro e revisões. Porém, mesmo com espaço acanhado, o Fastback é a estrela do time — tanto que já emplacou 39 mil unidades em dez meses.
Como nesse jogo não há empate, um deles precisa receber o prêmio “Craque do Jogo”. Dessa vez, será o Fiat Fastback Turbo 200. Sua pompa de carrão é atraente, por mais que o Basalt tenha a cabine mais espaçosa. E a lista de equipamentos é melhor, mesmo na versão de entrada. Enquanto os SUVs não atrapalharem um ao outro, como Branco e Romário em 1994, o sucesso dessa seleção está garantido.
Em vitória muito apertada, o SUV cupê da Fiat peca pelo espaço comedido, mas demonstra mais maturidade em aspectos como conforto, desempenho e equipamentos. Para quem gosta de estilo, mas leva o custo/benefício muito a sério na hora de escolher um carro, o Basalt pode ser a opção mais racional. Confira as fichas técnicas, os resultados dos testes instrumentados e outras informações sobre os modelos abaixo.
*Seguro: o valor é uma média entre as cotações das principais seguradoras do país com base no perfil padrão de Autoesporte, sem bônus. O levantamento foi feito pela Minuto Seguros
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Fonte: direitonews