Teste: Land Rover Defender clássico de R$ 1,4 mi tem vida nova com motor V8


É dia 29 de janeiro de 2016. Solihull, na Inglaterra. O último Land Rover Defender, feito por 67 anos ininterruptos com poucas mudanças, atravessa a linha de montagem sob os aplausos dos funcionários da fábrica. Vê-se todo tipo de reação: sorrisos, lágrimas, gargalhadas, comemorações. Após tantas décadas, este verdadeiro ícone britânico ficaria apenas na memória daqueles que o amam.

Um pequeno grupo de executivos da então Land Rover — hoje abreviada como JLR — não parecia tão comovido. Eles sabiam que aquele não era o fim da história do carismático aventureiro.

Autoesporte foi até a Inglaterra para dirigir o Defender Classic Works, a “nova” velha roupagem do jipão, e desvendar os bastidores de sua criação. Graças a um programa de restauração e toques de criatividade, o modelo tem lenha para queimar por mais alguns anos.

O programa Classic Works foi criado em 2018 para manter aceso o patrimônio histórico da JLR. Por ele, os clientes podem adquirir o Defender clássico com motor V8 e roupagens exclusivas. A customização é parte fundamental deste projeto, tanto que o modelo até retornou para o configurador do site oficial da marca.

Primeiro, a JLR se lança ao mercado de usados para garimpar unidades em bom estado do Defender produzidas entre 2012 e 2016. Muitos clientes se sentem honrados em contribuir com o projeto, contou Paul Barritt, chefe do programa Classic Works. O jipe é levado a Coventry, na oficina, para ser desmontado. Este é o passo inicial da restauração.

Cada peça é meticulosamente analisada pela equipe de engenharia — e o que precisa ser substituído vem do acervo residual da própria montagem do Defender antigo. O chassi é trocado em todos os casos, mesmo quando o estado de conservação é bom. Essa é a única parte estrutural do antigo Defender produzida na Inglaterra até hoje, em um método old school com pouca automatização.

Outro componente totalmente novo é o motor V8 5.0 a gasolina, que desenvolve 405 cv de potência e 51 kgfm de torque, sempre com a transmissão automática de oito velocidades e tração 4×4. O câmbio é o mesmo que equipa a atual geração do Defender.

Quanto à carroceria, praticamente tudo é reaproveitado. Existem casos em que uma unidade se torna doadora de componentes a outras. Dessa forma, dois carros podem acabar se tornando um nas entranhas da oficina.

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O trabalho de funilaria é o mesmo de quando o jipe era produzido oficialmente, mas a marca disponibilizou novas opções de cores. Ao todo, são 50 tonalidades. Julgando que os clientes também podem escolher a cor do teto, é difícil de imaginar que um Defender deixará a fábrica de Coventry exatamente igual ao outro.

Sobre acabamento interno e tapeçaria, tudo é feito do zero. Os proprietários também podem combinar várias opções de cores e materiais para deixar o Defender com sua própria personalidade. As texturas de todos os materiais são ótimas. Afinal, o jipão continua sendo um ícone fashion britânico mesmo com quase 80 anos.

Essa reedição do Defender certamente não é para qualquer um. Após todo o trabalho de curadoria e restauração, o jipão não sai da loja por menos de 190 mil libras. Em conversão direta, equivale a R$ 1,38 milhão. A edição especial Islay, limitada a 30 unidades, chega a 245 mil libras, ou R$ 1,71 milhão.

Rodei por cerca de 150 km no interior da Inglaterra — mais especificamente entre as cidades de Chichester (onde está o famoso autódromo de Goodwood) e Coventry (uma das sedes da JLR). O trajeto ainda incluiu uma atividade off-road bem desafiadora.

O primeiro percalço foi me acostumar com a mão inglesa. Contei mais sobre isso neste outro artigo. Superado este empecilho, pude curtir um dos carros mais legais que já dirigi na vida.

Como não poderia ser diferente, o motor de oito canecos vibra bastante. O Defender tem um comportamento sempre aceso, com muito vigor para retomadas e ultrapassagens. Nas mãos de motoristas menos treinados, chega a ser perigosa a descarga de tanta potência em um carro como este: alto, com pneus imensos e uma suspensão voltada ao off-road.

Afundo a sola do meu Converse no acelerador e sinto as costas grudarem no banco. O jipão vai de zero a 100 km/h em 5,6 segundos — algo totalmente desproporcional para um veículo da categoria. Mantê-lo em linha reta é uma verdadeira batalha. É preciso fazer movimentos intermitentes no volante para não perder o controle. Ao final de cada acelerada, um sorriso no rosto.

A parte mais legal do Defender é que se trata de um carro raiz. Os aventureiros modernos se transformaram ao ponto da eletrônica fazer tudo pelo motorista, como no Ford Bronco, Jeep Wrangler e até o novo Defender. Mas deixemos este futuro automatizado de lado por alguns instantes. O que realmente importa aqui é a conexão visceral entre homem e máquina.

Não espere um seletor de modos de condução programado para rodar no cascalho ou na neve. O Defender Classic Works traz apenas um seletor simples de tração, com as configurações 4×2, 4×4 e 4×4 reduzida — e nada mais. Obstáculos como pedras escorregadias, lama e cascalho mal oferecem uma provocação ao bólido aventureiro. Assim, a impressão é de que pode subir até as paredes.

Há também um caráter mais rústico no Defender. Ao ligar o ar-condicionado, por exemplo, a carroceria treme por inteiro. O compressor exige muito de sua composição elétrica rudimentar. Além disso, o som característico das portas se fechando transporta o motorista diretamente a 1948.

Como é gostoso ver um carro legal como o Defender ter uma segunda chance para contar novas histórias. Infelizmente, os clientes do Brasil ficarão chupando o dedo. Isso porque o SUV é vendido com seu ano original de produção, por mais que chassi, motor e transmissão sejam totalmente novos.

Então, o Defender Classic Works só poderá ser importado para cá quando completar 30 anos, a não ser que alguma mudança na legislação aconteça antes disso. Levo comigo a honra de ter sido um dos únicos brasileiros a dirigi-lo.

Como o Palácio de Buckingham, as cabines telefônicas de Londres e o Big Ben, o Defender carrega uma parte da história da Inglaterra. Fazia tempo que um carro não me proporcionava tantas experiências fortes ao volante. Voltei ao Brasil com a ideia de que a Volkswagen poderia fazer algo do tipo com a Kombi. Você concorda?

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Fonte: direitonews

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