A Polícia Federal deflagrou nesta quinta (8) a segunda fase da Operação Trapiche, que investiga um esquema de financiamento a atos de terrorismo em território nacional. É um desdobramento da primeira etapa desencadeada em novembro do ano passado que prendeu dois suspeitos de ligação com o grupo libanês Hezbollah, que estaria tentando recrutar brasileiros para ações contra edifícios da comunidade judaica no Brasil, como sinagogas e outras estruturas.
De acordo com a PF, a investigação descobriu que um homem, o principal investigado, se aproveitava da “situação de vulnerabilidade de imigrantes e refugiados” e utilizou dados pessoais deles para abrir contas bancárias e empresas por onde circulou recursos de origem ilícita. Ele se utilizava do comércio ilegal de cigarros eletrônicos e tabacarias para financiar as atividades.
Ao todo, foram expedidos um mandado de prisão preventiva, oito mandados de busca e apreensão e sequestro de valores e bloqueios de contas bancárias, bem como a suspensão da atividade econômica de empresas nas cidades de Belo Horizonte, Uberlândia (MG), Contagem (MG), São Paulo e Brasília.
Pelo menos cinco tabacarias de Minas Gerais foram fechadas pelos agentes, em Belo Horizonte, Lagoa Santa, Contagem e em Uberlândia, segundo apurou o jornal Estado de Minas. Todas elas tinham a mesma razão social, embora sejam de empreendedores diferentes.
“As evidências reunidas no inquérito policial indicam que passagens aéreas utilizadas pelos brasileiros recrutados para viajarem ao exterior, onde foram entrevistados a fim de serem selecionados pela organização terrorista, foram financiadas com proventos do comércio ilícito de cigarros eletrônicos contrabandeados e vendidos em lojas de tabacarias no Brasil”, completa a PF.
A Polícia Federal afirma, ainda, que parte dos recursos do contrabando foi destinada a contas bancárias de empresas de fachada que fazem parte do esquema – apontado como “bilionário” – de evasão de divisas e lavagem de dinheiro descoberto pela Operação Colossus, também deflagrada pela Polícia Federal em janeiro deste ano e que apurou uma movimentação de mais de R$ 1,4 bilhão.
“Após uma sucessão de transferências entre contas de empresas de fachada, os recursos ilícitos foram convertidos em criptoativos e destinados a carteiras sancionadas por apresentarem vínculos com organizações terroristas”, completa a PF.
Os envolvidos, diz a autoridade, podem responder pelos crimes de contrabando, integração de organização terrorista, atos preparatórios de terrorismo, financiamento ao terrorismo e lavagem de dinheiro, com penas máximas que, se somadas, chegam a 75 anos e 6 meses de reclusão. A operação foi batizada de “Trapiche-FT”, em referência a “financiamento ao terrorismo”.
Segundo a PF, mandados de busca e apreensão foram cumpridos também em tabacarias, como esta interditada pela autoridade:
Serviço secreto israelense ajudou na primeira fase
Na época da deflagração da primeira fase da Operação Trapiche, o serviço secreto israelense – a Mossad – auxiliou na investigação contra o esquema. Em uma nota na internet, o gabinete do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu afirmou que “os serviços de segurança brasileiros, juntamente com o Mossad”, e outras agências de segurança internacionais, “frustraram um ataque terrorista no Brasil, planejado pela organização terrorista Hezbollah, dirigida e financiada pelo Irã”.
“O Mossad agradece às autoridades brasileiras por seu papel na prisão da célula terrorista operando sob ordens do Hezbollah, que pretendia lançar um ataque contra alvos da comunidade judaica no Brasil”, diz o comunicado. “Tendo como pano de fundo a guerra em Gaza contra a organização terrorista Hamas, o Hezbollah e o regime iraniano continuam a operar em todo o mundo para atacar alvos israelenses, judeus e ocidentais”, ressaltou o gabinete.
A operação também foi realizada nos mesmos três estados alvos nesta quinta (8), com o cumprimento de dois mandados de prisão temporária e 11 de busca e apreensão. Um deles foi um homem preso ao desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, vindo de uma viagem ao Líbano – país base do Hezbollah.
Fonte: gazetadopovo