Grupo de trabalhadoras rurais conquista oportunidade inédita em usina da Paraíba


Em agosto, mês em que é comemorado o “Agosto Lilás”, período para conscientizar e combater a violência contra a mulher, um grupo de mulheres trabalhadoras rurais terá uma oportunidade inédita em uma das principais usinas de açúcar e etanol da Paraíba. Com entusiasmo e esperança, 43 mulheres participaram na tarde do último dia 6 do processo de integração de novos colaboradores da Japungu Agroindustrial, situada na zona rural de Santa Rita, região metropolitana de João Pessoa.

Essas novas colaboradoras trabalharão na manutenção de gotejos, função anteriormente desempenhada apenas por homens. Esse grupo inovador é composto por mulheres de comunidades socialmente vulneráveis de Santa Rita, como Bebelândia, Lerolândia e Pitombeira. Muitas dessas mulheres têm maridos que já trabalham na Japungu e, agora, poderão iniciar um trabalho formal na própria região, sem a necessidade de deslocamento para outros centros, como João Pessoa.

Durante a integração, as novas colaboradoras foram acolhidas por membros da equipe da Japungu, como Dantes Guimarães (gerente agrícola), Roberta Trindade (assistente social), Tatiane Santos (coordenadora de gestão de certificações), Alexandre Guerra (engenheiro agrícola), entre outros presentes nesse momento significativo.

O processo de recrutamento ocorreu há cerca de um mês, atraindo aproximadamente 80 candidatas, impressionando o setor. No entanto, para a assistente social Roberta Trindade, que está na empresa há 18 anos, isso não foi uma surpresa. “Tudo o que essas mulheres precisam é de uma oportunidade e agora elas estão tendo”, afirmou Roberta, que também atua na parte de gestão de programas e projetos sociais da Japungu, assim como nas relações com as comunidades em torno da usina.  

O setor de Recursos Humanos informou que todo o processo está sendo cuidadosamente planejado e executado. O Dr. Dante Guimarães, que acompanha a integração da Japungu há décadas, deu as boas-vindas ao grupo e as incentivou a desempenhar suas funções com dedicação.

Algumas das mulheres compartilharam seus testemunhos sobre como essa oportunidade abrirá novos caminhos. A técnica de enfermagem Maria Madalena Silva, moradora de Lerolândia, declarou: “Há muitos benefícios em trabalhar perto de casa, com a segurança que a empresa oferece. Estou muito animada e feliz, porque tudo é muito novo e podemos superar nossos limites. Lugar de mulher também é no trabalho e quero ajudar meu marido tanto em casa quanto financeiramente. Eu já estava exausta de trabalhar fora, como em João Pessoa. Quem teve a ideia de contratar mulheres merece tudo de bom”, destacou.

Sistema de irrigação é fundamental para a empresa

As recém-contratadas pela usina trabalharão em um setor essencial: a manutenção de gotejos do sistema de irrigação. A Japungu Agroindustrial é reconhecida pela eficiência de seu sistema de irrigação por gotejamento, considerado o segundo melhor do Brasil e um dos dez maiores do mundo. Esse sistema permite irrigar diretamente na raiz da cana-de-açúcar, além de aplicar adubos e fungicidas para promover o crescimento saudável das plantas. Atualmente, 8.500 hectares estão irrigados com essa tecnologia, que está em expansão.

Integração com peça teatral retrata contexto dos trabalhadores

Durante a integração da Japungu, que esse ano comemora 20 anos, é tradição apresentar uma peça teatral com temas relevantes para os trabalhadores rurais. Esse ano, a peça “Trabalho de Verdade é sem Vício e sem Clandestinidade”, encenada pela Companhia Paraibana de Dramas e Comédias, abordou questões como o vício em apostas online (bets e “jogo do tigrinho”) e os perigos do trabalho clandestino.

A peça narra a história de Pedrinho, casado com Nazaré, que se envolve com apostas online por influência de um amigo, acreditando em vantagens financeiras. No entanto, ele começa a desestruturar sua vida, volta a beber, falta no trabalho, perde as economias da família, envolve-se com trabalho clandestino e enfrenta conflitos com sua esposa Nazaré.

O diretor e ator da companhia teatral, Erivan Lima, explicou que a ideia principal veio de um estudo realizado pela equipe social e de recursos humanos da usina desde março deste ano. “Muitos homens estão se envolvendo com apostas online achando que vão se dar bem e acabam perdendo tudo, até vendendo carros e caindo nas mãos de agiotas. Outro ponto importante é o trabalho clandestino, que não tem nenhuma segurança ou garantias, correndo sérios riscos de acidentes,” disse Erivan.

Erivan também mencionou que a recepção da peça foi positiva, especialmente entre as mulheres, que se identificaram fortemente com o tema.

A atriz paraibana Ana Tavares, que interpretou Nazaré, reforçou a importância da mensagem. “Fizemos um alerta sobre os jogos de aposta online, como o tigrinho e a bet, para que os trabalhadores não caiam nesse vício, pois muitos homens perdem todas as suas economias. A personagem Nazaré nunca trabalhou fora e sempre se dedicou à família, enfrentando dificuldades financeiras. Na peça, é uma vizinha que a ajuda, mostrando a solidariedade entre mulheres. A receptividade na usina foi incrível, muitas mulheres vieram conversar comigo emocionadas, especialmente pela cena final que retrata a trajetória de uma mulher tão sofrida. A peça traz reflexões sobre relações abusivas e incentiva as mulheres a ocuparem seu espaço no trabalho e retomarem os estudos,” afirmou a atriz, que compartilhou também sua experiência pessoal de superação, tendo vindo de uma família desfavorecida financeiramente e alcançado o título de doutora em Ciência da Informação.

Fonte: noticiasagricolas

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