Em uma competição de MMA, para tentar vencer, o lutador utiliza golpes de mais de uma arte marcial. Algo que se assemelha com o setor automotivo, no qual cada veículo precisa de mais de um ponto forte para se destacar no mercado. Na luta das picapes médias, essa versatilidade é ainda mais importante. Aqui, o card principal tem Toyota Hilux, Ford Ranger e Chevrolet S10.
Considerando só as vendas, a favorita nas casas de apostas seria a Hilux. Mas, logo atrás, a nova geração da Ranger e a S10 atualizada buscam melhorar as probabilidades, recuperar números e aumentar o nível da competição. Será possível? É o que veremos agora, porque… IT’S TIME!
Ao soar o gongo, a luta começa. É um trio histórico, que briga pelo título e não dá espaço para outros modelos, como Volkswagen Amarok, Nissan Frontier e Mitsubishi L200, chegarem perto do cinturão. Desde 2016, a Toyota Hilux é a picape média mais vendida no Brasil, invicta.
Alguns motivos explicam esse feito, além dos 30 anos no mercado. A caminhonete é versátil, com diversas versões de chassi-cabine, cabine simples e dupla. Desde o final de 2023, há a opção SRX Plus, mais requintada, por R$ 335.300.
Logo atrás está a Ranger. Uma nova geração da picape da Ford busca retomar o volume de vendas. Sua gama de opções é mais enxuta, mas ela traz pontos altos ao unir o instinto raiz ao conforto de SUV na versão topo de linha, a Limited, que custa R$ 326.990.
Por fim, vem a Chevrolet S10. Assim como a Hilux, tem mais opções de versões, com cabine simples ou dupla. Nesse caso, a configuração topo de linha, High Country, tem preço tabelado em R$ 307.990. Então, no quesito preço, é a picape da Chevrolet que dá o primeiro golpe certeiro.
A disputa não deixa de ser acirrada. De um lado do ringue, pesando 2.357 kg, vem a nova Ranger Limited. Nas outras pontas do octógono, a S10 High Country, com 2.106 kg, e a Hilux SRX Plus, com 2.140 kg. Nada de peso-pena, mas, mesmo assim, a Ranger tem uns quilinhos a mais.
Nas dimensões, a diferença entre as caminhonetes é pequena. A Ranger é maior graças aos 5,37 metros de comprimento e 3,27 m de entre-eixos. Portanto, é 2 centímetros mais comprida que a S10 e 4 cm maior que a Hilux. Mas é na distância entre-eixos que está a maior diferença, já que a Chevrolet mede 3,09 m e a Toyota, 3,08 m. Justamente por causa das medidas, senti mais dificuldade de estacionar a Ranger.
Em virtude das dimensões generosas, as três picapes médias de nossa disputa entregam bom espaço na segunda fileira. Quem fica para trás é a representante da Toyota, com um espaço para pernas mais restrito. Em termos de funcionalidade, a S10 é a única que não tem saídas de ar-condicionado para os passageiros traseiros. Parece pouco, mas é um calcanhar de aquiles que pode facilitar uma rasteira.
O grande forte da Ranger está no volume da caçamba. A picape dá um “jab” de direita, com 1.250 litros. Afinal, a Hilux tem 1.000 litros e a S10, 1.061 litros. Contudo, a recém-renovada picape da Chevrolet levanta a guarda com a capacidade de carga de 1.044 kg, contra 1.023 kg da Ranger e exatos 1.000 kg da Hilux.
É importante destacar que a S10 mantém a mesma plataforma há 12 anos e, neste ano, passou por uma reestilização — profunda, é verdade, mas sem troca de geração. Portanto, perde fôlego mais rápido por ser um projeto mais antigo que o da Ranger, por exemplo, que estreou uma geração mais moderna e tecnológica.
Na comparação com a Toyota Hilux, a história muda. A picape japonesa está na mesma geração desde 2015. E, apesar de não ser a picape média mais moderna, tem fama de ser robusta e confiável, quase inquebrável e com pouquíssimos problemas de manutenção. Ainda assim, não tem jeito: o domínio no quesito projeto é da Ranger, com visual matador e plataforma atualizada. Com isso, o primeiro round termina.
Passados os primeiros momentos de tensão, as picapes voltam com tudo para o segundo round. A luta segue apertada, mesmo com a vantagem da Ford Ranger.
Na cabine, a Hilux traz um desenho clássico, sem muitos requintes. Tem muito plástico e um painel inferior ao das rivais. Na picape japonesa, o quadro de instrumentos é analógico com uma pequena tela digital no computador de bordo; já na S10 e na Ranger, tudo é digital.
Para não dizer que não há um toque moderno, a picape da Toyota traz uma central multimídia de 9 polegadas, mas que ainda fica atrás da usada pelas oponentes. A da S10 tem 11”, e a Ranger vem com um cruzado de esquerda e acerta em cheio com a tela vertical de 12”, moderna e fácil de conectar o sistema Android Auto sem fio — recurso presente nos três modelos.
Toyota Hilux e Ford Ranger ganham fôlego com o ar-condicionado digital de duas zonas, algo que a S10 não tem, embora traga como grande trunfo um acabamento mais caprichado.
O ringue pega fogo. A Chevrolet S10 conta com comodidades essenciais para um veículo acima de R$ 300 mil, como câmera de ré com boa resolução e carregador por indução. Entre os itens de assistência ativa de segurança, destaque para alertas de ponto cego e de saída de faixa, frenagem de emergência e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro. Contudo, não há piloto automático adaptativo (ACC).
É um mata-leão na Hilux. Além do cluster e da multimídia, sua câmera de ré tem qualidade inferior e ela traz apenas uma entrada USB, contra quatro das duas concorrentes. Pelo menos em segurança a picape japonesa está mais bem servida: alerta pré-colisão, frenagem de emergência, assistente de manutenção em faixa e ACC (é a única que traz esse item de série).
Na Ranger, a Ford também instalou uma câmera de ré com ótima resolução. O pacote de assistências ativas inclui frenagem de emergência e assistente de permanência em faixa, mas exclui o ACC, existente apenas em um kit opcional que custa R$ 25 mil.
Algo em comum é a garantia de cinco anos, mas as semelhanças param por aí. Os planos de manutenção de Hilux e S10 contemplam serviços a cada 10 mil km ou 12 meses. A Ford, porém, prevê revisões a cada 16 mil km ou 12 meses. Ou seja, um dono de Ranger poderá ter intervalos maiores entre cada manutenção, com apenas três revisões aos 50 mil km contra cinco das rivais.
Mesmo assim, o preço dessas três visitas (R$ 7.634) será mais caro que o das cinco da S10 (R$ 7.492), embora mais barato que as da Hilux (R$ 9.315). Por cinco revisões, a Ford cobra salgados R$ 11.373.
No seguro, a S10 deixa as rivais no sufoco. As cotações de Ranger e Hilux mais que dobram em relação às da picape da Chevrolet. A disputa continua apertada.
Um round de MMA dura, em média, três minutos. E, mesmo com pouco tempo, nada é garantido. No caso das picapes, o desempenho pode ser decisivo. Assim, vamos ao terceiro e último embate no octógono de Autoesporte.
A Toyota Hilux é a primeira a atacar, com o motor 2.8 turbodiesel de 204 cv de potência e 50,9 kgfm de torque a menos de 3.000 rpm, o que possibilita boa dose de agilidade nas arrancadas, mesmo para a picape que pesa mais de duas toneladas.
No entanto, embora tenha uma suspensão mais robusta que a das versões mais baratas, herdada da irmã GR-Sport, a Hilux SRX Plus balança mais que as rivais e sua carroceria “dança” mais sobre as longarinas. E se a cidade não é o habitat natural das picapes médias, a Ranger é o produto que chega mais perto de entregar maior conforto.
Após receber ajustes na suspensão, com bitolas maiores e novos amortecedores, a nova S10 não fica muito atrás no que tange à estabilidade. A representante da Chevrolet também trocou a caixa de direção, o que melhorou as respostas e a dirigibilidade de modo geral.
Por falar na S10, a picape retruca com um 2.8 turbodiesel de 207 cv e 52 kgfm. O câmbio automático de oito marchas tem relações mais curtas nas marchas iniciais e proporciona mais força de arrancada.
A Ranger chega perto do nocaute com os 250 cv e 60 kgfm de seu 3.0 V6 turbodiesel, aliado a um câmbio de dez marchas muito bem escalonado. Além da suspensão robusta, a picape traz excelentes respostas de direção (para a realidade do segmento), sem esquecer o instinto aventureiro. Destaque para a capacidade de imersão (800 mm) e a rigidez da carroceria.
O trio entrega robustez. Todas têm controles de descida e tração 4×4 com reduzida. A S10 é a única sem bloqueio do diferencial traseiro, algo que não foi corrigido em sua mais recente atualização. Em nossos testes no Rota 127 Campo de Provas, a Ranger dispara à frente indo de zero a 100 km/h em 8,6 segundos. Em consumo, é a Hilux que chama a atenção: fez 10 km/l na cidade e 14,2 km/l na estrada.
O árbitro toca o gongo e o round termina. As caminhonetes se juntam no octógono. A Hilux esbanja tradição, confiabilidade e força de marca, mas escorrega no conforto e nos custos elevados de aquisição e de peças.
Assim, o embate fica apertado entre S10 e Ranger. A picape da Chevrolet tem requinte, bom preço e valores atraentes de seguro e revisão, mas a base antiga faz com que o modelo fique atrás em termos de modernidade. Portanto, é a Ford Ranger que leva o cinturão. Afinal, mesmo sendo mais pesada e tendo peças e revisões mais caras, possui um motor V6 que se sobressai, boa lista de equipamentos e a união entre conforto e vocação para o trabalho. QUE LUTA!
A Ford Ranger se destaca por ser um projeto mais atualizado, graças à nova geração. A caminhonete é equipada com uma boa lista de itens, que inclui recursos de auxílio ao motorista, sem ser a picape mais cara entre as principais rivais. A versão Limited também impressiona pelo conforto (mérito da suspensão), excelente desempenho e espaço interno, sem abandonar a vocação para o trabalho e a capacidade off-road.
*Seguro: O valor é uma média entre as cotações das principais seguradoras do país fornecida pela Minuto Seguros com base no perfil padrão de Autoesporte, sem bônus
**Cesta de peças: Retrovisor direito, farol direito, para-choque dianteiro, lanterna traseira direita, filtro de ar (elemento), filtro de ar do motor, jogo de quatro amortecedores, pastilhas de freio dianteiras, filtro de óleo do motor e filtro de combustível (se aplicável)
*A versão da Toyota Hilux usada para as fotografias deste comparativo foi a de topo, GR-Sport. Entretanto, a versão testada em pista e comparada com as rivais foi a SRX Plus.
Agradecimento: Pousada dos Pescadores – (11) 4354-0535 / (11) 94173-1454
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Fonte: direitonews