Como o chuveiro da sua casa ajuda a recarregar carros elétricos


Você sabia que uma invenção brasileira de quase 100 anos ajudou indiretamente a recarregar os carros elétricos ou híbridos plug-in? Nos referimos ao chuveiro elétrico, patenteado pelo engenheiro paulista Francisco Canho em 1927. Hoje, ele é o principal recurso de aquecimento de água para banho no Brasil — e também o mais econômico.

Mas como a história dos chuveiros e a chegada dos carros elétricos se entrelaçam? Autoesporte conversou com Ayrton Barros, diretor geral da empresa de carregadores NeoCharge, para entender mais sobre a infraestrutura elétrica do Brasil. Veja como uma coisa ajudou a outra.

Antes da invenção do chuveiro elétrico, a água era aquecida por gás, óleo e até lenha nos chamados boilers, grandes tonéis de armazenamento. Havia o problema da ineficiência, pois era necessário esquentar grandes quantidades de água antes de tomar banho.

Foi então que Francisco Canho, eletricista nascido em Jaú (SP), teve a ideia de inventar um mecanismo menor, em que a água passaria por uma resistência e seria aquecida à medida em que fosse usada. A primeira patente é de 1927, mas o chuveiro elétrico automático surgiu para o uso doméstico de forma comercial apenas nos anos 1940.

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Evidentemente, muitos torceram o nariz. Combinar água e eletricidade parecia inaceitável e até perigoso, mas a invenção de Francisco Canho logo superou a resistência (opa, um trocadilho) e se popularizou nos lares brasileiros.

O aparelho se mostrou tão eficiente que até países como México, Colômbia, Argentina, Chile e Uruguai começaram a utilizá-los. Na Europa, o principal mercado é o Reino Unido, mas as instalações são diferentes, pois lá a resistência não fica na “cabeça” do chuveiro.

Na década de 50, o Brasil já tinha uma rede de distribuição de eletricidade robusta nos grandes centros urbanos. As companhias de energia precisaram reforçar as instalações para atender aos diversos lares que recebiam os chuveiros elétricos. Algumas casas tinham até três aparelhos deste tipo, o que causou problemas de infraestrutura.

Então nasceram os disjuntores específicos para estes aparelhos. Assim, em caso de sobrecarga ou curto-circuito, o chuveiro seria desligado sem afetar a instalação da residência. Até hoje, em casas ou apartamentos mais antigos, recomenda-se que apenas um chuveiro seja utilizado por vez.

Ayrton Barros afirma que, precisamente por conta da infraestrutura elétrica mais robusta e dimensionada, os chuveiros hoje permitem uma instalação facilitada de carregadores de veículos plug-in. “O cabeamento no Brasil costuma ser mais resistente que o de várias regiões da Europa, o que otimiza o nosso trabalho”, lembra o diretor geral da NeoCharge.

De acordo com o especialista, as companhias de energia já entregam quantidades suficientes de eletricidade para a instalação dos carregadores, justamente porque várias casas chegam a ter três ou quatro chuveiros elétricos. Neste caso, não é necessário entrar em contato com a concessionária e pedir mais energia para atender o carregador.

A recarga de um carro plug-in impõe limitações à rede elétrica de uma casa? Sim, mesmo com toda a dimensão da instalação brasileira. Recomenda-se que o carro seja plugado quando chuveiros elétricos, air-fryers, ar-condicionado, coifas e outros itens que consomem grandes porções de energia estejam desligados. Assim, o morador evitará sobrecargas e possíveis quedas de eletricidade.

Partindo disso, algumas empresas trabalham com sistemas de gestão de energia inteligentes. Eles são instalados junto dos carregadores e fazem uma leitura automática do consumo na residência. Em horários de pico, o sistema vai reduzir a velocidade de carregamento do veículo elétrico, mas o abastecimento voltará ao normal quando o uso for menos severo.

Dessa forma, uma invenção de 1920 proporcionou grandes avanços no que diz respeito ao sistema doméstico de recarga no Brasil quase 100 anos depois.

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Fonte: direitonews

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