Governo muda norma e prejudica processos de aposentadoria, dizem peritos


Uma norma interna baixada nesta semana pelo Ministério da Previdência tem sido criticada por peritos médicos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por dificultar o andamento de concessão de aposentadorias especiais.

A nova regra orienta os profissionais a rejeitar sumariamente projetos que tiverem documentação incompleta ou equivocada e que apresentarem qualquer inconsistência nos arquivos, mesmo que sejam do próprio INSS.

A aposentadoria especial é concedida a trabalhadores em condições insalubres. Com o aval do perito, o benefício precoce pode ser concedido com 25 anos de contribuição.

Até então, os processos ficavam no modo “em exigência” até que a documentação fosse totalizada ou corrigida.

A partir de agora o processo voltará ao instituto, onde deverá ser indeferido, e o segurado terá de começar outro a partir do zero.

“Eles [o ministério] estão usando um artifício para dizer que estão sendo ágeis e eficazes e reduzindo a fila dos processos atrasados”, afirma Francisco Cardoso, vice-presidente da Associação Nacional de Médicos Peritos (ANMP). “Querem ‘tirar o processo da frente’, para que o pedido entre como ‘novo’. Para isso, estão sacrificando o direito da população.”

Segundo Cardoso, quase 40% dos requerimentos costumam ficar sob a rubrica “em exigência” após a solicitação.

A Gazeta do Povo procurou o Ministério da Previdência para esclarecimentos, mas a assessoria apenas encaminhou nota oficial sobre o tema.

No site da pasta, o texto explica o procedimento. “Na prática, a mudança exige que os peritos atuem de maneira conclusiva a respeito dos pedidos, sem possibilidade de atribuir status de exigência (em que o processo pode ficar sem andamento).”

E justifica: “Os sistemas da Perícia foram ajustados para não mais permitir que processos envolvendo aposentadoria com tempo especial fiquem sem andamento. A medida vai aperfeiçoar o processo de concessão desse tipo de benefício”.

Para o presidente da ANMP, além de reduzir a fila, a intenção do ministério com a nova norma é promover uma “economia forçada” na concessão de benefícios. “Há, sem dúvida, uma preocupação fiscal”, diz.

Despesas com aposentadoria vão crescer mais que o projetado, dizem analistas

O déficit da Previdencia não sai do radar do Executivo, que trabalha com a perspectiva de aumento de 7,3% nas despesas previdenciárias para 2025.

A projeção de gastos dessa área, enviada como subsídio para elaboração do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, é de R$ 964 bilhões.

Mas o montante pode ser ainda maior, já que o INSS se baseou na previsão de gasto para este ano, anunciada no terceiro relatório bimestral de reavaliação do Orçamento, no fim de julho.

O valor projetado para 2024, de R$ 898,45 bilhões, pode estar subestimado em até R$ 17 bilhões, segundo analistas e instituições financeiras. Assim, se o gasto deste ano for efetivamente maior, as despesas no ano que vem também ficarão acima do previsto.

Segundo cálculo da corretora XP, a projeção do INSS para benefícios previdenciários em 2025 estaria subestimada em R$ 16,4 bilhões. A conta tem como base a expectativa de R$ 12 bilhões a mais de gastos neste ano e o impacto de um salário mínimo de R$ 1.513 em 2025.

Governo festeja redução de “fila do INSS”

Neste contexto, o ritmo de crescimento e o comportamento da fila de benefícios são alguns dos principais pontos de preocupação.

O INSS solicitou ao governo a prorrogação do Programa de Enfrentamento à Fila da Previdência Social até novembro. Iniciado em julho de 2023, o programa acabaria na última terça-feira (13).

O governo tem festejado os resultados. O tempo médio de concessão (TMC) reduziu de 47 dias, em dezembro do ano passado, para 35 dias em junho. O prazo legal é de 45 dias, mas o governo pretende terminar o ano com o TMC em 30 dias.

Os requerimentos em estoque em dezembro do ano passado eram 1,54 milhão. Cairam para 1,35 milhão em junho.

A expectativa do governo é que os pedidos voltem à normalidade no ano que vem, quando a espera estiver praticamente zerada.

Porém, a média mensal de 1 milhão de novos pedidos de aposentadoria, pensão e auxílios previdenciários, verificada desde outubro do ano passado, é considerada alta e pode subir. Em junho, por exemplo, houve 1,28 milhão de novos requerimentos, 29,1% mais que em dezembro de 2023.

Para o presidente da ANMP, a redução das filas e a agilidade do atendimento são bem-vindas, mas não podem prescindir o serviço ao segurado.

“O que a gente espera do presidente do INSS e do Ministério da Previdência é que eles tomem soluções eficazes para atender a população e não apenas para desinchar números de gestão”, afirma Cardoso. “A população quer ser atendida e não é às custas da qualidade do atendimento que se baixa o tempo de espera em fila.”

Fonte: gazetadopovo

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