Conheça o pai do Fiat Uno que se aposentou junto com o icônico carro


Brasileiros têm uma relação especial com os carros. É comum vermos histórias de como um veículo marcou a trajetória de uma família, ou influenciou a vida de alguém. Mas, essa questão é ainda mais intensa para Robson Cotta, engenheiro que trabalhou quase 40 anos na Fiat. Ele não só ajudou a preparar a chegada do Uno ao mercado brasileiro, como também se aposentou no mesmo ano em que o hatch saiu de linha, em 2021. Uma verdadeira trilha de começo ao fim, juntos.

Robson ficou quase 40 anos na Fiat. Foi admitido em 13 de agosto de 1982. Nessa época, a fabricante já havia se consolidado no Brasil com a família 147, que tinha no portfólio hatch, sedã, perua, furgão e até picape. Entretanto, essa linha precisava de uma atualização e foi nesse ponto que a matriz da Itália enviou as primeiras unidades de um novo carro pequeno que estava sendo desenvolvido na Europa, o Uno.

Foi assim que, em 1984, Cotta viu a chegada do hatch de perto. Foi o primeiro projeto “do zero” que viu nascer no mercado brasileiro, como se fosse um filho. E não por menos, se tornou um dos maiores ícones da Fiat no Brasil. “Entrei na atividade como engenheiro de testes e a primeira unidade do Uno estava chegando para ser testada”, disse.

Robson viu a história sendo feita de perto. Na Fiat, chegou a atuar no desenvolvimento de produtos, mas encerrou seu ciclo como gerente de engenharia experimental e responsável pelas instalações de produção e desenvolvimento da fabricante na América Latina.

O engenheiro lembra “como se fosse ontem” das reuniões e discussões para lançar o Fiat Uno no Brasil. Revela que a marca já conhecia as dificuldades do piso brasileiro, então a adaptação da suspensão foi o primeiro passo. Na traseira, recebeu feixe de molas transversal, em vez do eixo de torção. Na dianteira, adotou uma suspensão derivada do 147, pois já estava bem testada para as condições nacionais. “Esse é um dos segredos da robustez do Uno”, conclui.

Segundo Cotta, o estepe também foi parar no cofre do motor, o que obrigou a Fiat a redesenhar o capô, com a tradicional dobra para as laterais. É praticamente a única diferença em relação ao carro vendido na Europa na época. “A beleza das linhas, os detalhes de riqueza do produto eram os mesmos. O sucesso foi tanto que, no Brasil, serviu de base para uma família de veículos composta por versões da perua Elba e Fiorino, nas versões picape e furgão”.

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O engenheiro até lembra com carinho de uma curiosidade envolvendo o modelo. No dia do lançamento de outro produto da concorrência, que aconteceu em Angra dos Reis (RJ), ele estava passando com o novo Uno por perto e jornalistas desse evento vieram para fotografar o “flagra”, que mais tarde sairia nos jornais – e são as imagens que aparecem nesse perfil. Tempo muito diferente do imediatismo de hoje em dia.

Muito além de “apenas” testar o Uno, Cotta também foi um proprietário fiel do pequeno hatch. Adquiriu seu primeiro Uno no final de 1985, uma unidade modelo 1986. Era também o primeiro exemplar da cidade de Itauna, próximo de Belo Horizonte, onde tinha residência. “O povo até tirava fotos quando passava com o carro”, completa.

O engenheiro conta que teve praticamente todas as versões do hatch, menos o Turbo. “Logo esse! Mas ainda bem que tive a oportunidade de testar todos em minha trajetória, até mesmo fora do Brasil, na Itália e Argentina”.

A trajetória da dupla, aliás, não para por aí. Em 1990, o Uno Mille chega ao Brasil e se torna o primeiro carro popular. Na época, o governo brasileiro criou uma nova lei para a redução do IPI para motores menores que 1.000 cm³, o que fez as montadoras voltarem os olhos para os motores 1.0. No caso do Uno, para ser contemplada, era necessário adaptar o motor 1.050 cm³ e abdicar de alguns recursos. Cotta diz que a Fiat viu uma oportunidade, já que tinham o carro basicamente pronto.

“Alguns itens, como limpador traseiro, tampa do porta-luvas e encosto de cabeça foram retirados. Na época, o Uno tinha quatro marchas, com a última mais longa para melhorar o consumo. São mudanças que hoje são impensáveis, ainda mais pelas exigências”, comentou.

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A missão, no entanto, foi cumprida. O Uno Mille tinha 785 kg com os cortes. Robson diz que surgiram muitos questionamentos na época sobre a capacidade de um carro tão leve suportar o trânsito intenso, com quatro ou cinco pessoas. Entretanto, diz que conseguiram colocar e finalizar um projeto com um motor eficiente e bom rendimento.

Em 1994, o Brasil recebeu a considerada versão mais icônica do Uno no Brasil, com o motor 1.4 turbo. O conjunto, composto também pelo câmbio manual de cinco marchas, gerava 118 cv de potência e 17,5 kgfm de torque, proporcionando um 0 a 100 km/h em 9,2 segundos. Já a velocidade máxima divulgada era de 195 km/h, um verdadeiro chamariz para o hatch. E mais uma vez, Robson Cotta estava presente no projeto.

Para Cotta, o Uno Turbo foi uma concepção muito inteligente, porque já existia na Europa. Conta que o motor disponível no Brasil era exatamente igual ao italiano. Já vinha tudo pronto, com caixa de câmbio. Quando chegava aqui, passava por uma recalibração, mas usando a mesma base e só mudando o chip para ajeitar para o mercado brasileiro. Robson viu o sucesso do caro. “Era um veículo de performance, com 0 a 100 km/h em menos de 10 segundos”.

Em 2010, chega a segunda geração (também icônica) do Uno, ou Projeto 327, como ficou conhecido internamente. Com uma base completamente nova, colocou o compacto no século atual. “Foi um modelo concebido com essa necessidade de suceder um carro grande, o que é uma responsabilidade imensa. Nessa época, também ganhamos o segundo Carro do Ano da Autoesporte (o primeiro prêmio veio em 1985), então isso foi muito importante”, completou.

O Fiat Uno ficou 37 anos em produção no Brasil. Foram exatamente 4.379.356 de unidades vendidas, sendo as 250 últimas com a série especial de despedida, a Ciao. Com esse sucesso, o modelo deu adeus ao país em 2021, mesmo ano da aposentadoria de Robson Cotta. “Foi quase uma coincidência”, diz o ex-engenheiro.

Agora, o Fiat Uno completa 40 anos como um dos maiores ícones da indústria brasileira. Deixou o Brasil com recordes, sendo o segundo carro mais vendido da história do país – ficando atrás apenas do rival Volkswagen Gol. Um legado que, assim como seu pai brasileiro, Robson Cotta, deixou uma marca registrada para milhares de brasileiros.

Atualmente, o engenheiro conta que é dono de um Fiat Uno de segunda geração, ano 2021. Ou seja, um dos últimos a passar pela linha de produção. Realmente uma história conjunta, do começo ao fim, do nascimento até a história.

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Fonte: direitonews

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