O companheiro de chapa de Donald Trump, J.D Vance, escolhido como candidato à vice-presidência pela legenda republicana, apresenta um perfil ideológico alinhado com o ex-presidente tanto em assuntos internos quanto externos envolvendo os EUA.
Após anos de críticas ao magnata, o jovem senador de Ohio, de 39 anos, mudou de direção, tornando-se um grande apoiador do ex-presidente nas votações do Senado, desde que assumiu o cargo em 2022.
Posição linha-dura na ajuda à Ucrânia
Uma das principais posições linha-dura do político conservador é sua oposição ao papel desempenhado pelos EUA na ajuda à Ucrânia. Ele liderou uma campanha no Senado contra um projeto de lei que previa o envio de mais ajuda a Kiev.
Apesar de não ter conseguido evitar a aprovação do plano, ele afirmou na época que ao menos “conseguiu deixar bem claro para a Europa e o resto do mundo que a América não pode assinar cheques em branco indefinidamente”.
Esse visão contrária à atual política do governo Biden, que tem dedicado esforços para conter a invasão russa a Kiev, ficou ainda mais clara no início deste ano, quando o senador participou da Conferência de Segurança de Munique, onde repreendeu aliados europeus dos EUA.
Vance também deixou explícito esse posicionamento na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), nos EUA, onde apresentou seus argumentos para retirar o apoio financeiro dos EUA à Ucrânia.
“Tenho colegas republicanos que estão muito mais envolvidos emocionalmente com o que está acontecendo a 9 mil quilômetros de distância do que com o seu próprio país”, disse Vance na conferência, ressaltando sua visão “American First“.
Para alguns analistas políticos, uma vitória de Trump em novembro derrubaria boa parte ou todo o apoio de Washington a Kiev e forçaria a Ucrânia para negociações de paz com a Rússia, a fim de acabar com a guerra.
Nesse sentido, Vladimir Putin sairá no lucro ao conquistar uma fatia substancial do território ucraniano que atualmente está sob domínio de Moscou, encorajando o líder do Kremlin a buscar mais empreitadas militares.
Na Conferência de Munique, Vance deu declarações alegando que Putin não representava uma ameaça existencial para a Europa e os EUA e europeus não poderiam fornecer munição suficiente para derrotar a Rússia.
Pulso firme contra o aborto
Como a maioria dos republicanos, J.D Vance é um forte opositor de legislações que defendem o aborto.
Dirante sua passagem pelo Senado nos últimos dois anos, votou consistentemente contra projetos liderados pelos democratas nesse sentido, seja para restaurar a Roe v. Wade, estabelecer direitos federais para acessar contraceptivos e criar proteções para fertilização in vitro.
Como senador de Ohio, Vance se opôs e fez campanha rejeitando a iniciativa de votação do ano passado no estado que visava proteger o acesso ao aborto. Ele classificou a aprovação da medida como “um soco no estômago”.
Relações com a Europa em xeque
O senador de Ohio também é um ardente defensor da manufatura americana e da aplicação de tarifas sobre importações, questões que geram preocupação de líderes europeus e colocam em xeque as relações comerciais com a Europa.
Durante sua presidência, Trump impôs tarifas sobre as importações europeias de aço e alumínio e prometeu proteger novamente a indústria americana se for reeleito em novembro.
A política externa de Vance, no estilo Trump, coloca a “América em primeiro lugar”. Com isso, a nova chapa formada está alinhada nas críticas à Europa e à OTAN, aliança militar que tem focado em lidar com a Rússia desde que esta invadiu a Ucrânia.
Em um discurso no plenário do Senado em abril, Vance criticou a Europa por não gastar o suficiente em defesa.
“Por três anos, os europeus nos disseram que Vladimir Putin é uma ameaça existencial para a Europa. E por três anos, eles falharam em responder como se isso fosse realmente verdade”, afirmou o republicano, alfinetando à época a Alemanha por não dedicar 2% de seu PIB para a defesa nacional, quantia que os membros da Otan concordaram em dedicar à área.
Atenção maior à China
Ao retirar os holofotes externos da Europa, o candidato à vice-presidente defende uma reorientação dos recursos do país para combater a ascensão da China no mundo.
Na visão do senador, os EUA devem dar um foco maior no que ele vê como uma ameaça mais urgente aos interesses nacionais, a competição com a China. Em um discurso no ano passado, ele se referiu ao gigante asiático como “o verdadeiro inimigo”.
Vance entende que uma das formas mais eficazes de frear a ascensão de Pequim é por meio do apoio à indústria nacional. Segundo ele, “os americanos deveriam estar produzindo mais as coisas que consomem”.
O companheiro de chapa de Trump também deixou claro seu apoio a Taiwan em termos comerciais, dizendo que a ilha autônoma que a China prometeu manter pela força, se necessário, deve ser protegida.
Admirador de Viktor Orbán
Assim como Trump, Vance apoio a agenda do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán e propôs seguir seu exemplo em certas políticas.
“Na Hungria, sob Orbán, eles oferecem empréstimos a casais recém-casados que são perdoados em algum momento depois se esses casais realmente permaneceram juntos e tiveram filhos. Por que não podemos fazer isso aqui? Por que não podemos realmente promover a formação familiar?”, disse em uma entrevista a um think tank conservador em 2021.
Vance também defendeu a “deswokeificação” das escolas, mencionando Orbán como inspiração durante uma entrevista em um podcast de direita em setembro do ano passado.
Ativo na luta contra a imigração ilegal
Outra visão de Vance alinhada com Donald Trump é a defesa da construção do muro na fronteira com o México, a fim de frear a imigração ilegal para os EUA, que enfrenta uma crise devido às políticas de Joe Biden.
Em declarações à Fox News, na noite desta segunda-feira (15), Vance destacou a promessa de Trump de lançar uma operação de deportação em massa se for eleito em novembro.
“Temos que deportar pessoas, temos que deportar pessoas que quebraram nossas leis que entraram aqui e acho que começamos com os criminosos violentos. O presidente Trump tem muito eficaz em comunicar isso a ponto de agora a maioria dos americanos acreditar que precisamos deportar um grande número de pessoas que vieram para cá ilegalmente”, disse ele.
Fonte: gazetadopovo