Fiat Uno 40 anos: a linha do tempo de um ícone brasileiro


Acendam as velas, pois um ícone acaba de se tornar quarentão. Estamos falando do Fiat Uno, um dos modelos mais vendidos da história da indústria brasileira, eleito três vezes o Carro do Ano pela Autoesporte e figurinha carimbada em nossas ruas. É impossível andar dois quarteirões sem encontrar o hatch italiano com sotaque mineiro, não importa a cidade.

Em comemoração aos 40 anos do Fiat Uno no Brasil, Autoesporte e o Museu da Imprensa Automotiva (Miau) trazem a linha do tempo completa do compacto, desde os rascunhos do designer Giorgetto Giugiaro ao encerramento de suas vendas em 2021. Acompanhe:

1980
O Uno foi lançado no Brasil apenas em 1984, mas sua história começou quatro anos antes, na virada da década. A Fiat decidiu projetar um substituto para o ultrapassado 127 (o “primo” europeu do nosso 147), com o objetivo de que se tornasse um carro global. Este novo hatch deveria ser barato, espaçoso e econômico.

Tais características foram passadas ao famoso designer italiano Giorgetto Giugiaro, que desenhou o VW Golf de primeira geração em 1974. Ali surgiram as linhas quadradas que valorizaram o espaço interno do Uno e ficaram tão conhecidas pelo mundo. Elas foram incorporadas a outras versões do modelo, como o furgão Fiorino, o sedã Premio e a perua Elba.

Fato pouco lembrado é que o Uno estava confirmado para o Brasil antes mesmo de aparecer nos desenhos de Giugiaro. Tanto que, quando os protótipos foram desenvolvidos em Turim (Itália), nosso país foi um dos primeiros a recebê-los. As unidades foram levadas a Betim (MG) para o início dos testes e da regionalização.

1981
Tal regionalização, aliás, tomou bastante tempo dos engenheiros da Fiat. Os protótipos recebidos da matriz precisaram de uma série de adaptações no sistema de suspensão por causa das condições do asfalto brasileiro.

Robson Cotta, engenheiro que trabalhou na Fiat por quase 40 anos, diz que sua equipe chegou a rodar 1.300 km por dia nos testes de durabilidade mais rigorosos. Sua permanência na marca quase coincide com a existência total do Uno no mercado.

Depois dos testes com os protótipos italianos, o jovem Cotta, à época com 25 anos de idade, participou do desenvolvimento do modelo nacional. As unidades pré-série começaram a sair de Betim para a fase final das avaliações.

1983
O Uno foi lançado no mercado europeu três anos após surgir nos rascunhos de seu criador. O nome é derivado do código interno de fábrica, pois o projeto era conhecido como Type 1 (“Tipo Uno”, em italiano). Chegou às lojas com opções de três ou cinco portas, com motores 1.0 e 1.3 e o mesmo câmbio utilizado no Fiat 127, seu antecessor.

1984
Com um ano nas ruas, foi eleito “Car of the Year” pela imprensa especializada na Europa, desbancando o Peugeot 205. O ano de 1984 também marcou o início da produção em Betim, com três versões: S (1.0 a gasolina, 52 cv), CS (1.3 a álcool, 60 cv) e SX (1.3 a álcool, 70 cv), sempre na carroceria três portas. O sucesso foi instantâneo.

Meses após o lançamento, o Fiat Uno foi eleito o Carro do Ano pela Revista Autoesporte. Este seria apenas o seu primeiro de três títulos.

1985
A Fiat aproveitou o embalo do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 para lançar o Uno Turbo. A versão esportiva, porém, não foi vendida por aqui. Tratava-se apenas de uma ação para divulgar a chegada do carro às lojas da Europa.

Neste mesmo ano, a Fiat lançou o Premio como uma opção mais espaçosa para o Uno. O pequeno sedã quadradão foi vendido até 1994, quando deixou de ser produzido em Betim. Na Argentina, onde se chamava Duna, a produção começou em 1988 e terminou apenas em 2000.

1986
A concessionária Sultam, de Guarulhos (SP), teve a ideia de customizar algumas unidades do hatch. Nascia então o Uno Cabriolet, versão esportiva marcada por um estilo jovial e as famosas rodas Jolly. Poucas unidades foram vendidas — e as que sobreviveram estão na posse de colecionadores e custam uma fortuna.

Oficialmente, a Fiat lançou o Uno 1.5 R, versão esportiva com motor de 76 cv de potência, rodas exclusivas e a tampa do porta-malas pintada. Seu desempenho chamou atenção na época, pois atingia 100 km/h em 12 segundos.

Por fim, o ano de 1986 terminou com a apresentação da Elba, a perua do Uno. Seu ciclo de vida durou dez anos, pois o modelo deixou de ser produzido em 1996 — não antes de provocar o impeachment do ex-presidente Fernando Collor em 1992, em uma das históricas mais inusitadas da política brasileira.

1988
O Uno também serviu de base para o furgão Fiorino, que já existia no Brasil desde 1977 com base no antigo Fiat 147. É a única variante do compacto que sobrevive até hoje, na versão furgão.

1989
Após anos sem novidades, a Fiat apresentou duas novas versões para o hatch: CS Top e CS Export. As séries especiais celebravam a marca de um milhão de unidades vendidas pela fabricante italiana no Brasil. O Uno se despediu dos anos 80 como um dos carros mais importantes do país.

1990
O primeiro ano da década de 90 foi intenso. A Fiat reestilizou o Uno, incorporando faróis mais estreitos, nova grade frontal e para-choque com formato inédito.

Quando o governo decidiu incentivar os carros populares baixando o IPI para motores de até 1.000 cm³, a Fiat não perdeu tempo. Reduziu o curso dos pistões do já veterano motor 1.050 Fiasa, deixou a lista de equipamentos mais enxuta e criou o “Mille” (em referência ao motor de 1.000 cm³). Foi o primeiro carro popular do país.

Sua versão esportiva foi atualizada com a estreia do Uno 1.6 R, agora com 84 cv de potência e 13,7 kgfm de torque. Por fim, o mercado brasileiro finalmente recebeu a carroceria de cinco portas, lançada na Europa em 1983.

1991
O carro popular da Fiat recebe o sobrenome Brio (e algumas melhorias). A série especial passou por atualizações técnicas, como a substituição do carburador antigo por um de corpo-duplo e acionamento mecânico. Este incremento foi suficiente para fazer a potência do Mille subir de 48 cv para 54 cv.

1992
Após a chegada do Brio, a Fiat lançou o Mille Electronic. Este nome surgiu por conta da adoção do carburador eletrônico, uma exigência do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos (Proconve). Em tempos de injeção eletrônica, o hatch da Fiat resistia com engenharia antiga. Entregava os mesmos 54 cv, mas emitia menos.

Neste ano aconteceu a estreia da Fórmula Uno, uma nova modalidade no automobilismo nacional. Ademais, voltou a ser eleito o Carro do Ano pela Autoesporte.

1993
A primeira versão do Uno a receber injeção eletrônica foi a 1.6 R, rebatizada como 1.6 R MPI. Neste caso, o sistema era multiponto, o que fez a potência saltar a 92 cv. Durou apenas um ano, pois os fãs clamavam por uma versão esportiva com mais “pimenta”.

1994
A resposta da Fiat veio no ano seguinte, em 1994, com o lançamento do Uno Turbo. Seu motor 1.4 entregava 118 cv e 18 kgfm. Pisando fundo, era capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 9,2 s. O número pode não empolgar nos padrões atuais, mas era um grande feito para os anos 90. Outra novidade de 1994 foi o lançamento das versões ELX e 1.6 MPI.

1995
Este foi o ano de estreia da versão Mille EP, que substituiu a antiga ELX. A novidade foi a adoção da injeção eletrônica — e por isso, os carros da época receberam o badge “i.e.” na tampa do porta-malas.

1996
O Uno enfrentou um “vai ou racha” na metade dos anos 90. A Fiat já desenvolvia o Palio como seu substituto, mas optou por manter o hatch em linha por mais um período. Para muitos, a chegada da versão Mille SX poderia marcar o fim da produção.

Era um pacote bem competente. Tinha ar-condicionado, toca fitas, vidros esverdeados, retrovisores externos com regulagem interna, vidros elétricos e travas elétricas. Tudo culminava para o fim de sua fabricação, porém, a Fiat manteve o Mille em linha como um veículo de entrada, abaixo do Palio. Vale lembrar que o projeto já tinha mais de 13 anos nesta época.

2000
Apesar da simplicidade, o desempenho comercial do hatch agradou a Fiat. O espartano Mille entrou no novo milênio com o lançamento da versão Smart. Tinha motor 1.0 de 57 cv, mas estreava novo volante e painel de instrumentos com fundo branco.

2001
No ano seguinte, ganhou o motor que depois se tornaria um “sobrenome”: o famoso 1.0 Fire. Tinha 60 cv e 9,4 kgfm, mas o consumo de combustível era seu ponto forte. Fazia até 13 km/l na estrada com gasolina.

2004
No ano em que completava 20 anos, recebeu seu segundo facelift. A mudança foi mais radical que a anterior, adotada em 1990, com a estreia de faróis maiores, nova grade frontal, para-choques e lanternas traseiras redesenhadas. Por dentro, recebeu o mesmo painel de instrumentos do Palio e um novo volante.

2005
Os motores flex se popularizaram a passos largos nos anos 2000 e o Uno também entrou na jogada. A unidade Fire foi atualizada para rodar no etanol, chegando a 66 cv e 9,1 kgfm. Seu irmão, o Palio, teve a mesma mudança.

2006
Podemos dizer que 2006 foi o aniversário da “quase morte” do Mille. Isso porque completavam-se dez anos desde que a Fiat tomou a decisão de mantê-lo em linha no Brasil. As vendas seguiam a todo vapor mesmo com a idade avançada do projeto.

A inovação ficou por conta da versão Way, que trouxe um apelo aventureiro ao hatch. Os arcos de rodas receberam arremates plásticos e adesivos foram colados na lateral e na tampa do porta-malas. Sua suspensão foi elevada.

2008
Uma das últimas versões memoráveis do Mille clássico foi lançada em 2008, com a apresentação do Economy. Tinha motor Fire, mas a Fiat instalou um mostrador chamado de “econômetro” no painel de instrumentos (no lugar do conta-giros). O objetivo era educar os motoristas a extraírem números melhores de consumo.

Neste período, o Mille Economy entrou no radar dos frotistas pelo preço acessível, consumo de combustível adequado e o excelente custo de manutenção. Ali nasceu o “Uno com escada no teto“, em referência aos técnicos de empresas de energia e internet que utilizavam o hatch na prestação de serviços. Até hoje, o modelo é meme nas redes sociais.

2010
Uma nova safra de hatches, mais tecnológicos e sofisticados, chegaria ao mercado no início da década de 2010. A Fiat se antecipou e começou a desenvolver a segunda geração do Uno ainda em 2008, sob o código “Projeto 327”. Seu visual era inspirado no Panda europeu.

Apesar da plataforma ser totalmente nova, a Fiat tentou manter os predicados do modelo apresentado em 1983. Isso explica o visual quadrado no estilo “geladeira”, o que corroborou para o bom espaço interno. Chegou às lojas nas versões Vivace, Attractive, Way e Sporting, com motores 1.0 e 1.4 da família Fire. O lançamento não declarou o fim do Mille, que seguiu em produção em Betim.

2011
É tri. Em 2011, a Autoesporte voltou a eleger a nova geração do Uno como o Carro do Ano após os dois primeiros títulos em 1984 e 1992. Este é um feito que o modelo italiano compartilha com Ford Corcel (1968, 1972 e 1978), Fiat Palio (2000, 2003 e 2010) e Chevrolet Monza (1982, 1986 e 1987). Também houve a estreia da carroceria de três portas e do novo Uno Economy com motor 1.4 Fire.

2012
Duas configurações inéditas estrearam: Uno Itália (com motor 1.0, baseado na versão Vivace) e Uno Interlagos (com motor 1.4, baseado na versão Sporting).

2013
A partir do dia 1° de janeiro de 2014, passou a valer a lei que obrigou a adoção de airbag e ABS em todos os carros vendidos no Brasil. Por ser um projeto dos anos 80, não seria possível incorporar estes itens ao Mille. Assim, a Fiat foi obrigada a tirá-lo de linha. A muitos quilômetros de Betim, a Volkswagen teve que descontinuar a Kombi em São Bernardo do Campo (SP) pelo mesmo motivo.

Ambos os carros tiveram despedidas grandiosas. No caso do hatch, a Fiat lançou o Grazie Mille (“muito obrigado”, em italiano) para marcar seu fim após quase 29 anos em produção.

Foi um dos Mille mais completos da história. Tinha ar-condicionado, rádio com USB e Bluetooth, pintura exclusiva e plaquinhas numeradas. Só 2 mil unidades foram produzidas. Até hoje, colecionadores estão dispostos a desembolsar um bom dinheiro por ele.

Para a nova geração, a Fiat apenas lançou as versões Xingu (com adesivos alusivos à cultura indígena) e a Itália (com motor 1.4).

2014
Duas versões inéditas foram apresentadas: College (com carroceria azul e maçanetas vermelhas) e Rua (com adesivos da bandeira do Brasil). Em seguida, a Fiat relançou o Uno Itália 1.0 e apresentou a versão Evolution com retoques visuais.

2015
Em comemoração ao aniversário do Rio de Janeiro, foi apresentado o Uno Rio 450. O hatch ganhou rodas de liga leve e apliques especiais. Foi lançada, ainda, a Blue Edition, marcada por um grande adesivo aplicado no capô.

2016
Uma mudança significativa no Uno de segunda geração foi a adoção dos motores Firefly, nas configurações 1.0 (80 cv) e 1.3 (101 cv). Além do novo bloco de alumínio, que proporcionou redução de peso e consumo, as unidades tinham sistema HCSS (“Heated Cold Start System”) que eliminou a necessidade do tanquinho de partida a frio.

2021
A história do Uno acabou em 2021, quando a Fiat decidiu encerrar sua produção em Betim. O modelo já não emplacava como nos áureos tempos e deixou de fazer sentido. Sua segunda série de despedida foi chamada de Uno Ciao (“adeus”, em italiano).

O Ciao teve unidades numeradas, que podem ser identificadas por um pequeno emblema no painel. A carroceria foi pintada na cor Cinza Silverstone, mas os retrovisores, spoiler e teto permaneceram pretos.

A Fiat até colocou um adesivo com a frase “La storia di una leggenda” (“A história de uma lenda”) na lateral. Rodas de liga leve de 14 polegadas e o logotipo nas cores da bandeira da Itália na tampa do porta-malas completam o visual. A edição Ciao determinou o fim de uma trajetória que durou 37 anos ininterruptos no Brasil.

O Mobi é o sucessor natural do Uno, mas não fez o mesmo sucesso e tampouco construiu uma base de adoradores. A Stellantis vai lançar um hatch nacional totalmente novo em meados de 2026, substituindo Argo e Mobi de uma só vez. O modelo é tratado internamente como Projeto F1H. Seria este o novo Uno? A marca ainda não confirmou.

Ao todo, a Fiat emplacou mais de 4 milhões de unidades do Uno em seus 37 anos de Brasil. Poucos carros podem se gabar de uma história tão longeva — ainda mais em apenas duas gerações. Por sorte, o Uno continuará sendo figura frequente em nossas ruas. Tem alguma história marcante com um?

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Fonte: direitonews

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