Aproximadamente cem pessoas participaram da cerimônia; mostra fica aberta ao público até 19 de dezembro
Fotos: Ascom PRR4
Cerca de cem pessoas estiveram na Procuradoria Regional da República da 4ª Região (PRR4), unidade de segunda instância do Ministério Público Federal (MPF) em Porto Alegre (RS), para a abertura da Exposição Lanceiros Negros, realizada no final da tarde desta quarta-feira (21). Autoridades, convidados e parte dos 19 modelos, personalidades negras que vivem no Rio Grande do Sul e que se deixaram retratar para lembrar a força e a coragem dos escravizados que lutaram na Revolução Farroupilha (1835-1845), puderam prestigiar de perto os quadros do fotógrafo e idealizador do projeto, Marcio Pimenta, que ainda contaram com intervenções artísticas da publicitária, produtora cultural, atriz, escritora e jornalista Paula Taitelbaum.
O procurador-chefe da PRR4, Antônio Carlos Welter, deu início à cerimônia enaltecendo o evento que marca a retomada oficial de atividades abertas ao público no foyer da Regional, um espaço que tem como objetivo aproximar a sociedade do MPF também por meio de atividades relacionadas à cultura. Ressaltou a relevância da mostra e a necessidade de reparação histórica, ainda existente, a todos os descendentes de negros e negras que sofreram com a escravidão no Brasil. “A historiografia oficial é silente, omissa e pouco ou nada fala sobre o chamado Massacre dos Porongos. O fato é que mais de 200 homens negros foram mortos de forma vil, traídos em seus sonhos e seus desejos. Temos pouca ou nenhuma informação sobre essas pessoas, suas origens, nomes ou famílias, mas todos partilhavam do sonho de liberdade, que foi ceifado pelas espadas imperiais, guiadas pela falta de virtude de alguns generais farrapos”, afirmou.
Pimenta agradeceu a presença de todos, bem como o apoio das entidades que transformaram o projeto em realidade. Mas fez questão especial de destacar a abertura e disponibilidade de todos e todas que aceitaram participar do projeto. “Ninguém me conhecia e quiseram iniciar um diálogo. Em cada encontro no meu estúdio, aprendia vez mais sobre os Lanceiros Negros”, contou.
Representando a Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul, a assessora de Diversidade, Clarissa Lima, fez um discurso muito aplaudido pelos presentes. Filha de um zelador e de uma empregada doméstica, é servidora pública beneficiada pela política de cotas e tem orgulho de ser uma das retratadas da exposição, que dá visibilidade ao povo negro e a uma história pouco contada, inclusive nas salas de aula: “Cada uma das personalidades retratadas carrega consigo a ancestralidade dos Lanceiros Negros. Muito obrigada, Márcio Pimenta, por esse trabalho maravilhoso e, principalmente, por incluir mulheres negras, pois somos nós, mulheres negras, que geramos a vida e convivemos com a aflição de colocar uma criança negra em um mundo tão racista. Somos nós que ganhamos os menores salários e vivemos com a dupla discriminação de gênero e de raça. Fomos e continuamos sendo verdadeiras lanceiras negras”.
O último discurso ficou por conta do advogado e radialista Antônio Carlos Cortês, também fotografado na mostra e um dos fundadores do Grupo Palmares que, há 50 anos, idealizou e realizou a primeira celebração do 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), na capital gaúcha. Brincou que foi necessário que “o Pimenta viesse da Bahia para temperar a nossa história”. E finalizou mesclando versos do poeta mineiro Geir Campos (“Operário do canto, me apresento… sem marca ou cicatriz, limpas as mãos, minha alma lima, a face descoberta, aberto o peito, e — expresso documento — a palavra conforme o pensamento”) e da poesia Navio Negreiro, do também baiano Castro Alves, um crítico contumaz do tráfico de escravos para o Brasil:
“Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!”
Saiba mais – A exposição Lanceiros Negros está aberta à visitação pública até 19 de dezembro, na PRR4, de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h – exceto feriados. Ela faz alusão específica ao episódio conhecido como Massacre dos Porongos (1844), quando, desarmado, um esquadrão de Lanceiros Negros foi surpreendido pelas tropas imperais e acabou dizimado, dando fim ao sonho da liberdade prometida aos negros que participassem do conflito. O projeto de Pimenta inclusive já foi destaque em reportagem publicada na National Geographic Brasil, no final de junho.
A mostra é uma realização da Fundação Pedro Jorge e conta com apoio da PRR4, da Associação Nacional dos Procuradores da República e da Secretaria de Cultura do RS.
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