Em meados de maio, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou um substancial aumento nas tarifas sobre carros elétricos, painéis solares e outros produtos de fabricação chinesa. No caso dos veículos, quadruplicou a alíquota do Imposto de Importação, que passou de 25% para 100%.
Biden usou o pretexto de proteger a produção de veículos nos Estados Unidos das exportações chinesas, que seriam altamente subsidiadas e representariam uma ameaça ao seu esforço para estimular o desenvolvimento de tecnologias locais voltadas à descarbonização.
Especialistas e a imprensa americana apontaram, porém, eventuais interesses políticos por trás da medida, já que faltam apenas seis meses para a eleição presidencial nos EUA. Vale lembrar que os importados chineses não representam nem 2% do mercado americano.
Para alguns analistas, a decisão do governo americano não será capaz, no entanto, de conter as ambições das montadoras chinesas, que levam enorme vantagem não só em custos de produção e subsídios do governo mas também em escala.
Segundo a Organização Internacional dos Fabricantes de Veículos (Oica, na sigla em francês), a China foi responsável por um terço dos 93,5 milhões de veículos produzidos no planeta em 2023. Com 30,1 milhões de unidades fabricadas, ficou bem à frente do segundo colocado, os EUA, com 10,6 milhões de veículos.
Diante dos obstáculos impostos pelos americanos, os chineses tentarão expandir seu domínio em mercados como Europa, Sudeste Asiático e América Latina. Os europeus têm avaliado formas de conter esse avanço, principalmente depois que a indústria alemã, berço do automóvel, se viu ameaçada. Mas os países emergentes, principalmente os mais abertos a receber fábricas chinesas, são alvo certo.
Isso inclui, obviamente, o Brasil. O governo brasileiro também impôs travas à importação de carros elétricos, uma especialidade chinesa. Mas não se comparam com a medida tomada pelos EUA. Aqui, a alíquota do Imposto de Importação do puramente elétrico saiu de zero para 10% em janeiro e continuará a subir, gradativamente, até chegar ao teto de 35% em julho de 2026.
O aumento do imposto ainda não conteve o avanço chinês. Há um ano, as quatro chinesas que mais vendem no Brasil — Caoa Chery, BYD, GWM e JAC — tinham 2,8% do mercado. As mesmas quatro fecharam o primeiro quadrimestre de 2024 com fatia de quase 7%.
Apaixonado por carros e atento às novidades, o brasileiro se sente atraído pelos modelos chineses, seja pela tecnologia, seja pela variedade e pelo custo/benefício de seus elétricos e híbridos. Quando todos os carros eram a combustão, os chineses não conseguiram alcançar a perfeição da qualidade dos ocidentais, japoneses ou coreanos. Mas tiraram o atraso com os elétricos.
Ao contrário dos EUA, o Brasil tem relações diplomáticas amigáveis com a China. Por isso, nosso país surge como um porto seguro para os planos de expansão da indústria chinesa.
Marli Olmos, é repórter especial do Valor Econômico especializada na indústria automobilística
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Fonte: direitonews