O episódio, somado a uma série de divergências ao longo do ano, parece confirmar que a relação entre o governo de Boric e a ala mais à esquerda está cada vez mais tensa, especialmente com o Partido Comunista.
Apesar de o presidente ter incluído importantes líderes da sigla em cargos relevantes, como a secretária-geral do governo Camila Vallejo, além dos ministros da Educação, Nicolás Cataldo, e do Trabalho, Jeannette Jara, Boric ainda não conseguiu superar as fraturas com o grupo, cujos líderes têm sabotado algumas das medidas governamentais.
Enquanto isso, o incidente na Villa Francia representou mais um ponto de ruptura significativo. No último sábado (9), moradores da região foram surpreendidos pela polícia, que invadiu casas durante uma operação que investiga a possível fabricação de artefatos explosivos. Ao todo, 14 pessoas foram detidas.
A polícia conseguiu apreender três pistolas, três revólveres, uma carabina, uma submetralhadora, quatro espingardas e coletes à prova de balas, além de outros itens, o que levou o Ministério Público e o governo a considerarem a operação um sucesso.
No entanto, o Judiciário questionou uma parte significativa da ação, já que o tribunal que julgou o caso determinou que nove das 14 detenções foram ilegais. Além disso, a situação ocorreu quando era realizada uma cerimônia em memória de Luisa Toledo, líder histórica do bairro, falecida em 2021, cujos filhos foram assassinados pela polícia durante a ditadura, o que gerou críticas tanto do Partido Comunista quanto de alguns parlamentares do Frente Ampla, coalizão à qual Boric pertence.
‘Encenação do governo’
Lautaro Carmona, presidente do Partido Comunista, declarou em entrevista à rádio local Nuevo Mundo que a operação poderia ter sido uma encenação do governo para intervir na área sem provas contundentes. “Espero que do Executivo, da ministra do Interior Carolina Tohá, haja total transparência. Caso contrário, as pessoas terão o direito de dizer que isso foi uma provocação, que foi uma encenação”, afirmou.
“É fundamental garantir que todos os procedimentos sejam realizados com o máximo respeito pela dignidade e segurança dos cidadãos. É necessário evitar que o Estado seja visto como fonte de insegurança”, disse a deputada do Frente Ampla, Maite Orsini.
Já a deputada comunista Carmen Hertz, defensora histórica dos direitos humanos durante a ditadura, afirmou que a operação “foi um insulto à memória de Luisa Toledo”, enquanto Juan Andrés Lagos, militante comunista e até recentemente assessor do governo em questões de segurança, afirmou: “Os procedimentos policiais neste país precisam ser enormemente melhorados.”
Em junho houve um confronto significativo devido ao aumento do preço da eletricidade. Comunistas e líderes de esquerda independentes criticaram publicamente, por meio da imprensa, o valor insuficiente do subsídio do governo para os lares mais vulneráveis. Os líderes foram ao Palácio de La Moneda para entregar uma carta de protesto.
Por outro lado, a administração de Boric também fez críticas públicas aos comunistas. Em maio, a sigla organizou um grupo de apoio para protestar nos tribunais contra o julgamento do prefeito de Recoleta, Daniel Jadue, líder do partido processado por vários crimes como suborno e fraude fiscal.
Do Executivo, foi destacado que esse tipo de mobilização poderia representar uma pressão indevida para o correto funcionamento da justiça.
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Fonte: sputniknewsbrasil