“Em um momento desafiador como este, manter a amizade com um fornecedor tão importante [de energia] como a Rússia é essencial”, explicou Volkan Aslanoglu, especialista em energia turco.
O esquema, que prevê o pagamento de 25% do gás natural em rublos, foi proposto pelo presidente russo Vladimir Putin em 16 de setembro durante uma reunião com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan à margem da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) no Uzbequistão.
“Além de ser muito significativa do ponto de vista psicológico, essa decisão também é um movimento que reduzirá o déficit em termos de dólares”, disse Aslanoglu. “Além disso, a confiança no comércio bilateral com a Rússia, não só no campo da energia, mas também em outros campos, será reforçada. Não esqueçamos que a Rússia é um player muito importante em termos de recursos. Graças a esta decisão, nosso país será menos afetado pela crise associada às interrupções no fornecimento de mercadorias russas”, disse o especialista.
O ministro turco da Energia, Fatih Donmez, informou a repórteres na segunda-feira (19) que os bancos centrais da Turquia e da Rússia estão se preparando para organizar pagamentos parciais do gás russo em rublos, conforme acordado pelos presidentes dos dois países.
Enquanto isso, a Rússia também se beneficia com os pagamentos em rublos, de acordo com Aslanoglu.
“A Rússia há muito que procura remover a influência do dólar, por isso a decisão tomada está de acordo com as metas de longo prazo da Rússia e ajudará a proteger o impacto das sanções que a Europa impõe no setor financeiro”, argumentou o especialista em energia. “É claro que as interações [russo-turcas] no momento em que estão tentando isolar a Rússia globalmente em todas as áreas causarão grande preocupação no Ocidente. Por outro lado, enquanto os europeus tentam lidar com o aumento dos preços do gás e da eletricidade neste inverno, nós poderemos passar esse período em condições confortáveis.”
O gás natural da Rússia está fluindo para a Turquia através de duas rotas principais: o Blue Stream e os gasodutos TurkStream. Com uma capacidade total de mais de 46 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, os dois gasodutos correm sob o mar Negro. A gigante russa de energia Gazprom usa parte dessa rede para enviar gás para a Europa.
Após o início da operação especial russa para “desmilitarizar” e “desnazificar” a Ucrânia, os EUA e os países europeus aplicaram sanções sem precedentes em quase todos os setores da economia e anunciaram um embargo energético contra Moscou.
No entanto, depois que os EUA, o Reino Unido e a UE reduziram suas importações de hidrocarbonetos da Rússia, os preços do gás e do petróleo subiram ainda mais, acelerando a já crescente inflação.
Independentemente dos repetidos apelos do Ocidente, a Turquia recusou-se a abandonar a compra de energia da Rússia, deixando claro que não irá seguir o caminho das sanções ocidentais em detrimento de sua própria economia. Em 2021, a Rússia representava cerca de 45% das importações de gás natural da Turquia.
Em agosto, o secretário-adjunto do Tesouro dos EUA, Wally Adeyemo, informou à Câmara de Comércio Americana na Turquia que as empresas turcas estavam em risco de restrições dos EUA se fizessem negócios com entidades russas sancionadas.
No entanto, o jornal turco Daily Sabah destacou no mês passado que o comércio entre Ancara e Moscou “vem crescendo desde a primavera”, com o valor das exportações turcas para a Rússia entre maio e julho subindo quase 50% em relação ao ano passado. O jornal explicou que as empresas turcas passaram a preencher o vazio criado pelas empresas da UE, que deixaram a Rússia após o início da operação militar especial na Ucrânia.
Além disso, Donmez disse a Yeni Safak que a construção da usina nuclear de Akkuyu decorre em ritmo acelerado, com a primeira unidade geradora prevista para ser lançada em 2023. A Corporação Estatal Rosatom da Rússia está implementando o projeto junto com os turcos.
Da mesma forma, a última cúpula da OCX no Uzbequistão traduziu-se em novos acordos lucrativos para a Rússia e outros membros da organização eurasiana. Os participantes da reunião em Samarcanda assinaram mais de 40 acordos. Como a Forbes comentou na última sexta-feira (16), os membros da OCX representam metade da população mundial e pelo menos 25% do PIB global.