Teste: Novo Mini Cooper SE honra a tradição britânica, mesmo sendo chinês


Não sei bem ao certo o que Alec Issigonis, se fosse vivo, pensaria sobre este novo Mini Cooper. Talvez o designer que criou o icônico modelo lá em 1959, ainda sob a égide da British Motor Company, esteja se revirando no túmulo pelo visual — principalmente da traseira — e pelo fato de que agora a versão elétrica não é produzida no Reino Unido (e sim na China).

Ou talvez esteja dando pulos de alegria com o interior minimalista e tecnológico, ao mesmo tempo que honra a tradição do carrinho do fim dos anos 1950. Em um ponto, no entanto, acredito que Mr. Issigonis concordaria comigo: não dá para ficar indiferente à nova geração do Mini Cooper.

A começar pela estética. A parte frontal clássica está lá, com faróis redondos de OLED com assinatura diurna circular — há ainda três arranjos diferentes para mudar a cara do Mini. A grade octogonal traz um acabamento mais low profile, sem cromados, e uma faixa retangular na cor do carro. A cor da unidade dessas fotos chama-se amarelo Sunny Side.

Mas é na traseira que reside toda a controvérsia. As famosas lanternas, que foram crescendo ao longo do tempo, agora adotam uma estranha forma triangular com contorno em preto brilhante. O arranjo interno de LED, entretanto, possibilita ao Mini assumir diversos desenhos, como os faróis.

As lanternas são interligadas por uma peça plástica — na mesma paleta escura — que traz o nome da versão em prata. A Mini diz que esse tom dá requinte ao modelo. O conjunto traseiro, com certeza, é a parte menos Mini de todos os tempos. Já ao vivo, a impressão é melhor que nas imagens, isso eu posso garantir.

Vamos à outra parte intrigante. O Mini Cooper elétrico não é feito no Reino Unido, como seu homônimo a combustão. A configuração com baterias é produzida na China, em uma parceria do Grupo BMW (o conglomerado alemão é dono da Mini) com a… GWM! A joint venture chamada Spotlight foi criada em 2018 e originou uma fábrica inaugurada neste ano em Zhangjiagang, província chinesa de Jiangsu.

O investimento de mais de R$ 3,5 bilhões também rende uma nova plataforma (Spotlight EV), base do Cooper e do inédito Aceman (posicionado entre o Cooper e o Countryman), além de 3 mil funcionários e uma capacidade de construir 160 mil carros por ano. A base ainda será usada futuramente pela própria GWM em um novo carro elétrico, possivelmente da marca Ora. Novos tempos…

A estrutura dá novas dimensões ao Mini, mas o time de design mexe nos balanços dianteiro e traseiro para deixar o carro mais proporcional. O comprimento fica na casa dos 3,85 metros, mas largura (1,75 m), altura (1,46 m) e entre-eixos (2,52 m) estão 3 cm maiores. O espaço atrás para as pernas ainda é parco para dois adultos viajarem com conforto, principalmente se os ocupantes dianteiros forem altos e colocarem os bancos bem para trás. O porta-malas continua com apenas 210 litros.

Um dos destaques dessa nova geração do Mini Cooper não é o exterior, o motor ou a bateria. É o interior. Tudo começa pelo resgate do conceito minimalista do Mini de 1959. Não há mais painel de instrumentos (somente um head-up display).

Os materiais escolhidos são, simultaneamente, descontraídos e requintados de alguma forma, como o tecido das portas e do console, uma espécie de tricô tecnológico usado em tênis. A combinação de cores e detalhes também impressiona e dá à cabine um aspecto muito descolado como sempre foi, mas que talvez tenha se perdido ao longo do tempo.

O volante (cheio de botões) é novo e tem três raios. Um deles traz um pedaço de tecido rígido, um capricho à parte. Mas a cereja do bolo definitivamente é o interior com a belíssima central multimídia na clássica posição central e no tradicional formato circular. É de altíssima resolução e concentra praticamente todas as funções do carro.

Ali estão reunidos velocímetro, dados sobre autonomia e carga da bateria e até o quanto você usa de potência do carro. Muito fácil de mexer e intuitivo, o sistema tem diversas animações, interfaces e sons de acordo com os chamados modos de experiência.

Talvez o mais legal seja quando o Mini adota um padrão vintage, com alusão aos mostradores lá de outrora. A marca britânica também gravou o som do motor e do escapamento do Mini clássico e deu uma roupagem moderna para quem vai dentro escutar — quando você tira o pé do acelerador, o carro até dá aquela “embrulhada” no motor. É bem legal!

“Olá, Mini. Estou entediado.” Fale isso por meio do comando de voz e o sistema operacional vai responder perguntando se você quer que o carro entre no modo “Go Kart”. “Sim!”, respondo. A tela carrega a experiência mais divertida. O grafismo e o som ao ser pressionado o acelerador mudam. O Mini assume a trilha de uma espaçonave e, quando o condutor afunda o pé, parece que vai entrar em um portal de outra dimensão.

Sob a tela ficam alguns poucos comandos físicos do Mini. No nicho estão o botão P do câmbio, três interruptores (seletor de marcha, ligar/desligar o motor e os modos de experiência) e um último comando, giratório, para avançar/retroceder as músicas ou aumentar/baixar o volume do som.

Bom, a nova geração do Mini Cooper acaba de estrear no Brasil, mas só com motores a gasolina. A opção elétrica fica para o segundo semestre. As versões já estão definidas: E e SE. A de entrada mantém os mesmos 184 cv de potência e 0 a 100 km/h e 7,3 segundos do Cooper vendido atualmente por aqui, porém com 2 kgfm a mais de torque (29,5 kgfm) e bateria de 40,7 kWh no lugar da de 32,6 kWh. A autonomia deve aumentar dos 164 km atuais para perto dos 200 km, segundo o Inmetro. No WLTP, o novo número é 305 km.

Já na configuração mais cara, SE, são 218 cv e 33,6 kgfm. A bateria é de 54,2 kWh e faz o Mini rodar até 402 km (WLTP) — no padrão brasileiro, deve ficar entre 280 km e 300 km. O carrinho consegue atingir 170 km/h de velocidade máxima.

Autoesporte foi com exclusividade até a cidade de Sitges, nos arredores de Barcelona (Espanha), para dirigir o simpático novo Mini. A versão escolhida foi a SE. É muito fácil achar a posição ideal com os amplos ajustes do banco. Há alguns porta-objetos para pôr carteira, chaves e celular. O head-up display facilita a vida de quem dirige, para que não tire os olhos da via. Mas o GPS não tem jeito: se você quiser olhar o mapa por completo, vai ter que desviar a atenção.

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Nas estradinhas vicinais o Mini se destaca. O porte do carrinho é perfeito para serpentear os caminhos sinuosos entre ciclistas e motociclistas. Só a direção poderia ser um pouco mais direta — às vezes, é difícil sentir para onde as rodas estão indo. O ajuste de suspensão é bem firme, como o do antecessor, mas sem muitos problemas para as lisas ruas e rodovias europeias. Por aqui, deve sofrer um bocado mais.

Potência e torque não faltam. Apesar dos 1.605 kg de peso dessa nova geração, os 218 cv e 33,6 kgfm são mais que suficientes para movimentar o pequeno hatch com agilidade. Claro que não é um Porsche Taycan, mas dá conta do recado com acelerações vigorosas, ligeireza para sair de enroscos no trânsito e necessidade de pouco espaço para ultrapassagens. O 0 a 100 km/h é feito em 6,7 s. Número ok…

Quando chegar ao Brasil, o Mini não terá rival direto. Os valores devem ficar entre R$ 250 mil e R$ 300 mil. BYD Dolphin e GWM Ora 03 são bem mais baratos. Esse rival talvez seja o Volvo EX30, um SUV compacto premium com etiqueta atrativa, a partir de R$ 220 mil (também avaliado nesta edição).

Além de Mr. Issigonis, fico curioso para saber a opinião de outro senhor sobre o novo Mini Cooper. O que Mr. Bean teria a dizer?

Ponto positivo: Maior autonomia e mais potência; acabamento descolado; central multimídia é uma das melhores da indústria
Ponto negativo: O design das lanternas é polêmico; o hatch poderia ter uma direção mais assertiva

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Fonte: direitonews

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