Endividamento público deve crescer nos próximos anos, diz seguradora de crédito


A incerteza fiscal e a sustentabilidade da dívida pública são dois dos principais riscos da economia brasileira, aponta relatório da Allianz Trade, uma das maiores seguradoras de crédito do mundo.

Segundo a empresa, a pandemia da Covid-19 impôs um grande desafio fiscal para o Brasil. Em 2020, o déficit nominal (diferença entre o que o governo arrecada e gasta, incluídas as despesas com a dívida pública) atingiu 11,9% do PIB. As medidas adotadas para reativar a economia foram o grande causador do rombo nas contas públicas brasileiras.

A situação melhorou em 2021 e 2022, mas voltou a piorar no passado quando as políticas de expansão dos gastos por parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levaram a um déficit de 7,1% do PIB

Os impactos devem ser sentidos no aumento do endividamento público nos próximos anos. Considerando o conceito do Fundo Monetário Internacional (FMI), que abrange títulos públicos em poder do Banco Central, a dívida pública chegou a 96% do PIB em 2020 e caiu para 85,3% em 2022. A Allianz Trade projeta que ele alcance 92,4% em 2025.

Os critérios usados pela seguradora na análise são diferentes dos adotados pelo BC. A autoridade monetária não considera os títulos públicos em posse dela nos cálculos.  Segundo ela, a dívida pública encerrou 2020 em 86,9% do PIB, caiu para 73% do PIB em 2022 e fechou o ano passado em 76% do PIB. Nos 12 meses encerrados em abril, ela subiu para 77,7% do PIB.

A mediana das projeções de bancos, corretoras e consultorias para a dívida pública disponibilizadas ao BC indica um endividamento público de 77,6% no final deste ano e de 80% no próximo.

Os economistas da seguradora mostram preocupação em relação às expectativas de receita, por parte do governo, e aos prováveis gastos acima do projetado, mesmo diante da revisão do arcabouço fiscal, que reduziu a meta de 2025 e 2026 para déficit zero.

Consumo deve favorecer dinamismo da economia

O estudo ressalta que a trajetória econômica do Brasil será influenciada por diversos fatores, com os gastos do consumidor sendo um dos principais impulsionadores do crescimento econômico, estimulados por uma forte base de consumidores e um mercado de trabalho ajustado. No entanto, alerta para a possibilidade de pressões inflacionárias decorrentes do aumento dos salários e da persistente inflação nos serviços.

A previsão é de que a inflação, após atingir 4,6% em 2023, tenha uma lenta desaceleração até convergir para a meta de 3%, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 2025. Segundo a Allianz Trade, para atingir esse cenário, o BC iniciou um ciclo de cortes de juros em agosto de 2023. A expectativa é de que os cortes continuem no segundo semestre, antes de uma interrupção projetada em 9,75%

Esse não é o cenário previsto pelo mercado financeiro. A negociação de contratos do Copom na B3 sinaliza para uma probabilidade de 90% na manutenção da taxa na próxima reunião, que acontece nos dias 18 e 19.

Mesmo bancos, consultorias e corretoras não são tão otimistas. Segundo o boletim Focus, do Banco Central (BC), eles estimam que até o final do ano só haverá mais um corte de 0,25 ponto percentual até o final do ano. A expectativa é de que ela ocorra no segundo semestre

Os economistas da Allianz Trade estimam que o crescimento do PIB brasileiro atinja 2% em 2024, com projeções de crescimento médio de cerca de 2% de 2025 a 2028. O número pode ser maior, desde que o país mantenha o curso de reformas significativas voltadas para o aumento da produtividade.

Fonte: gazetadopovo

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