Convites para sua casa, atenções não solicitadas, insinuações. Elon Musk, o bilionário CEO da SpaceX e Tesla, enfrenta acusações de comportamento inadequado com ex-funcionárias, de acordo com uma investigação do Wall Street Journal publicada nesta quarta-feira (12).
O artigo detalha os supostos encontros de Musk com várias mulheres que trabalharam para ele ou para sua empresa de foguetes SpaceX. As relações muitas vezes terminavam com a demissão das mulheres, seguida de lucrativas indenizações. A investigação do jornal americano se baseia em conversas com cerca de 50 pessoas, incluindo ex-funcionários, pessoas próximas a Musk, amigos e familiares das mulheres envolvidas. Também foram examinados e-mails, mensagens e outros documentos dos advogados das mulheres, revisados pelo Journal.
Um dos casos envolve uma engenheira que manteve um relacionamento com Musk durante seu estágio na SpaceX, quando ela ainda estava na universidade. Segundo a ex-funcionária relatou a amigos, sua proximidade inicial com Musk durante o estágio, quando ela propôs ideias para melhorar a SpaceX, resultou em um encontro que levou a beijos e até mesmo relações sexuais. Um ano depois de encerrar o estágio, o bilionário, 20 anos mais velho que ela, convidou a recém-formada para um resort na Sicília, antes que ambos encerrassem o relacionamento, segundo documentos revisados pelo WSJ. Naquela época, Musk era casado com a atriz Talulah Riley. Eles se divorciaram em 2016.
Apesar da separação, Musk tentou retomar o relacionamento com a ex-funcionária quando a contratou em 2017 para um cargo em sua equipe executiva. Musk a convidou para tomar algumas bebidas e se insinuou, tocando em seu peito. Um dos amigos da mulher lembrou de Musk dizendo: “Oh, sou tão mal. Não deveria fazer isso”.
A mulher recusou a proposta de Musk de retomar o relacionamento, embora tenha aceitado o trabalho, segundo o WSJ. Ex-funcionários disseram ao jornal que, embora ela fosse uma engenheira talentosa, parecia estranho que alguém tão jovem recebesse um cargo tão alto tão perto do chefe.
Posteriormente, eles permaneceram próximos enquanto ela tentava se estabelecer em seu novo cargo na SpaceX. Musk frequentemente enviava mensagens de texto convidando-a para sua mansão em Los Angeles à noite, convites que às vezes ela aceitava, mas a deixavam desconfortável no trabalho, disseram amigos ao Journal.
Com o tempo, ela deixou de ser executiva e passou a depender de outro engenheiro. Ela saiu da SpaceX em 2019 depois que um executivo ao qual se reportava foi incluído em uma demissão em massa, disse em um dos depoimentos juramentados.
Em depoimentos fornecidos por seus advogados, que também representam Musk, a ex-funcionária confirmou ter tido um relacionamento romântico com Musk no passado, mas negou que houvesse um “relacionamento romântico” durante seu emprego na SpaceX de 2017 a 2019.
“Nada do que Elon Musk fez comigo durante qualquer um dos meus períodos de emprego na SpaceX foi predatório ou ilegal de forma alguma”, afirmou a mulher segundo o Journal.
Em um dos depoimentos, a mulher afirmou que nas poucas vezes em que foi à casa de Musk, assistiram televisão e conversaram sobre a rampa de produção do Tesla Model 3 e o “futuro técnico da humanidade”.
Um cavalo em troca de sexo
O artigo, citando fontes anônimas, também detalha outros supostos casos de comportamento inadequado por parte de Musk em relação a outras ex-funcionárias.
Uma comissária de bordo da SpaceX alegou que em 2016 Musk mostrou seu pênis ereto e ofereceu um cavalo em troca de atos sexuais enquanto ela o massageava durante um voo, segundo pessoas familiarizadas com as acusações. A SpaceX reduziu seus turnos depois que ela recusou seus avanços, alegou a mulher. A empresa concordou posteriormente em pagar-lhe 250.000 dólares. Musk classificou as acusações da comissária de bordo como “totalmente falsas”. Nas redes sociais, brincou dizendo que o escândalo deveria ser chamado de “Elongate” e negou ter usado uma comissária de bordo em seu avião.
Outra ex-funcionária que deixou a SpaceX em 2013 alegou que Musk “pediu várias vezes para ela ter seus filhos” durante as negociações de sua saída. Musk, que tem pelo menos 10 filhos, disse que o mundo enfrenta uma crise de subpopulação e que pessoas com alto coeficiente intelectual deveriam procriar.
Mas a mulher da SpaceX recusou a oferta de Musk. Ela continuou trabalhando para Musk depois que ele pediu que tivesse seus filhos, mas seu relacionamento se deteriorou. Além das acusações sobre os bebês, Musk havia negado um aumento salarial para a mulher e reclamado de seu desempenho, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. A mulher recebeu um pacote de saída em dinheiro e ações avaliado em mais de um milhão de dólares, segundo uma pessoa familiarizada com o acordo.
Em 2021, Musk teve gêmeos com Shivon Zilis (também contou em sua biografia publicada em setembro de 2023), uma executiva da empresa de implantes cerebrais Neuralink, também propriedade do bilionário.
Uma quarta mulher manteve um relacionamento sexual de um mês com Musk em 2014 enquanto trabalhava diretamente para ele, o que resultou em “recriminações por mensagens de texto e e-mail” quando ela deixou a empresa.
À medida que as tensões aumentavam, Musk designou Sam Teller, seu chefe de pessoal, para lidar com a saída da mulher, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto e os e-mails que a mulher compartilhou com outros. Musk se recusou a pagar à mulher diretamente em ações da Tesla. Em um e-mail de 29 de dezembro de 2014, Teller ofereceu a ela $35.400 em dinheiro pelo seu trabalho não remunerado, dizendo que ela poderia usá-lo para comprar as ações em seu lugar. Ela negociou a oferta até $85.000, citando impostos e seu amplo relatório para o bilionário.
Para receber o dinheiro, ela teve que assinar um acordo que a obrigava a liberar Musk de possíveis reclamações legais “conhecidas e desconhecidas” e a manter as informações sobre ele “em estrita confidencialidade”, incluindo o próprio documento. Ela compartilhou o acordo com pessoas próximas antes de assiná-lo.
“Falsidades”
O Journal citou ex-funcionários e demitidos da SpaceX que se queixaram do que descreveram como uma cultura de sexismo e assédio em torno do fundador, que pode agir com impunidade.
“Elon é a SpaceX, e a SpaceX é Elon”, lembrou um antigo engenheiro que um executivo disse em uma reunião após as demissões de alguns funcionários críticos de Musk.
No entanto, Gwynne Shotwell, presidente da SpaceX, rejeitou as acusações descritas no artigo como “falsidades” e “uma narrativa completamente enganosa” que não reflete a cultura da empresa.
“Ainda estou surpresa com o que este extraordinário grupo de pessoas alcança todos os dias, mesmo no meio de todas as forças que agem contra nós. E Elon é um dos melhores seres humanos que conheço”, afirmou Shotwell ao Journal.
A SpaceX, acrescentou, investiga completamente todas as denúncias de assédio e toma as medidas apropriadas nos casos.
Musk não respondeu aos pedidos de comentários do jornal. Alex Spiro, um de seus advogados, havia anteriormente descartado relatos sobre o uso de drogas por Musk, dizendo que “ele é regularmente e aleatoriamente sujeito a testes de drogas na SpaceX e nunca falhou em um teste”.
Leis federais sobre relacionamentos no trabalho
As histórias relatadas pelo WSJ não resultaram em denúncias formais (embora a da aeromoça tenha sido tornada pública pelo Business Insider em 2022), mas desde 2017 o comportamento dos executivos no local de trabalho tem sido objeto de maior escrutínio, em parte graças ao movimento #MeToo.
As proibições rigorosas de relacionamentos sexuais entre “chefes” e funcionários, por medo de criar desequilíbrios de poder e conflitos de interesse, por exemplo, já fazem parte da cultura empresarial americana, assim como existem leis federais e estaduais que impedem os executivos de assediar sexualmente os funcionários.
Alguns tribunais, além disso, reconheceram o “favoritismo sexual” como uma forma de assédio, considerando denúncias feitas por trabalhadores que alegavam um tratamento preferencial por parte de colegas com quem mantinham relacionamentos consentidos. E a própria SpaceX desencoraja formalmente os relacionamentos internos entre funcionários.
Fonte: gazetabrasil
