“A Rússia permanece sendo um dos atores-chave do comércio mundial, apesar das restrições e das sanções ilegítimas”, disse o presidente russo, acrescentando que “os países amigos da Rússia são responsáveis por três quartos de seu volume comercial”.
“O primeiro ponto diz respeito à intervenção do Estado na economia, que garantiu a continuidade do processo produtivo e a estabilização do oferecimento de bens e serviços à população e a vários setores-chave da economia de maneira geral. Isso se deu de uma maneira coordenada, com uma política macroeconômica conduzida também pelo Banco Central da Rússia, que, por meio do controle do comércio exterior e também de juros, conseguiu garantir que não houvesse um processo inflacionário”, explica o pesquisador.
“Isso garantiu não só que as fábricas não fossem fechadas e a população se mantivesse empregada, como também a continuidade do abastecimento desses bens e serviços para a população de uma maneira geral.
“A credibilidade e confiança dos sistemas de pagamentos ocidentais foram severamente minadas pelos próprios países ocidentais. A esse respeito, gostaria de observar que, no ano passado, a parcela de pagamentos para as exportações russas nas chamadas moedas ‘tóxicas’ de países hostis diminuiu pela metade”, disse Putin.
“Então o dólar acabou se tornando um instrumento de canalização do abastecimento da própria economia estadunidense e também da população, pois o FED, ele acabou se tornando um instrumento de subsidiamento do consumo da própria população estadunidense.”
Ascensão da nova ordem multipolar é ‘inevitável’
“O mundo de 2024 é completamente diferente, pois temos potências regionais consolidadas, países como o Brasil, África do Sul, Nigéria, Indonésia, que possuem não só um dinamismo que provém das suas capacidades demográficas, de recursos humanos e naturais, mas sobretudo da sua capacidade de construção científica e tecnológica. Se nós pegarmos hoje o quadro de produção de conhecimento de cientistas e de inovações globais nós observamos que países do Sul Global têm tido um papel muito importante nesse processo”, diz o pesquisador.
“Eu acredito que mecanismos como esse [proposto por Obrador], que podem ser propostos sobretudo pelos países do Sul Global, serão fundamentais para a construção de uma maior soberania tecnológica que abranja não só a produção científica em si dentro do âmbito acadêmico, mas também a produção científica e tecnológica no âmbito produtivo, no que diz respeito à administração e ao uso dos recursos naturais, que é um tema fundamental para os países do Sul Global hoje”, afirma.
“O BRICS, por exemplo, ele já está caminhando para sua terceira expansão, então você teve a inclusão da África do Sul em 2010, quando o BRICS se torna BRICS, com a inclusão do S, de South Africa, depois você vai ter a segunda expansão feita no ano passado, com a inclusão de vários países da África, do Oriente Médio, da Ásia […] e agora se vislumbra realizar uma terceira expansão, pegando países do Sudeste Asiático e da América do Norte, como o México, e, aí, há a medida de fazer com que o BRICS seja cada vez mais visto como um órgão mais participativo, que inclua diversos interlocutores regionais”, diz o especialista.
Kiev finge ofensiva diplomática enquanto investe em mobilização
“Vemos essa mobilização forçada na Ucrânia. É claro que a idade da mobilização [para alistamento nas Forças Armadas Ucranianas] diminuirá. Sabemos com segurança, através de fontes ucranianas, que os americanos estabeleceram condições para o apoio contínuo, reduzindo a idade de mobilização”, disse o presidente russo.
“Isso mostra que por mais perdas que o governo ucraniano esteja sofrendo, por mais desfavorável que nós estamos enxergando que o desfecho da guerra [se apresenta] — não está trazendo os resultados almejados tanto para a Ucrânia quanto para os países da OTAN —, esses países preferem dobrar a aposta, aumentar, escalar ainda mais o conflito”, conclui o especialista.

Fonte: sputniknewsbrasil