“Mais do que isso, aponta para uma maior representatividade do mundo em desenvolvimento dentro do BRICS, esse que é um bloco que surge exatamente na esteira da crise de 2008, na esteira da consolidação dos países do Sul Global, dos países emergentes, como eixos importantes em uma multipolaridade internacional no século XXI. Então certamente a entrada da Tailândia mostra esse duplo processo de alargamento do bloco e de adensamento das suas capacidades, visto que estamos falando não de qualquer país — a Tailândia tem o segundo maior PIB da ASEAN, um país com 70 milhões de habitantes. É um país considerável.”
“Em termos comerciais, a ASEAN já é há alguns anos o terceiro maior parceiro comercial do Brasil em termos de destino de exportações. Entre 2019 e 2023, o crescimento médio das exportações do Brasil para a ASEAN foi na casa dos 20%, praticamente 9, 10 pontos acima do crescimento das exportações do Brasil como um todo. Então o Brasil já tem grandes relações comerciais com a ASEAN.”
“O secretariado da ASEAN fica em Jacarta, na Indonésia, e o Brasil acabou de indicar o embaixador Henrique Ferraro, que já apresentou suas credenciais para o secretário-geral da ASEAN. A partir de então, o Brasil passa a ter pelo menos dois embaixadores em Jacarta, dois embaixadores na Indonésia. É um embaixador de fato acreditado junto ao próprio país, a Indonésia, e o embaixador junto à ASEAN.”
Entrada da Tailândia abre portas para outros países asiáticos?
Por que tantos países demonstram interesse em integrar o BRICS?
“Diversamente de outros grupamentos de países, o BRICS começa com propostas de reforma das instituições financeiras internacionais, FMI e Banco Mundial, e enquanto isso não se faz plenamente, criou o seu próprio banco de desenvolvimento”, afirma Casella.
“O conflito entre Rússia e Ucrânia e os conflitos mais recentes agora no Oriente Médio, envolvendo Israel, Hezbollah, Hamas, Irã, tudo isso tem mostrado como o mundo parece cada vez mais caminhar para dois blocos bem claramente identificados, muito embora alguns países, pelo menos retoricamente, adotem um não alinhamento, como é o caso chinês. Mas nesses termos o BRICS ganha em relevância, sobretudo quando passa a contar com países como a Arábia Saudita e o Irã, países que geopoliticamente estão de lados opostos, porém estão juntos no BRICS. Isso explica bastante a relevância do bloco, porque além das disputas geopolíticas como um todo, o bloco tende a ter alguma coesão na sua retórica”, complementa.
“A passagem de cinco para dez países no BRICS, primeira ampliação desde a chegada da África do Sul, em 2011, quando os chineses organizaram a chegada desta na reunião de cúpula de Sanya, na China, é uma grande mutação da dinâmica do BRICS. Ninguém ainda pode saber como funcionará o BRICS com dez Estados. Ainda será necessário algum tempo para que os cinco novos se integrem a todos os mais de cem grupos de trabalho em andamento no BRICS.”
Fonte: sputniknewsbrasil