“São 33 letras e um monte de coisa! No início falei ‘Cruz credo, tá amarrado!’, mas depois peguei o jeito. Depois que aprende, é tranquilo”, conta a estudante.
“De início, estudava apenas porque era matéria da escola, mas depois acabei gostando. Estudo aqui na escola e também em casa, pela plataforma da faculdade da RUDN [sigla em russo para Universidade Russa da Amizade dos Povos], vejo vídeos, ouço música russa e gosto de ler poemas”, conta ela. “Você se aprofunda e se apaixona, já era”, garante a adolescente.
“Antes só conhecia aqueles castelos [Kremlin], pontos turísticos… Agora já sei que a Rússia tem 11 fusos horários, que tem lugares em que faz menos 45 °C… Fiquei boba”, conta. “E que o índice de analfabetismo é muito baixo, pois na época da União Soviética fizeram um intensivão de aulas”, explica a estudante.
“Nunca achei que fosse sair do país, mas para a Rússia tenho muita vontade. Tenho muita curiosidade de conhecer as pessoas, como elas vivem, é um choque cultural que adoraria viver.”
“Os alunos são muito abertos, muito ativos, interessados. Com os do terceiro ano, falamos sobre a Rússia por meio de poesias, autores contemporâneos. Falamos sobre os símbolos do Estado russo, as tradições russas, os povos que vivem no território da Rússia e falam a língua russa”, conta ela.
Número de alunos brasileiros só aumenta
“É maravilhoso, porque vejo como a cada ano está crescendo, se ampliando o interesse pela língua russa, pela literatura russa. Agora três alunos nossos estão fazendo intercâmbio em Moscou. Além da USP, vejo como se amplia o interesse”, comemora.
“Ontem fiquei das 18h00 até meia-noite falando de Nabokov, de “Lolita”, com o Clube das Meninas, na faixa de 20 anos de idade. Amanhã vou à Biblioteca do Senado falar sobre os demônios de Dostoiévski.”
“Os russos são simpáticos e ficam encantados quando descobrem que sou brasileiro e falo russo. Foi ótimo não só por conta do conteúdo humano e intelectual que adquiri lá, mas também para praticar quase 100% do tempo o idioma que tanto me esforço para aprender e ensinar aos outros”, conta.
Possibilidade de driblar a russofobia
“A pessoa que aprende russo pode acessar uma infinidade de obras técnicas das mais diversas áreas do conhecimento, da medicina, engenharia, até a computação, cosmonáutica, pedagogia e geofísica. Além disso, os russos são parceiros estratégicos do Brasil no âmbito do BRICS e muitas empresas russas atuam no Brasil e no mundo”, destaca Rubio.
Guerra Fria prejudicou tradução direta de clássicos
“A grande maioria [dos tradutores] tem sobrenome latino, português, italiano, que é o meu caso também. Somos pessoas sem nenhuma ligação com a Rússia do ponto de vista de sangue, de descendência, mas que nos encantamos com a cultura russa a partir da literatura”, comenta ele.
“Tem vários autores contemporâneos sendo traduzidos, entrando aos poucos no Brasil, se somando a esse cânone que rendeu a invasão russa no Brasil. Essa invasão literária fez com que pessoas como eu e muitos outros que não têm nada a ver com aquela parte do mundo tenham se encantado com a língua”, comenta Perpétuo.
“A literatura russa está muito consolidada, vejo pelas encomendas que recebo. Tem mais 10, 20, 30 pessoas que podem traduzir o mesmo livro. Há algum tempo, há uma formação constante de gente habilitada a trabalhar profissionalmente com o russo, então tem essa sinergia do mercado, uma coisa alimenta a outra”, explica Franco Perpétuo.
“O interesse por essa cultura só vejo realmente crescer, não vejo arrefecer”, afirma o tradutor.
O legado soviético
“A vitória na Grande Guerra Patriótica também me interessava muito. Gostava de pesquisar na Internet cartazes e músicas soviéticas e sempre quis entender o que aquelas coisas diziam, já que estavam em um idioma totalmente diferente do meu”, lembra ele.
“Os cursos eram relativamente baratos, e consegui convencer meus pais de que naquela fase terrível da adolescência a melhor coisa que eles tinham a fazer era se livrar de mim, me deixando brincar com o alfabeto cirílico”, conta ele.
“Muitas pessoas estão politicamente ligadas à União Soviética ou à Rússia moderna e seu projeto de construção de um mundo multipolar. Outras são apaixonadas pela cultura e pela riquíssima literatura da Rússia”, opina Rubio. “Há ainda os que me procuram para aprender russo por razões profissionais, atuam em áreas onde os russos são ótimos, e os aventureiros que só querem aprender algo novo e se lançam no desafio do russo.”
O professor de russo Lucas Rubio, do Instituto Soyuz, em visita à Rússia durante o Festival Mundial da Juventude na cidade de Sochi
O professor de russo Lucas Rubio, do Instituto Soyuz, em visita à Rússia durante o Festival Mundial da Juventude na cidade de Sochi
Lucas Rubio durante o Festival Mundial da Juventude em Sochi
Lucas Rubio durante o Festival Mundial da Juventude em Sochi
O professor de russo Lucas Rubio, do Instituto Soyuz, em visita à Rússia durante o Festival Mundial da Juventude na cidade de Sochi
Lucas Rubio durante o Festival Mundial da Juventude em Sochi
Protagonismo feminino na literatura contemporânea
“Acho que tem uma emergência de autoras na Rússia. Isso, na verdade, ajuda um pouco que elas sejam bem recebidas hoje aqui no Brasil, tem uma demanda também por escrita feminina. Então acho que isso se encontra”, avalia Franco Perpétuo.
“Minhas alunas, muitas querem estudar, traduzir a literatura de mulheres russas”, afirma a professora.
Rússia por e para brasileiros
“Lembrei daquele filme do Macaulay Culkin, ‘Esqueceram de mim’, aquela neve toda. Muito frio, tempo nublado, todo lugar tem que vestir casaco, cachecol e aquele chapeuzinho do Chaves”, brinca.
Dançarino e residente na Rússia há mais de 20 anos, o brasileiro Antonio Claudio Luz Silva, conhecido como Kakau, joga capoeira na Praça Vermelha, em Moscou, em junho de 2024
Dançarino e residente na Rússia há mais de 20 anos, o brasileiro Antonio Claudio Luz Silva, conhecido como Kakau, joga capoeira na Praça Vermelha, em Moscou, em junho de 2024
Professor e dançarino brasileiro, Antonio Claudio Luz Silva, o Kakau, que vive na capital russa, Moscou, posa com alunos mirins, em junho de 2024
Professor e dançarino brasileiro, Antonio Claudio Luz Silva, o Kakau, que vive na capital russa, Moscou, posa com alunos mirins, em junho de 2024
Dançarino e residente na Rússia há mais de 20 anos, o brasileiro Antonio Claudio Luz Silva, conhecido como Kakau, joga capoeira na Praça Vermelha, em Moscou, em junho de 2024
Professor e dançarino brasileiro, Antonio Claudio Luz Silva, o Kakau, que vive na capital russa, Moscou, posa com alunos mirins, em junho de 2024
“Ela fala que tem que estar sempre estudando. Tanto que estou sempre estudando. Sempre me corrige em alguma coisa. Que erro quando me empolgo, né? Quando não sai, quero falar inglês. Ela fala: ‘Não. Vai procurar essa palavra no dicionário'”, comenta.
Sobre a data
“Fiquei fascinado pela história da União Soviética e suas imensas conquistas sociais, econômicas, militares e tecnológicas. Lembro que a figura de Yuri Gagarin exercia um grande magnetismo sobre mim, e o russo é o idioma do Cosmos. O primeiro satélite e os primeiros humanos a chegarem e a habitarem o espaço aberto foram os soviéticos, e o primeiro idioma falado lá fora entre as estrelas foi o russo. Ninguém pode apagar esse título”, conclui Rubio.
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Fonte: sputniknewsbrasil