As chuvas no Rio Grande do Sul deixaram muitos produtores rurais isolados. No Vale do Taquari, mesmo as famílias que não tiveram suas propriedades alagadas ficaram incomunicáveis após as enchentes. Por isso, a Emater/RS-Ascar vem trabalhando junto às prefeituras, utilizando barcos, helicópteros e caminhonetes 4×4, para levar suprimentos. Desta forma, busca-se garantir a segurança alimentar da população rural, além de ração para a criação de animais.
Muçum está entre os municípios mais afetados. Uma equipe da Emater/RS-Ascar foi incluída no Comitê de Crise da Prefeitura. A extensionista rural Tatiane Turatti está atuando nesta linha de frente desde o dia 5 de maio, ajudando a entregar alimentos, medicamentos e água potável. “Nós conhecemos as famílias, tanto as localizações, quanto o perfil socioeconômico, sabemos das suas necessidades”, relata.
Após uma primeira etapa de identificação e busca, na última semana o comitê procurou abastecer as famílias por acessos alternativos, entregando alimentos, água, medicamentos e combustível para os geradores. Esse trabalho em Muçum atende aproximadamente 160 famílias isoladas por quedas de barreiras e/ou sem energia elétrica ou água. Setenta delas foram afetadas diretamente por alagamentos em suas propriedades.
De acordo com o prefeito de Muçum, Mateus Giovanoni Trojan, “a Emater está tendo um papel muito importante, no trabalho de contato, de entrega e controle, para que esses mantimentos cheguem onde têm que chegar”. O comitê também está dando suporte no município de Roca Sales, vizinho a Muçum e duramente atingido pela enchente, da mesma forma.
Dificuldades persistem
“Todas as nossas propriedades rurais do município seguem sem energia elétrica, e famílias de pelo menos seis comunidades seguem sem acesso via terrestre”, relatou Turatti na quarta-feira (15/05). Na cidade, enquanto luz e água voltavam, o sinal de celular não havia sido restabelecido. O Escritório da Emater/RS-Ascar está sendo utilizado de abrigo para os bombeiros que trabalham no município, cerca de 20 homens. Nos primeiros dias também foi sede do recebimento e distribuição de doações.
Durante a semana, a Emater/RS-Ascar começou a receber pedidos de atendimentos individuais sobre laudos para seguros e técnicos agropecuários específicos. A extensionista avalia que a ansiedade é um ponto constante entre as famílias de Muçum, que temem ficar sem suprimentos, mesmo recebendo de dois em dois dias grandes quantidades. O comitê passou então a incluir nas visitas aos isolados uma equipe de psicologia.
Com a dificuldade de restabelecer acessos terrestres, em meio a novas chuvas, os problemas persistem. Turatti observa que muitas famílias estão descartando o leite. “Já vemos algumas propriedades com falta de alimentação animal e vacas doentes”, diz. Para a extensionista, a falta de acesso e de energia elétrica gera incertezas de futuro nos produtores.
Alimentação animal
Nos últimos dias, desobstruir o acesso às propriedades tem sido essencial para que chegue ração para alimentar as criações no município de Marques de Souza. Lá, o extensionista rural Diovane Ferreira relata que a Emater/RS-Ascar compõe uma frente de trabalho junto à Prefeitura e às empresas integradoras, para acessar pequenas granjas de suínos e aves, que estavam isoladas e incomunicáveis. “Os produtores estão dando um jeito de racionar e fornecer alimentos alternativos para manter os animais vivos”, relata Ferreira.
Durante a primeira semana, o racionamento da ração estocada garantiu baixa taxa de mortalidade. Então, a frente de trabalho conseguiu levar mais alimento a 27 granjas, que juntas criam mais de um milhão e meio de aves, para o corte e a produção de ovos. Entre as famílias afetadas diretamente no município, outras 23 criam suínos, totalizando mais de 29 mil cabeças.
A frente de trabalho ajudou a amenizar a falta de ração, mas ainda há problemas de fornecimento. A alimentação que vinha de Arroio do Meio, a 25 quilômetros de Marques de Souza, agora é fornecida por fábricas de Marau, Nova Bassano e até de Santa Catarina. Por isso, enfrentam estradas obstruídas e longas distâncias para chegar até os produtores.
Abastecer ração para as vacas de leite também se tornou um desafio no município. Nesta semana, a frente de trabalho passou a atender 40 propriedades, lindeiras com o Rio Forqueta, que transbordou e causou deslizamentos. Foi feita a entrega de doações vindas de Santa Catarina e Paraná, intermediadas pela Associação de Produtores Gadolando. Já a empresa Ordemax, que atua no local, cedeu caminhões e funcionários para ajudar.
O extensionista Diovane Ferreira demonstra preocupação em relação à produção de leite no município: “Já está ocorrendo desistência da atividade. Produtores com perdas estão vendendo o que sobrou”, lamenta.
Enquanto ajuda no socorro imediato das famílias e criações e realiza o levantamento das perdas em todo o Estado, a Emater/RS-Ascar também tem apoiado o escoamento da produção, repassando orientações a respeito de crédito e de outras necessidades possíveis aos afetados pela calamidade. A articulação local e regional é essencial para a manutenção das atividades produtivas.
Fonte: noticiasagricolas