O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, minimizou a divergência entre os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que decidiram – com uma margem apertada – reduzir a taxa básica de juros Selic em um ritmo menor do que o esperado. Na última quarta (8), quatro indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optaram por uma redução de 0,50 ponto percentual, enquanto que cinco diretores que estavam no BC antes, indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preferiram um corte menor, de 0,25.
Esta discordância gerou inquietações entre investidores e analistas, que temem possíveis interferências políticas na condução da política monetária. Há receio de que o próximo presidente do BC, a ser indicado por Lula ainda neste ano, possa adotar uma postura mais leniente em relação à inflação para alinhar-se aos interesses do Palácio do Planalto.
Em resposta a esses receios, Haddad disse que não concorda com esse tipo de avaliação. Ele diz acreditar que os conselheiros adotaram a prudência por uma “questão da ‘guidance’ [orientação] tenha sido a razão da divergência. Havia o compromisso de tirar o plural [do número de cortes previstos na taxa de juros] e repensar a trajetória a partir de novos dados”, disse Haddad em entrevista ao Estadão publicada na noite de quinta (9).
Haddad diz considerar que a divergência que
levantou preocupações com a autonomia do BC “é uma leitura superficial e
ideológica”, e diz considerar que as pessoas indicadas pelo atual governo “são
iguais ou melhores do que as que saíram, do ponto de vista técnico e não tenho
dúvidas que eles vão aportar um excelente trabalho”.
O ministro evitou comentar sobre a sucessão do
atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, no final do ano, destacando que o
próximo presidente será indicado por Lula. Entre os nomes mais cotados está o
de Gabriel Galipolo, que foi seu secretário-executivo no ministério e indicado
por ele, no ano passado, para o comitê.
Fernando Haddad ainda reiterou a oposição à
proposta de autonomia financeira do BC em tramitação no Senado, defendendo o
reajuste de servidores como uma solução para o impasse.
“Há alguma polêmica em torno disso, inclusive
entre os funcionários. Engraçado falar de autonomia agora como se o BC não
tivesse ficado sete anos sem reajuste e isso não tivesse penalizado a
instituição fortemente. Nós estamos nos incomodando com esse assunto”, apontou.
Ele afirmou, ainda, que as conversas sobre a autonomia financeira do BC estão em andamento “sem preconceito e nas instâncias corretas”, e que a questão deve ser resolvida de “forma institucional”.
Fonte: gazetadopovo