O Salão do Automóvel não é realizado desde 2018. E pode não acontecer tão cedo, se depender apenas das marcas de carros. Ainda que o evento seja um dos mais populares do país, com perspectiva de injetar centenas de milhões de reais em São Paulo, as fabricantes não encaram um eventual retorno com entusiasmo.
Nem mesmo as recentes falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou até a vontade da associação das fabricantes, parece ter animado o setor. Autoesporte procurou as 27 empresas, que representam as mais de 30 marcas de carros que atuam no Brasil com uma pergunta simples: há interesse em um evento como o Salão do Automóvel?
De cara, Volkswagen, Hyundai, Renault e Audi disseram que não comentariam o assunto. Outras cinco marcas sequer responderam o contato (Honda, Ford, BMW, Volvo e Seres).
Um grupo maior, composto por seis empresas, responderam que ainda não avaliaram, não pensam em avaliar ou não têm uma posição em relação ao assunto. São elas: Nissan, Caoa (responsável pelas marcas Caoa Chery e Subaru), Jaguar Land Rover, Porsche, Kia e Via Itália (importadora da Ferrari, Lamborghini, Rolls-Royce e Maserati.
Sete fabricantes avaliam a possibilidade de participar do evento. Podemos enumerar a Stellantis (proprietária das marcas Fiat, Jeep, Citroën, Peugeot e Ram), Chevrolet e BYD, além de Mercedes-Benz, HPE (responsável por Mitsubishi e Suzuki) e marcas chinesas que ainda nem chegaram ao Brasil, como Zeekr e Neta.
Por fim, apenas GWM, Toyota e Omoda Jaecoo dizem ter interesse em participar de um evento do tipo — pouco mais de 10% das marcas ouvidas. Isso não significa que elas já tenham confirmado presença em um novo Salão do Automóvel. Confira o posicionamento de cada marca ao final da matéria.
Outras marcas já descartaram participação, como a Jac Motors e a UK Motors (responsável por Aston Martin e McLaren no Brasil). Confira abaixo o posicionamento de cada fabricante.
A falta de um posicionamento claro das marcas pode ser explicado pela incerteza em relação ao evento. No início de 2022, já com a pandemia arrefecida, Anfavea e RX (antiga Reed Exhibition Alcantara Machado) anunciaram o São Paulo Motor Experience, com previsão de realização em agosto daquele mesmo ano.
Menos de dois meses depois o evento foi cancelado, e o assunto ficou esquecido até o final de 2023, quando o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, afirmou que as conversas entre as fabricantes e a RX estavam avançadas. O executivo prometeu que o Salão do Automóvel de 2024 seria realizado em novembro.
Mais recentemente, durante o Salão de Pequim, um novo cronograma surgiu apontando que o evento poderia acontecer em março de 2025, no Pavilhão do Anhembi. O discurso foi reforçado com uma fala do presidente Lula sobre o assunto em abril:
“Eu mesmo adorava visitar, ver a inovação tecnológica dos carros e ônibus. É uma oportunidade para que o nosso ministro de Indústria e Comércio convide ministros de outros países… Isso se chama negócio” completou Lula.
Nem mesmo o apelo do presidente parece ter mudado a ideia das fabricantes. Ainda que nenhuma tenha falado abertamente, há uma razão muito clara para que o retorno do Salão do Automóvel não tenha sido consumado: os custos elevados e a falta de perspectiva de arrecadação com a venda de carros. Em 2020, ou seja, quatro anos atrás, participar do evento custava, no mínimo, R$ 5 milhões. Em muitos casos, essa soma é boa parte do orçamento de marketing das empresas.
Mesmo que uma mostra como essa possa atrair milhares de clientes, a falta de garantia de fechar um negócio e as atenções divididas com rivais acabam afastando as fabricantes.
Dois tópicos jogam a favor da retomada do Salão do Automóvel. O primeiro é a chegada em massa de novas marcas chinesas. Dispostas a apresentar seus produtos, podem acabar, ainda que indiretamente, puxando de volta empresas mais tradicionais. “Para as chinesas, é uma vitrine para mostrar que seus veículos eletrificados têm qualidade”, disse Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato do Brasil.
A segunda razão é que o Brasil vive o maior ciclo de investimentos da história, com quase R$ 80 bilhões anunciados para os próximos anos. E os primeiros frutos desses aportes chegam no ano que vem. É o caso dos SUVs compactos Toyota Yaris Cross, Honda WR-V e o Volkswagen A0.
Audi: “Não vamos nos pronunciar sobre o tema”.
BMW: Não se pronunciou até o fechamento dessa reportagem.
BYD: “A BYD tem avaliado todas as oportunidades e propostas e está avaliando a participação nos principais eventos do setor automotivo”.
Caoa (Caoa Chery e Subaru): “Não temos informações ainda para um posicionamento”.
Chevrolet: “A General Motors está acompanhando os movimentos sobre o retorno do Salão do Automóvel, assim como outros grandes eventos que acontecem em várias partes do Brasil’’.
Ford: Não se pronunciou até o fechamento dessa reportagem.
GWM: “A GWM tem interesse em participar do Salão, mas ainda não existem conversações sobre o tema”.
Honda: Não se pronunciou até o fechamento dessa reportagem.
HPE (Mitsubishi e Suzuki): “Toda fala de um chefe de Estado sobre o nosso segmento deve ser levada em consideração. Estamos avaliando todas as possibilidades”.
Hyundai: “Sobre o possível Salão em 2025, a Hyundai não vai comentar o assunto no momento”.
Jac Motors: “Por enquanto, a JAC não tem interesse em retornar ao Salão”.
Jaguar Land Rover: “A JLR ainda não tem uma posição sobre o assunto”.
Kia: “Por enquanto a Kia não pretende colocar o tema em pauta”.
Mercedes-Benz: “Estamos aguardando uma definição formal sobre o formato, local, datas e custos de um possível retorno desse tipo de evento. Globalmente, a Mercedes-Benz tem focado em outros formatos de exposição em lugar dos tradicionais AutoShows. Mas estamos dispostos a ouvir e estudar propostas e assim poder definir nossa participação”.
Neta: A empresa afirmou estar de olho nas movimentações sobre o assunto.
Nissan: “A Nissan está sempre avaliando participações em eventos, sejam feiras agrícolas ou exposições, mas, no momento, não tem definição sobre esse tema”.
Omoda Jaecoo: “A O&J vê com bons olhos a possibilidade do retorno do Salão do Automóvel de São Paulo, desde que as condições de organização do evento estejam alinhadas com nossos objetivos comerciais. Estamos abertos a ouvir a proposta do organizador e entender se há uma conexão sólida com aquilo que buscamos para maximizar o valor para a empresa e nossos futuros clientes. Acreditamos que a reinvenção do evento com foco em experiências significativas para o consumidor pode trazer benefícios mútuos para todas as partes envolvidas”.
Porsche: “Infelizmente não temos uma posição sobre o tema, visto que ainda não recebemos ainda nenhuma informação oficial ou confirmação sobre a realização do evento”.
Renault: “Assunto discutido no âmbito da ANFAVEA. Não vamos comentar. Tem que perguntar para a Anfavea”.
Seres: Não se pronunciou até o fechamento dessa reportagem.
Stellantis (Fiat, Jeep, Citroën, Peugeot e Ram): “A Stellantis continua analisando a possibilidade de participar do evento”.
Toyota: “A Toyota é favorável à realização de eventos para expor produtos e tecnologias, especialmente nossos veículos equipados com a tecnologia inovadora híbrida-flex, produzida localmente, que são os principais protagonistas em eletrificação no Brasil. Neste momento, ainda não foi confirmada a realização do evento em 2024. Uma vez definida a data e potenciais participantes, avaliaremos e decidiremos sobre nossa adesão”.
UK Motors (Aston Martin e McLaren): “A princípio, não estamos planejando participar do Salão. Nosso foco está em oferecer experiências diferentes aos nossos clientes”.
Via Itália (Ferrari, Lamborghini, Maserati e Rolls-Royce): “Não paramos para pensar nisso ainda”.
Volkswagen: “A Volkswagen ainda não comentará sobre esse tema”.
Volvo: Não se pronunciou até o fechamento dessa reportagem.
Zeekr: A empresa afirmou estar em análise do tema, pois precisa avaliar os custos e o retorno.
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Fonte: direitonews