Não cabe a nenhum veículo de comunicação questionar o número de pesquisa eleitoral. Este trabalho seria visceral e próprio de quem é leigo em matéria de estatísticas.
Aqui vão alguns questionamentos que precisam ser respondidos para validar ou desconsiderar o resultado da pesquisa de tendência de voto em Rondonópolis divulgada nesta quinta-feira pelo instituto Percent Brasil.
Divulgada na imprensa e nas redes sociais com o clima do ‘já ganhou’, a amostragem omite o resultado obtido na pesquisa espontânea, que se resume a uma pergunta feita aos entrevistados e não é dada nenhuma alternativa para resposta.
Esta pesquisa serve para medir a lembrança da pessoa que participa do levantamento e a importância que eles dão aos questionamentos.
O percentual de indeciso serve para abalizar o resultado encontrado na pesquisa estimulada.
Se na pesquisa espontânea o percentual de indeciso seja de 50%, a título de exemplo, o pré-candidato que obteve 20% na estimulada, deve se concluir que ele teve 20% entre os 50% que já decidiram seu voto.
Thiago Silva – No comparativo com outras pesquisas do mesmo instituto Percent, em agosto de 2023, Thiago Silva obteve 29,3, oscilou na margem de erro de 4% para mais ou para menos, em dezembro de 2023, quando teve 34,8 e oscilou ainda dentro da margem de erro para 37,2% na pesquisa desta quinta-feira com 37,2.
Cláudio Ferra – Na pesquisa de agosto de 2023, ele tinha 8,2%, em dezembro foi a 12%, oscilando dentro da margem de erro. Já em abril, ele pulou para 18,2%. Um salto de 6,2%. Da série de três pesquisas, Cláudio foi o único que efetivamente registrou crescimento acima da margem de erro.
Pesquisa engavetada
O Percent informou ao TSE que a pesquisa teria início no dia 16 de março de 2024, com término no dia 19 de março de 2024 e divulgação no dia 04 de abril de 2024.
Se de fato a sondagem foi concluída no dia 19 de março porque ficou engavetada durante 16 dias?
Esta pergunta exige resposta.
Contratante da pesquisa
O Percent informou à justiça eleitoral que o próprio instituto bancou a pesquisa a um custo de R$ 10 mil. Vale registrar que o capital social do instituto declarado à Receita Federal é de R$ 49.800,00.
De acordo com informações colhidas pela reportagem junto a especialistas, para fazer 600 entrevistas no prazo de três dias seriam necessários no mínimo 15 entrevistadores, sendo que cada entrevistador deveria cumprir uma cota diária de 20 entrevistas.
Cada questionário a um preço de R$ 10 implicaria um custo de R$ 6 mil.
Hospedagem para 15 entrevistadores, transporte e alimentação não ficaria por menos de R$ 10 mil.
O Percent informou também à justiça eleitoral que são checados, no mínimo, 30% dos questionários de cada pesquisador.
Os grandes institutos checam em média 20% dos questionários, mas o Percent foi além.
Para fazer esse trabalho existe a figura do verificador, do coordenador e supervisor da pesquisa.
Considerando preço de mercado, esses profissionais teriam juntos um custo de aproximadamente R$ 6.100,00.
Quando do registro (aviso de pesquisa), o Percent não apresentou o arquivo de bairros, segundo consta no portal do TSE.
A relação de bairros foi acrescentada após a realização da pesquisa.
É preciso requerer ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT) o relatório, planilha, material da coleta e os questionários para identificar quantos entrevistados foram ouvidos em cada bairro e para aferir se de fato 30% dos questionários foram checados.
Enquanto essas dúvidas não forem esclarecidas, a pesquisa Percent realizada em Rondonópolis deve ser vista apenas como uma enquete ou um simples relatório.
Outro lado
A reportagem não conseguiu fazer contato com o responsável pelo Percent para ouvir sua manifestação, caso tenha interesse em comentar a matéria, o espaço segue aberto.
Fonte: abroncapopular