Conheça os 4 obuseiros finalistas em compra bilionária do Exército brasileiro


O Exército brasileiro está chegando ao fim do processo licitatório do Projeto Viatura Blindada de Combate Obuseiro Autopropulsado 155mm sobre Rodas (VBC OAP 155mm SR), para a compra de 36 veículos.

Quantos obuseiros têm o Exército brasileiro?

A artilharia do Exército brasileiro conta atualmente com 170 obuseiros autopropulsados.
A ideia, segundo Fabricio Avila, doutor e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), é substituir 37 antigos modelos M109 de geração A3 e A2, que foram produzidos ente 1972 e 1979.

“O Brasil não vai substituir as 170 viaturas que perfazem a nossa artilharia de obuseiros autopropulsados. Vamos substituir somente os 37 do modelo A2/A3, que são os mais antigos e estão no fim de tempo de serviço.”

Com recursos oriundos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), o Exército prevê um gasto estimado de US$ 5 milhões por veículo (R$ 24,8 milhões). Com 36 unidades, espera-se que o valor total da compra seja de US$ 180 milhões (R$ 900 milhões), além de um acréscimo de 15% a 20% com treinamento de pessoal.

Qual o melhor obuseiro do mundo?

Todos os quatro modelos finalistas na licitação do Exército brasileiro, afirma Luciano Veneu, bacharel em relações internacionais pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC) da Escola de Guerra Naval (EGN), cumprem os requisitos operacionais absolutos (ROA) determinados pelo Exército brasileiro como:

Utilizar o calibre de 155 mm no armamento principal, conhecido como padrão OTAN. Este também deverá ter comprimento igual ou superior a 52 calibres;

Ter alcance de, no mínimo, 20 km para munições normais e 30 km para munições assistidas por foguetes;

Atingir uma velocidade de 70 km/h com autonomia de 500 km sem a necessidade de reservatórios de combustíveis complementares;

Ter proteção contra projéteis de calibre 7,62 × 51 mm;

Ser capaz de iniciar disparos em menos de três minutos após chegar ao local, prática conhecida como scoot-and-shoot;

A cadência deve ser de pelo menos quatro tiros por minuto;

Deve estar com uma linha de produção consolidada.

Além disso, destacam os especialistas, faz parte do contrato a transferência de tecnologia para a produção local da munição de 155 mm, uma capacidade que o Brasil ainda não tem.
Sob as mãos da estatal Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), ganhará esse conhecimento e poderá ficar autossuficiente nesse quesito.

Quais as vantagens e desvantagens de cada obuseiro?

O Exército possui ainda outros requisitos não desclassificatórios, mas que com certeza farão a diferença na hora de escolher o obuseiro que melhor se adéqua às necessidades brasileiras. Por exemplo, a capacidade de ser transportado nos aviões cargueiros KC-390 da Embraer, no Hércules C-130 e ter efetividade no campo de batalha comprovada.
Dessa forma, detalhes de cada modelo e da negociação com cada empresa serão os grandes diferenciais. Reuniões estão previstas para acontecer na próxima semana no edifício da Chefia de Material do Comando Logístico do Exército, em Brasília, Distrito Federal.
Na segunda-feira, 18 de março, o Exército brasileiro deve se encontrar com representantes da Norinco e, no dia seguinte (19), com a Elbit. Na quarta-feira (20), a reunião será com representantes da Nexter e, na quinta (21), com a Excalibur.
Veja abaixo as principais características dos obuseiros que concorrem na licitação do Exército brasileiro.

Obuseiro chinês Norinco SH-15

O SH-15, obuseiro sobre rodas da chinesa Norinco, tem vantagens e desvantagens muito claras, demonstram os analistas.
Em primeiro lugar, aponta Avila, a China “tem uma grande produção e pode atender ao nosso mercado muito rapidamente“. Já Veneu ressalta o preço do veículo, que “custa por volta de metade das outras viaturas”. “Mas o Exército já falou que dinheiro não vai ser um problema nesse quesito”, destacou.
Em termos de armamento, o SH-15 possui um grande diferencial com sua munição estendida, que alcança os 72 km de distância, diz Avila. “Isso é muito interessante, mas cabe saber se o Brasil vai ter condições de produzir essa munição aqui.”
Uma desvantagem do modelo chinês é, contudo, que este foi comissionado somente em 2019. “Ou seja, tem pouco tempo de desenvolvimento e, principalmente, pouco tempo em combate“, sublinha Avila.
Além disso, pesando 25 toneladas, ele não seria compatível com transporte pelos aviões KC-390, que tem uma capacidade máxima de 22 toneladas, nem pelos Hércules C-130, que comporta 19 toneladas.

Obuseiro israelense Elbit Atmos

Conforme a descrição dos analistas, o Atmos, da Elbit, seria um dos modelos favoritos na licitação do Exército.
Comissionado pela primeira vez em 2001, segundo Avila, “tem se provado no Oriente Médio e em outros lugares”. “Está sendo utilizado agora no conflito em Gaza“, destaca Veneu.
O obuseiro israelense também pode ser operado por uma equipe menor do que os demais, necessitando de apenas quatro tripulantes, ressalta Avila. Seu sistema de disparo também é mais rápido do que os concorrentes, podendo atirar até oito tiros por minuto. “Uma cadência alta com precisão muito grande”, afirma Veneu.
© Foto / Divulgação / Elbit SystemsObuseiro Atmos, da Elbit Systems

Obuseiro Atmos, da Elbit Systems - Sputnik Brasil, 1920, 14.03.2024

Obuseiro Atmos, da Elbit Systems
Em termos de transporte, consegue ser carregado pelo avião KC-390, garantindo mobilidade maior em seu emprego pelo território nacional. Por outro lado, “por ser de uma tecnologia um pouco mais antiga, o alcance máximo da munição que ele utiliza já cai para 41 km“, diz Avila.
Para Veneu, contudo, o modelo pode estar um pouco desfavorecido devido ao abalo das relações diplomáticas entre Brasil e Israel. O Exército brasileiro já afirmou que isso não entrará em sua avaliação na escolha do obuseiro, “mas os israelenses têm que falar a mesma coisa, tem que concordar tanto aqui quanto lá”.

Obuseiro francês Nexter Ceasar

O Ceasar, da Nexter, é outro obuseiro que desponta como favorito no processo do Exército brasileiro.
Para começar, a peça de artilharia francesa também tem uso comprovado em combate, “atualmente sendo usado pelas forças ucranianas no conflito contra a Rússia”, sublinha Veneu.
Com início de produção em série em 2004, diz Avila, “tem uma trajetória de combate e aprimoramento.”
Assim como o modelo israelense, este também pode ser transportado pelos aviões KC-390.

“Para um país do tamanho do Brasil, apesar de não ser requisito obrigatório, isso pode ser definidor“, comenta Veneu.

© Divulgação / KNDSObuseiro Caesar, da Nexter KNDS

Obuseiro Caesar, da Nexter KNDS - Sputnik Brasil, 1920, 14.03.2024

Obuseiro Caesar, da Nexter KNDS
Outra vantagem, segundo Avila, é que o modelo é capaz de carregar até 36 projéteis em seu chassi, em comparação com 27 do Atmos e do SH-15.
Por fim, destaca Veneu, o histórico de cooperação militar entre Brasil e França pode pesar na escolha do Exército brasileiro.

“Essa boa relação do Brasil com a França na área de defesa, com a transferência de tecnologia francesa para o Brasil já acontecendo há várias décadas”, disse. “É só lembrar do Riachuelo, submarino brasileiro que é derivado do Scorpene francês.”

Obuseiro eslovaco Konstrukta Zuzana 2

Entre os quatro finalistas, o Zuzana 2, da Konstrukta, é o mais avançado e tecnológico, destacam os especialistas, mas isso não quer dizer que ele seja o mais adequado ao que o país quer e precisa.
“O modelo eslovaco é o que possui a melhor capacidade de instalação para o primeiro disparo”, sublinha Veneu. Isso quer dizer que do momento que ela entra em posição até efetivar o primeiro tiro, essa é a peça de artilharia mais rápida entre as avaliadas. “Ela consegue fazer isso em menos de um minuto”, disse.
© Foto / Divulgação / KonstruktaObuseiro Zuzana 2, da Konstrukta

Obuseiro Zuzana 2, da Konstrukta - Sputnik Brasil, 1920, 14.03.2024

Obuseiro Zuzana 2, da Konstrukta
O obuseiro também consegue carregar até 40 projéteis e tem recarga automatizada, diferentemente dos demais, que são “semiautomáticos”, ou seja, exigem um municiador alimentando o braço de recarga.
Em termos de emprego em combate, o Zuzana 2 já conta com uma linha de produção estabelecida e reconhecimento em combate, tendo sido enviado para auxiliar o lado ucraniano em seu conflito com a Rússia.
O obuseiro da Konstrukta conta ainda com a melhor proteção para a tripulação. Não só ela é resistente a munições de calibre .762, como também resiste a disparos de .50 e tem proteção contra armas químicas, biológicas, radiológicas e nucleares, chamada de QBRN.
“A tecnologia é muito avançada”, diz Avila, “mas cada arma vai ter um tipo de emprego”.

“Então não importa ter o superarmamento supersofisticado, mas em compensação a aquisição dele vai demandar um treinamento maior da tropa, uma demora maior na manutenção e até na fabricação, o que não nos atenderia.”

Tanta tecnologia acaba tendo um peso, tanto literalmente quanto no seu preço. O modelo não só é o mais caro dentro dos obuseiros em consideração, como tem um peso de 33 toneladas, o que impede seu transporte pelo avião KC-390.

Por outro lado, destaca Avila, “em termos de transferências e tecnologias, a Excalibur Internacional é a empresa que está mais propensa a fazer esse tipo de parceria com o Brasil. Isso aí é um dado interessante de todas as que mais estão buscando parcerias até para ela também se desenvolver no mercado”, concluiu.

Fonte: sputniknewsbrasil

Anteriores Ensino do sexto ao nono ano exige mais atenção para evitar repetência
Próxima Luverdense quebra própria marca e estabelece novo recorde de público no Mato-grossense