🌍 Quais são as metas e as prioridades da União Africana em 2024? Conversamos com @Ossago , professor de mestrado interdisciplinar de humanidade da Unilab; e Williams Gonçalves, professor titular de RI da @uerj_oficial. Ouça agora!https://t.co/2HD9kCAwOG
— Mundioka (@mundioka) January 19, 2024
“O crescimento econômico a longo prazo para a África é heterogêneo e em diferentes regiões do continente vai apresentar essa dimensão também. Então, o Brasil, retomando esse nível de cooperação, é de grande mais-valia tanto para a África quanto para o Brasil e para a sua diversidade em termos de política externa.”
“A maioria dos países dessa região deve apresentar um crescimento mais elevado […], o que deve ser impulsionado pelas suas estruturas na produção relativamente diversificada. Com queda de preço de commodities, esses países situados nessa região tendem a vender mais.”
“Do ponto de vista da África Ocidental, também tem muitos desafios macroeconômicos, alguns dos maiores em economia na região. O crescimento econômico tem sido projetado em sua estimativa de 3,8% em 2022, 3,9% em 2023 e 4,2% em 2024. Ou seja, essa perspectiva é favorável também. Reflete, assim, o maior crescimento econômico das economias menores nessa região da África Ocidental.”
Qual o interesse de outros países na África?
“Se falar do Brasil, da Rússia e da China, não podemos esquecer da cooperação que era feita anteriormente com o Norte Global a partir da Europa e parte da América do Norte. Por muito tempo, no período da Guerra Fria, inclusive, a África tem sido usada, tem sido tensionada. Os acordos e as cooperações não saíram como deveriam ser.”
“Então […] você precisa da África dentro dessas votações nos organismos internacionais, tanto na Organização Mundial de Comércio [OMC] quanto no próprio Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas], entre várias outras perspectivas.”
Qual o papel da União Africana?
“Eu acho que a União Africana teve um papel importante, preponderado, digamos assim, no período de luta pela libertação, no período colonial com os países. Mas, após isso, se perdeu. Por que eu falei que a União Africana se perdeu? Porque não consegue terminar metade dos conflitos internos da África”, diz Carvalho.
“Na verdade, a África do Sul é um importante ator estratégico dentro da concepção dessa relação Sul-Sul, principalmente quando falamos de BRICS. A África do Sul representa a África por conta da sua dimensão dentro do BRICS. Mas mesmo ainda, a África do Sul é vista como um país-colônia dentro do continente africano, por conta do seu processo histórico de colonização, ingleses, holandeses, bôeres [descendentes de colonos holandeses nascidos no sul da África] e grande parte da dominação de riqueza sul-africana é, de certa forma, ainda dos herdeiros das famílias reais que colonizaram e ficaram muito tempo [no país].”
O que diferencia os interesses de Brasil, Rússia e China na África?
“O caráter da relação do Brasil com a África e o caráter da relação de China, em primeiro lugar, e Rússia, em segundo lugar, são diferentes. A China tem uma política global, a Rússia vem um pouco atrás. O Brasil não tem essa política global para a África. Quando nós, brasileiros, falamos em África, falamos basicamente na África Ocidental e, mais especificamente, na África de expressão portuguesa. O tipo da nossa relação é, vamos dizer, mais modesto do que a da China e da Rússia.”
Qual o impacto da saída da França no Níger?
“A saída da França é muito significativa, porque, até algum tempo atrás, tanto a França como a Inglaterra ainda exerciam uma enorme influência sobre vastas áreas da África, a despeito das independências dos países africanos. A influência econômica, a influência cultural francesa, inglesa, mais francesa do que inglesa, continuava a ser muito grande. Nós poderíamos dizer que nada se passava na África sem que os franceses estivessem, de alguma forma, envolvidos, direta ou indiretamente envolvidos, mas isso tem mudado”, explica.
“A relação que a China, em primeiro lugar, e a Rússia, em segundo lugar, têm tido com a África tem permitido aos países africanos experimentar um crescimento econômico que nunca havia acontecido desde que se tornaram independentes dessas metrópoles europeias”, acrescenta.
“Isso tem sido muito difícil. Esse processo de construção da nação tem sido muito difícil. E nós temos que levar em conta o seguinte: a descolonização se deu durante os anos 60. Então, nós estamos falando de coisas que aconteceram 60 anos atrás. Veja que, na América Latina, nós nos tornamos independentes politicamente dos espanhóis e dos portugueses no início do século XIX, e nós temos problemas nacionais. A África, pode-se dizer, é muito recente. Esse processo é muito recente. Então, é, de certa forma, natural [que haja conflitos].”
Como é a atuação de Rússia e China na África?
“A China hoje é uma grande potência econômica e, por ser uma grande potência econômica, tem necessidades de importação de matérias-primas, importação de alimentos, importação de petróleo e precisa, portanto, conquistar parceiros, precisa conquistar países amigos para que essas necessidades suas sejam preenchidas”, afirma o especialista.
“A senha […] para ingressar no BRICS é ter um compromisso com a mudança. Muitos países queriam entrar no BRICS, mas houve um controle. E os países que entraram são países que têm esse compromisso com a mudança e são estratégica e economicamente importantes. Porque para mudar a ordem internacional não basta proferir discurso, é necessário ter uma prática, é necessário ter objetivos claros”, conclui o especialista.
Fonte: sputniknewsbrasil