Mídia: japoneses criticam ajuda de Tóquio a Kiev e dizem que necessidades internas são prioritárias


A ministra das Relações Exteriores do Japão, Yoko Kamikawa, fez uma viagem inesperada à Ucrânia no domingo (7) para assegurar a Vladimir Zelensky o compromisso contínuo de Tóquio em fornecer apoio financeiro à causa ucraniana.
Mas há uma aversão e um ceticismo crescentes entre o povo japonês em relação ao envolvimento da nação no conflito ucraniano.
Durante a sua viagem, Kamikawa garantiu à Ucrânia o apoio do Japão, prometendo 5,4 bilhões yuans (cerca de R$ 181,3 milhões) para um sistema avançado de detecção de drones e unidades extra de geração de energia.
A notícia atraiu uma atenção substancial nos meios de comunicação japoneses, na sequência do compromisso do primeiro-ministro Fumio Kishida, em dezembro passado, de 655,7 bilhões de yuans (cerca de R$ 22,01 bilhões) para a Ucrânia.
Embora uma pesquisa da GlobeScan realizada em outubro de 2023 tenha mostrado que 77% dos japoneses apoiavam a ajuda de seu país à Ucrânia, a opinião endureceu contra a nova promessa de Kamikawa.
As críticas populares aos gastos aumentaram significativamente na sequência do terremoto de magnitude 7,6, que atingiu a península de Noto no início do ano, causando mais de 202 mortes e deixando mais de 100 pessoas desaparecidas. Cerca de 30 mil evacuados estão alojados em escolas, com preocupações crescentes sobre potenciais surtos de doenças.
Um artigo recentemente publicado pela Jiji Press provocou uma onda de comentários negativos dos leitores sobre o apoio do Japão à Ucrânia.

“Por que você está indo para a Ucrânia agora? Você sabe o que está acontecendo no Japão neste momento? A área do desastre deve ser a mais importante. Deveria ser o momento da ministra das Relações Exteriores considerar seriamente e implementar contramedidas que ela possa experimentar, com base em sua própria experiência como alta funcionária do governo, visitando as áreas afetadas pelo desastre no terreno”, dizia um comentário.

Outro escreveu: “Hoje em dia, penso que não é apropriado que o primeiro-ministro e os ministros viajem para o estrangeiro e forneçam grandes somas de ajuda onde quer que vão, em vez [de priorizarem] o orçamento de contramedidas do desastre do terremoto de Noto“.
Sistema de defesa antiaérea Patriot - Sputnik Brasil, 1920, 27.12.2023

“O que você quer dizer com 5,4 bilhões de ienes para a Ucrânia? Deveria ser usado para as vítimas do terremoto de Noto antes de ser enviado para a Ucrânia. A administração Kishida valoriza mais a Ucrânia do que o seu próprio povo?”, escreve outro leitor.

Alinhando-se com os sentimentos dos republicanos nos EUA, um artigo publicado no Japan Today articulou que “isso é completamente louco e estúpido. Por que é que o Japão quer desperdiçar US$ 37 milhões [cerca de R$ 181 milhões] em uma guerra que não pertence ao Japão? […] Vejam o desastre do terremoto, os idosos, as crianças. O povo japonês precisa o mais rápido possível desses US$ 37 milhões em ajuda governamental, em vez do regime de Kiev”.
Outros comentaram que uma parte significativa da ajuda destinada à Ucrânia está sendo utilizada indevidamente por funcionários ucranianos corruptos. Um indivíduo disse ter evidências indicando que um alto funcionário da equipe de Zelensky investiu pesadamente em uma propriedade na Alemanha.

Um residente no Japão, nascido na Ucrânia, que pediu anonimato, disse ao This Week in Asia que houve uma queda notável no apoio ao conflito entre os seus amigos japoneses. “A minha sensação é que eles estão ficando cansados de estarem envolvidos em algo que poderia durar muito tempo […]. Houve entusiasmo pela resistência no início, mas quando se torna uma luta longa e difícil, as pessoas tendem a pensar primeiro em seus próprios problemas”, disse ele.

Yakov Zinberg, professor de relações internacionais na Universidade Kokushikan, de Tóquio, notou uma mudança nas opiniões japonesas. Ele observou que muitos agora duvidam que a Ucrânia possa vencer e questionam o envio de ajuda a Kiev, especialmente com questões mais urgentes no Japão. Ainda de acordo com o especialista, esses sentimentos aumentaram notavelmente desde o terremoto, com críticas de que Tóquio não apoiou as áreas afetadas de forma adequada.

Fonte: sputniknewsbrasil

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